José Padilha está de volta ao Festival de Berlim, de onde saiu com o Urso de Ouro em 2008 por Tropa de Elite. 7 Dias em Entebbe, que não concorre a prêmios, fez sua gala na noite de hoje, no Berlinale Palast. Padilha fica no território que o consagrou, o thriller de tons políticos, mas, desta vez, com muito menos ação.
7 Dias em Entebbe baseia-se no caso real do sequestro de um avião da Air France, na rota Tel Aviv-Paris, em 1976. Os autores do ato foram membros da Frente pela Libertação da Palestina e da organização alemã Baader-Meinhof, que defendia uma revolução comunista. O avião com dezenas de israelenses a bordo (entre outras nacionalidades) foi desviado para Entebbe, em Uganda, então sob o comando do violento ditador Idi Amin Dada (vivido por Nonso Anozie).
O filme com roteiro de Gregory Burke (de 71: Esquecido em Belfast, que concorreu ao Urso de Ouro em 2014) procura ter uma visão multifacetada do evento. Os personagens principais são os dois sequestradores alemães, Wilfried Böse (Daniel Brühl) e Brigitte Kuhlmann (Rosamund Pike), mas o filme também mostra os palestinos (em especial Jaber, interpretado pelo marroquino Omar Berdouni), os políticos israelenses Shimon Peres (Eddie Marsan) e Yitzhak Rabin (Lior Ashkenazi), os reféns, em especial o engenheiro de voo Jacques Lemoine (Denis Ménochet), e os soldados encarregados da missão militar de resgate, liderada por Yonatan Netanyahu, irmão do atual primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu.
Padilha, que se cercou de colaboradores habituais, como Lula Carvalho na direção de fotografia e Daniel Rezende na montagem, está interessado em mostrar as motivações por trás de uma situação tão complicada. Nem mesmo as razões do envolvimento dos palestinos e dos alemães são as mesmas, como deixa claro um diálogo entre Böse e Jaber. Peres e Rabin eram defensores de posições opostas: o primeiro, na posição de Ministro da Defesa, queria mais dinheiro para as Forças Armadas e uma solução militar para o caso, enquanto o segundo, primeiro-ministro, desejava mais orçamento para cultura e educação e negociações com os palestinos.
O que falta a 7 Dias em Entebbe é tensão e um pouco de ação também, que Padilha tenta compensar intercalando todos esses lados com a coreografia Echad Mi Yodea, de Ohad Naharin, um metáfora da migração de judeus e formação do Estado de Israel após a Segunda Guerra Mundial. Quando a ação acontece, funciona, como costuma ser nos trabalhos do diretor. Mas, apesar das boas intenções, falta um pouco de liga nas cenas com mais diálogos.