Líder do popular Foo Fighters e ex-baterista do mítico Nirvana, Dave Grohl tornou-se uma figura querida e respeitada no rock internacional. A extensa trajetória do músico é destrinchada em sua nova autobiografia, O Contador de Histórias (clique para comprar). A publicação será lançada no Brasil em 10 de janeiro pela editora Intrínseca e traz passagens marcantes na vida de Grohl, que vão de reflexões íntimas sobre música, carreira e família, até a trágica morte de seu colega de Nirvana, Kurt Cobain, em 5 de abril de 1994.
Em trecho do livro antecipado por VEJA, Grohl fala do dia em que recebeu e lidou com a notícia da morte de Cobain, que cometeu suicídio com um tiro na cabeça após várias overdoses de heroína. Confira:
“Empatia!”, escreveu Kurt no seu bilhete de suicídio, e houve momentos em que implorei do fundo da alma para sentir a dor que ele deve ter sentido. Queria sentir o desespero. Tentava fazer as lágrimas caírem dos olhos, amaldiçoando as porras dos muros tão altos que eu tinha erguido, já que eles me afastavam das sensações de que precisava de forma tão desesperada. Amaldiçoava a voz no telefone que me havia informado da sua morte apenas para desmentir em seguida e me deixar naquele estado de confusão emocional, sem ter como acessar a tristeza dentro de mim que precisava ser descarregada. O peso me empurrava para baixo, sabendo que o luto me consumia, mesmo estando enterrado tão fundo a ponto de estar fora do meu alcance. Estava entorpecido quando tudo que mais queria era sentir a cirurgia de que necessitava para me curar.
Às vezes ficava envergonhado por não conseguir sentir, mas acabei aceitando que não existe uma forma certa ou errada de luto. Não há livro didático, não há manual a que alguém necessitado de orientação emocional possa recorrer. Um processo desses não pode ser controlado, e ficamos desesperadamente à sua mercê. O jeito é se render quando ele dá as caras, não importa o quanto isso te assuste. Com o passar dos anos, aceitei isso. Até hoje, ainda sou acometido de vez em quando por aquela mesma tristeza profunda que me derrubou da primeira vez que me falaram que Kurt havia morrido.
Será que é o tempo que dita a intensidade do luto quando se perde alguém? O número de dias passados juntos é o que determina a relevância emocional, pura e simplesmente? Os três anos e meio em que conheci Kurt, uma janela de tempo relativamente pequena na cronologia da minha vida, moldaram e, de certa forma, ainda definem quem sou hoje. Eu sempre serei “aquele cara do Nirvana” e tenho orgulho disso.
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