A cantora Demi Lovato acaba de engrossar o grupo de celebridades do pop que se jogou no caldeirão político americano. A ex-estrela da Disney, dona de músicas melancólicas e baladas românticas, lançou nesta quarta-feira, 15, a música Commander In Chief, uma crítica nada sútil ao atual presidente americano, e candidato à reeleição, Donald Trump, que encara o democrata Joe Biden na disputa presidencial de 3 de novembro. “Comandante no poder, honestamente, se eu fizesse as coisas que você faz, não conseguiria dormir”, dispara em um refrão da canção, composta em parceria com o cantor e compositor Finneas O’Connell, irmão de Billie Eilish.
Em entrevista à CNN, Demi contou que chegou a pensar em escrever uma carta aberta ao presidente com questões que permeavam sua mente, mas mudou de ideia. “Eu percebi que não queria escrever uma carta, mas que compor uma canção e lançá-la para o mundo seria uma forma de questioná-lo em público”, explicou ela, que canta embalada por uma melodia melancólica e vocais seguros. “Eu sou uma das sortudas, porque há pessoas em situações piores que já sofreram o bastante. Elas não sofreram o suficiente?”, questiona em um trecho. Nos versos que se seguem, Demi não hesita em responder à própria pergunta, e alega que isso não é suficiente para o “comandante no poder”, que nunca está satisfeito e segue “fechando sistemas para ganho pessoal, combatendo incêndios com panfletos e rezando por chuva”, canta em referência ao menosprezo de Trump sobre a temporada de incêndios nos Estados Unidos, tida como a pior em décadas.
Já no refrão, a cantora cita a pandemia, enquanto faz menção à fortuna do magnata. “Você ao menos sabe a verdade? Estamos em crise, as pessoas estão morrendo enquanto você enche os seus bolsos”, dispara depois de afirmar que não conseguiria dormir se tivesse as mesmas atitudes. “Nós continuaremos a nos ajoelhar enquanto você for o comandante no poder”, diz em referência ao protesto feito por Colin Kaepernick, jogador da NFL, em um ato contra o racismo, atitude vista com maus olhos por Trump e seus apoiadores.
Ouça a música:
O lançamento rendeu elogios nas redes sociais, mas também causou controvérsias. No Instagram, a cantora expôs o comentário de um seguidor que dizia-se envergonhado de ser um fã, já que a música fazia com que os admiradores que não compartilham da mesma opinião política sintam-se impedidos de ouvi-la, e isso poderia arruinar sua carreira. Em resposta, Demi afirmou que celebridades, como cidadãos, têm direito à uma opinião política, e não se importa com a dita “ameaça” à carreira. Questionada pela CNN quanto à possibilidade de reação de Trump, que costuma alfinetar seus opositores nas redes sociais, a cantora desafiou o presidente a fazê-lo a provar que ele é “exatamente quem eu disse que é na música”.
Na mesma leva de questões sobre as redes, Demi disse ter tomado uma decisão consciente quanto ao posicionamento, e citou Taylor Swit como exemplo de que haverá críticas independentemente de sua posição. “Por anos, ela [Taylor] foi massacrada por não se posicionar e defender algumas causas, e então ela se tornou superpolitizada e agora também há pessoas que não estão felizes com isso. Você precisa viver de acordo com o que é verdadeiro para você e, para mim, isso é usar minha plataforma para falar sobre o que acho errado”, analisou Demi.
A comparação faz sentido. Com o início bem sucedido no country, um meio tipicamente conservador, Taylor não costumava emitir opiniões políticas e chegou, inclusive, a ser acusada de apoiar Donald Trump, nas eleições de 2016, por manter-se neutra. Nos últimos anos, porém, colocou-se ao lado dos democratas nas eleições para o senado em Nashville, e declarou voto a Joe Biden no páreo de novembro, estampando uma das capas especiais da revista V Magazine sobre as eleições. Além dela, outras celebridades também deram rosto à publicação, como Mariah Carrey, Jennifer Lawrence, Janelle Monae, Chris Evans e até a jogadora da seleção americana Megan Rapinoe, que levou a bola de ouro como melhor jogadora na Copa do Mundo Feminina de 2019. Quem também se posicionou contra Trump na ala do pop foram os fãs da boyband coreana BTS, que se mobilizaram nas redes sociais e boicotaram o comício do presidente no dia 20 de junho – eles reservaram lugar para o evento, mas não compareceram, fazendo com que o presidente discursasse para uma plateia muito mais modesta do que era esperado.
Com Commander In Chief já disponível nas plataformas de streaming, Demi Lovato anunciou que a canção de protesto ganhará clipe ainda hoje, à meia-noite no horário de Brasília. Demi também se apresentará com a música pela primeira vez no Billboard Music Award, que será exibido nesta noite, à partir das 21h, no canal fechado TNT.