A mostra Leonardo da Vinci 1452-1519, realizada no Louvre, em Paris, na França, é resultado de um esforço multinacional que entrará para a história. Nunca nenhum museu havia realizado a façanha de reunir tantas obras-primas do maior e do mais famoso pintor da humanidade: 160, entre quadros, desenhos, esboços e páginas dos cadernos de Da Vinci. Trata-se de um acontecimento estupendo.
O Louvre precisou ter muita fé na generosidade humana, aliás, para transformar a exposição em realidade. A mostra começou a ser planejada há dez anos, porém até os 45 minutos do segundo tempo pairavam dúvidas sobre o empréstimo de obras. Só um artista do porte de Da Vinci seria capaz de reavivar velhas rivalidades culturais, como se deu na hora de requisitar obras de museus da terra do pintor, a Itália. A coalizão populista que governou o país até meses atrás chegou a acusar a França de querer se servir de seus tesouros “como num supermercado”. Em um primeiro momento, a Justiça italiana vetou a ida do Homem Vitruviano, desenho que sintetiza a união entre arte e ciência. Mas a decisão foi revertida: o Homem Vitruviano viajou para o Louvre.
Agora, diante do acervo extraordinário que pode ser admirado junto pela primeira vez na história, os contratempos revelam-se miudezas irrelevantes. Da Vinci legou ao mundo não mais que dezoito quadros, dos quais dez estão na mostra francesa. Proprietário de cinco pinturas e 22 desenhos do artista — em razão de Leonardo ter morado na França, servindo ao então rei Francisco I —, o Louvre tem mais cacife que qualquer outro museu para realizar um evento assim. Trabalhos de Da Vinci raramente (ou nunca) saem das coleções que os abrigam.
A emoção é poder apreciar, lado a lado, criações que talvez nem o artista tenha visto juntas — como sua Santa Ana, obra-prima do Louvre, e a belíssima Madonna Benois, pertencente ao Hermitage, de São Petersburgo.