Terceiro filho de Bob Marley, o cantor jamaicano Ziggy Marley, de 52 anos, sempre foi apontado como sucessor natural do pai. Bastante próximo do Brasil, onde já fez diversos shows, Ziggy gravou recentemente com a banda de reggae brasileira Natiruts a música América Vibra, lançada nesta quarta-feira, 20. A faixa, que fala sobre união dos povos, conta com a participação da atriz mexicana Yalitza Aparicio, indicada ao Oscar em 2019 pelo filme Roma. Na música, ela declama versos em que prega que “não queremos muros, nós somos pontes”.
Ziggy conversou com VEJA por videoconferência de sua casa, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Ele falou sobre a música, claro, mas também revelou que sua primeira relação com o Brasil foi com o futebol de Pelé, que apreciava em casa junto com o pai. O artista falou ainda sobre a celebração dos 75 anos de Bob Marley em 2021, legalização da maconha e música brasileira. Confira:
Você tem uma conexão muito forte com o Brasil. Como foi gravar com o Natiruts? As bandas brasileiras dão seu próprio tempero ao reggae. Ninguém por aí simplesmente copia o que acontece na Jamaica: os artistas trazem a experiência brasileira para a música. Por isso, o reggae brasileiro é muito único e especial. Em razão da Covid-19, não conseguimos nos encontrar pessoalmente com o Natiruts. Fizemos tudo virtualmente. O Brasil tem uma vibe especial. Um tipo de ritmo, de alma e de espírito. É uma coisa profunda. Meu primeiro interesse pelo Brasil foi com o futebol, assistindo ao Pelé. Meu pai adorava futebol e a gente apreciava muito o Pelé jogando. Sempre amei assistir ao futebol brasileiro. Essa foi minha primeira conexão. Depois, quando visitei o Brasil para fazer shows, gostei da vibe das pessoas. Eu me senti em casa. É como se eu estivesse na Disneylândia.
Em 2021 se completarão quarenta anos da morte de seu pai. Vocês estão preparando alguma coisa especial para a data? Fizemos diversas homenagens pelos 75 anos do meu pai em 2020. Lançamos o livro Bob Marley: Portrait of the Legend, um monte de shows-tributo, além de uma série chamada Legacy no YouTube. Neste ano, ele faria 76 anos e tenho certeza que ainda estaria se divertindo.
Você se sente responsável pelo legado do seu pai? Não nesse sentido, porque quando você tem a consciência de que seu pai foi um cara gigante, ele não precisa de nenhum de nós para carregar suas ideias. Ele é maior do que todos. Os elementos da criação de sua música já estão postos. E, quando eu vejo esses elementos, tento segui-los. Eu tenho essa responsabilidade. Nós somos apenas um corpo e um espírito. Nós viemos da mesma fonte.
Você tem uma música favorita do seu pai? Essa é uma pergunta difícil. Eu tenho um álbum favorito: Survivor. Ele é o meu favorito porque eu ouvi várias vezes durante minha adolescência e na escola. Esse foi o álbum que me trouxe mais consciência e que me deixou mais atento para procurar a verdade. Esse disco é importante para mim não só pelo que ouvi e, sim, pelo que eu senti.
Na sua opinião, a popularidade do reggae aumentou ou diminuiu após a morte do seu pai? O reggae não é a minha música ou a música do Bob Marley. É a música do povo. Ele não é o nosso bebê. O reggae é de todo mundo. Quanto mais o reggae se espalhar, mais ele vai espalhar união e amor. Fico muito feliz de ver que ele se espalhou por todo o mundo, e levou junto também a palavra de Jah. É necessário que nossa música seja ouvida em todos os países, pois o reggae é o único ritmo que carrega uma mensagem para as pessoas, e isso é importante demais neste momento.
Você é um defensor da natureza. Como o reggae pode ajudar nessa conscientização? A natureza é o oxigênio. É o nosso sangue. As corporações estão destruindo a natureza. E se a gente não tiver cuidado com o que estamos fazendo, a natureza vai retomar o que é dela. Nós precisamos respeitar mais a natureza. Os políticos têm de fazer as coisas melhores, porque eles não fazem nada pelo povo. Tudo o que os políticos fazem é para eles mesmos. Eu não vislumbro nada mudando enquanto as pessoas não pressionarem por mudanças.
O Brasil tem atualmente um governo conservador que é contra a legalização da maconha. Diversos estados dos Estados Unidos e países da Europa já legalizaram a cannabis. Você acha que a legalização é um caminho inevitável? Sim, claro. É sempre errado prender as pessoas por causa da marijuana. Sempre é errado. Ela é uma parte da natureza. Algumas pessoas bebem álcool. Outras pessoas têm plantações de uvas para fazer vinhos. Mas algumas pessoas gostam de plantar algumas ervas. Todas as pessoas são responsáveis por suas ações. Então, demonizar a planta e botar as pessoas atrás das grades por causa disso é errado. A erva vai ser usada, sendo legal ou ilegal. Não é uma coisa que se possa parar.
Você continua fumando hoje em dia? Eu tenho um bom relacionamento com a maconha.