Com seleção morna, Festival de Berlim tem poucos destaques
O site da VEJA elege os destaques da 67ª edição, que entrega seus prêmios na noite deste sábado
O 67º Festival de Berlim, que entrega os prêmios da competição na noite deste sábado, é famoso por privilegiar filmes com temas políticos e sociais. Por conta disso, tendem a ser mais sérios. Mas não foi exatamente o que aconteceu na edição deste ano, que até começou com o dramático “Django”, mas aos poucos foi revelando uma seleção com muitas produções tendendo ao cômico, mesmo falando de assuntos pesados, como “Toivon Tuolla Puolen”, do finlandês Aki Kaurismaki, o que deve ter agradado ao presidente do júri, o holandês Paul Verhoeven, muitas vezes incompreendido por causa do tom de seus filmes.
Outros trataram de questões sócio-políticas de maneira mais sutil, como Bamui Haebyun-eoseo Honja, de Hong Sangsoo, que fala de uma mulher querendo trilhar seu próprio caminho, doa a quem doer. A verdade é que não foi uma grande seleção, em termos da disputa do Urso de Ouro. Dos 18 longas-metragens em competição, apenas alguns eram realmente bons, e nenhum era excepcional. Não houve grandes bombas, mas várias das produções não mereciam disputar os prêmios. Alguns dos destaques vieram das programações paralelas, o que é bastante sintomático. O site da Veja elegeu os destaques:
Os 6 melhores filmes resumidos em uma frase:
1 – Call Me By Your Name, de Luca Guadagnino
A sensação de se apaixonar pela primeira vez, reproduzida na tela.
2 – Bamui Haebyun-eoseo Honja, de Hong Sangsoo
Uma mulher, sofrendo de amor, não tem medo de dizer o que pensa.
3 – Toivon Tuolla Puolen, de Aki Kaurismaki
A amizade improvável e cheia de momentos engraçados entre um refugiado sírio e um pequeno empresário.
4 – Una Mujer Fantástica, de Sebastián Lelio
Marina, mulher trans, mantém a dignidade ao ser desrespeitada frequentemente após a perda do namorado.
5 – No Intenso Agora, de João Moreira Salles
O que acontece quando a paixão – e a revolução – morre?
6 – The Lost City of Z, de James Gray
No início do século 20, explorador inglês quer provar que na Amazônia não moram apenas selvagens.
- A maior perda de tempo
Helle Nächte, de Thomas Arslan
O filme alemão não é exatamente ruim, mas sua trama batida – pai tenta se reconectar com o filho durante viagem – e a realização pouco inspirada fizeram com que fossem os 86 minutos mais irrecuperáveis do festival.
- Os temas da competição
Sonhos, refugiados, força feminina, machismo, o mal-estar com o mundo, jantares com momentos de verdade
- As revelações
Timothée Chalamet: de nome francês, o americano de Nova York de 21 anos vai bem nos momentos charmosos e nos dramáticos em Call Me By Your Name.
Isabel Zuaa: nascida em Lisboa, estudou artes cênicas no Rio de Janeiro, e interpreta Preta, uma escrava com o espírito rebelde e a dignidade de Nina Simone em Joaquim, de Marcelo Gomes.
- As melhores atuações
Daniela Vega: a atriz trans chilena trabalha com contenção em Una Mujer Fantástica.
Kim Minhee: a sul-coreana, que já tinha se destacado em A Criada, agora faz uma atriz sem medo de ser desagradável em Bamui Haebyun-eoseo Honja.
Chang Chen: o chinês de Taiwan faz um matador impassível que tenta se enquadrar numa vida normal em Mr. Long, filme de gângster-samurai-cômico-melodramático do japonês Sabu.
Mircea Postelnicu: o romeno interpreta um homem que deixa tudo de lado para cuidar da namorada, acometida por ataques de pânico, em Ana, Mon Amour.
- As cenas mais impactantes
Os cervos em Testrol És Iélekrol: as sequências de sonho, envolvendo um macho e uma fêmea numa floresta nevada, são das mais belas do festival.
O diálogo de pai e filho Call Me By Your Name: Perlman (Michael Stuhlbarg) conversa com Elio (Timothée Chalamet) sobre vida e paixão.
O rap do índio e do negro em Joaquim: um resumo da musicalidade misturada do Brasil.
O jantar em Bamui Haebyun-eoseo Honja: quando a personagem principal, Younghee (Kim Minhee), diz o que pensa na cara de todos.
O momento de fúria em Una Mujer Fantástica: Marina (Daniela Vega) finalmente vira bicho depois de dias de humilhação.
A entrevista em Toivon Tuolla Puolen: o sírio Khaled (Sherwan Haji) descreve, sem sentimentalismo, o calvário para escapar da guerra em seu país.
A vingança em Wilde Maus: Georg (Josef Hader) vinga-se do seu ex-chefe colocando um peixe morto em sua piscina.
O roubo do sapato em Vazante: o momento em que Beatriz (Luana Nastas) sela seu destino, escondendo, de brincadeira, o sapato de António (Adriano Carvalho), que não gosta de usá-los.
- O melhor diálogo
“Faça cócegas num aromaterapeuta e você encontrará um fascista”, diz April (Patricia Clarkson), sobre o marido alemão Gottfried (Bruno Ganz), chegado numa terapia alternativa.