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‘Dentes’, do italiano Domenico Starnone, fala de macho em desconstrução

No livro, o autor aposta na investigação literária que definiu sua carreira

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 15 out 2022, 08h00

Nas ruínas de Pompeia, numa viagem em família, um garoto não se comove com a tragédia ocorrida ali há quase 2 000 anos. “Eu já tinha meus problemas”, pensa ele. As inquietações infantis passam pela relação com seu rosto: dentes incisivos avantajados lhe garantiam uma infinidade de apelidos maldosos. Ao voltar do passeio, o menino toma uma atitude drástica: cai deliberadamente com a boca no chão para se livrar da pecha de dentuço. Mas só uma lasquinha se vai. Décadas depois, em uma discussão por ciúme com a mulher, seu desejo enfim se realiza: ela atinge sua boca com um cinzeiro, e os incisivos se quebram. O ato de violência abre o livro Dentes, do italiano Domenico Starnone, que acaba de ganhar edição no Brasil.

Dentes
Laços

Publicada originalmente em 1994, a novela marca uma virada na escrita do autor, que ganharia fama mundial com o romance Laços, de 2014. Dotado de ironia fumegante, Starnone escreve sobre famílias que se escondem sob a aparência da perfeição. A partir de Dentes, ele passa a observar as agruras da dita masculinidade tóxica, sempre embaladas de forma tragicômica por eventos banais. “Meus livros retratam o enfraquecimento das certezas que definiam o que é ser um homem”, disse Starnone a VEJA.

DENTES, de Domenico Starnone (tradução de Maurício Santana Dias; Todavia; 176 páginas; 64,90 reais e 44,90 reais em e-book) -
DENTES, de Domenico Starnone (tradução de Maurício Santana Dias; Todavia; 176 páginas; 64,90 reais e 44,90 reais em e-book) – (./.)

Natural de Nápoles, o autor e professor de 79 anos passou a questionar esses padrões na juventude, na década de 60, com a ascensão de movimentos feministas: “Cresci nos moldes patriarcais, experimentei a crise do masculino, suas adaptações e autocríticas. Ainda é um processo em andamento”. Em Dentes, o protagonista, professor “Oico” — som que ele consegue pronunciar quando lhe perguntam seu nome após o acidente dentário —, é um pai ausente e um profissional mediano, que vive com Mara, ex-amante vertida em oficial. A busca por um dentista que arrume o estrago causado pela briga pauta a desventura do professor, enquanto o buraco na boca se manifesta como um vazio existencial mais amplo a ser preenchido.

Segredos

Na vida real, Starnone vive sob a sombra de uma mulher: a best-seller Elena Ferrante. Sua esposa, Anita Raja, é tida como o nome por trás do pseudônimo. Há quem diga, porém, que o próprio Starnone seria o autor das obras feministas de Elena. O italiano chegou a ironizar o boato, dizendo que Elena só escreve sobre mulheres que se lamentam. A piada reforçou outra teoria: a de que os livros de ambos seriam parte de um mesmo universo. O “homem Starnoniano”, como seus protagonistas são chamados, tem mais dúvidas do que certezas, trai e é traído — e lamenta suas inseguranças. São homens em permanente (re)construção.

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Publicado em VEJA de 19 de outubro de 2022, edição nº 2811

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