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Esotérico trambiqueiro, careca e barrigudo é o verdadeiro Herculano Quintanilha

O argentino José López Rega, que serviu de inspiração para Janete Clair conceber o protagonista de O Astro, não tinha nem metade da pinta de galã de Rodrigo Lombardi

Por Mariana Zylberkan
24 jul 2011, 14h01

Quase nada, ultimamente, tem mobilizado tanto a audiência do público feminino como as cenas românticas entre Herculano Quintanilha (Rodrigo Lombardi) e Amanda (Carolina Ferraz), no remake de O Astro, assinado por Geraldo Carneiro e Alcides Nogueira. Mas, é preciso dizer, o sex appeal que do protagonista que tanto atrai a audiência deve muito – ou quase tudo – ao ator que o interpreta. O verdadeiro Herculano Quintanilha, ou aquele que serviu de inspiração a Janete Clair nos anos 1970, não lembra em nada o bonitão da TV. Para conceber seu anti-herói sedutor, Janete foi buscar inspiração na Argentina, onde um sujeito careca, barrigudo e com fama de trambiqueiro havia conquistado fama como amigo íntimo de Isabel Perón, terceira mulher de Juan Perón (1895-1974), que governou o país nos períodos entre 1946 e 1955 e, posteriormente, de 1973 a 1974. Era o esotérico argentino José López Rega (1916-1989).

Conhecido como El Brujo (O Bruxo) entre os argentinos, José López Rega se especializou a utilizar seus controversos conhecimentos esotéricos para se aproximar de pessoas influentes. Foi dessa maneira que conquistou a amizade de Isabelita, em 1965, durante uma espécie de encontro esotérico-político de que ambos participaram. A partir disso, se tornaram amigos inseparáveis e Isabel o levou para Madri, onde Juan Perón estava exilado depois de deposto da presidência pelos militares, em 1955. Até esse momento, López Rega estava prestes a aposentar seu sonho de se tornar uma personalidade ligada ao poder. Aos 50 anos, policial reformado, ele era funcionário de uma firma de impressão que tinha acabado de sair da concordata. Largou tudo para se tornar assistente pessoal de Perón e sua mulher, em Madri.

“Ele conseguiu se enfronhar entre pessoas poderosas e se tornou o mordomo da casa Puerta de Fierro (Porta de Ferro), onde Perón morou até retomar o poder na Argentina, em 1973. Basicamente, López Rega tinha a missão de dispensar as visitas rejeitadas por Perón”, conta o jornalista argentino Marcelo Larraquy, autor da biografia López Rega (2002).

Francisco Cuoco e Rodrigo Lombardi: encontro de 'astros' no primeiro capítulo do remake
Francisco Cuoco e Rodrigo Lombardi: encontro de ‘astros’ no primeiro capítulo do remake (VEJA)

Bizarrices astrais – A aproximação com os poderosos valeu a pena. Perón o nomeou ministro do Bem-Estar Social quando voltou à Argentina, após o exílio. O presidente argentino tolerava a presença de El Brujo por causa da grande estima que Isabelita sentia por ele. “López Rega enfiou na cabeça de Isabelita que a transformaria em vice-presidente da Argentina para redimir o karma de Evita, que não pôde assumir o cargo em 1952. Para isso, durante a noite, ele levava Isabelita ao túmulo onde estava o corpo embalsamado de Evita e realizava uma espécie de cerimônia mágica. A ideia era transferir o espírito de Eva para o corpo de Isabel, a fim de lhe conceder a personalidade assertiva de Evita”, afirma Larraquy.

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Segundo o biógrafo, o ocultismo sempre foi assunto de interesse de López Rega, desde a juventude. Ele chegou a escrever alguns livros sobre o assunto, como Astrología Esotérica (Astrologia Esotérica), Conocimientos Espirituales (Conhecimentos Espirituais).

Mas sua trajetória acabou marcada por sua contundente atuação contra a influência do comunismo na América Latina. Após a morte de Juan Perón, López Rega fundou o chamado “esquadrão da morte”, responsável por sequestrar e assassinar centenas de militantes de esquerda na Argentina. “Neste momento, o peronismo estava contra os ‘marxistas infiltrados’, acusados por eles de subverter a essência do movimento político. Dessa forma, López Rega passou a se colocar no lugar de missionário para defender o peronismo”, diz Larraquy.

Um novo final – Apesar de servir de inspiração a Janete Clair, López Rega só se faz claramente presente na trama nos últimos capítulos, quando Herculano foge do Brasil e se torna conselheiro espiritual de um ditador latino-americano, final que não deve ter par no remake. “Na época, quando os militares dominavam diversos países do continente, esse enredo fazia mais sentido. Hoje, a realidade é bem diferente”, explica Nilson Xavier, autor de Almanaque da Telenovela Brasileira (editora Panda Books, 2007). Na versão 2011 de O Astro, deve ser mantida apenas a faceta esotérica de Herculano Quintanilha.

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