Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Brincar com tijolos da Lego une pais e filhos na pandemia

Com mais tempo em casa, famílias voltaram a se divertir juntas — e as vendas das peças de encaixar dispararam

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h00 - Publicado em 9 out 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A pacata cidade dinamarquesa de Billund, atualmente com pouco mais de 6 000 habitantes, assistiu em 1932 ao nascimento de um mundo mágico. Naquele ano, o carpinteiro Ole Kirk Christiansen, insatisfeito com as vendas de sua loja de móveis e ansioso para proporcionar alguma diversão ao filho, decidiu se aventurar no ramo dos brinquedos. Christiansen começou de forma artesanal, com animais de madeira. Dois anos depois, a empresa ganhou um nome — a junção das palavras leg e godt, cujo significado é “brincar bem” no idioma local — e, no fim da década de 40, veio a revolução: a Lego começou a produzir tijolos de plástico, duradouros e encaixáveis uns nos outros, abrindo infinitas possibilidades para a imaginação de crianças e adultos.

    A brincadeira ficou séria e levou a empresa familiar à consagração internacional. Eleitos o brinquedo do século XX pela revista americana Fortune, os tijolinhos ainda hoje constroem sonhos e foram capazes até mesmo de driblar a crise do novo coronavírus. A marca, na verdade, viu no cenário uma oportunidade. Com pais e filhos obrigados a permanecer em casa, velhas diversões — mais lúdicas e socializáveis do que tablets ou videogames — se tornaram uma alternativa. Fenômeno semelhante ocorreu com os quebra-cabeças, cujas vendas em 2020 triplicaram, de acordo com a Ri Happy, a maior loja de brinquedos do país.

    Os alicerces sólidos fizeram com que o Grupo Lego obtivesse no primeiro semestre de 2020 um dos melhores resultados de sua história. As vendas aumentaram 14% em relação ao mesmo período de 2019, enquanto o lucro avançou 11%. Distribuidor oficial da Lego no Brasil, o Grupo MCassab informou a VEJA que o país acompanhou um “crescimento de dois dígitos”, acima do esperado para o ano. Seu mais recente lançamento, a linha Super Mario, está se esgotando. “Notamos os benefícios de nossos investimentos em iniciativas de longo prazo, como e-commerce e a inovação de produtos”, disse o CEO da Lego, Niels Christiansen.

    LEGO-2
    OBRA FEITA - Míni Nova York no parque Legoland, na Flórida (EUA), e carro de tijolos em Billund (Dinamarca): ícone de gerações – (Ritu Manoj Jethani/ShutterstockFrank Cilius/AFP)

    O caminho, porém, foi tortuoso. A pandemia levou ao fechamento por alguns meses de duas das cinco grandes fábricas da marca no mundo, no México e na China, o que obrigou os varejistas a recorrer ao estoque existente para atender à demanda. O mercado asiático foi fundamental: o lançamento do conjunto Monkey Kid, inspirado em uma lenda chinesa, obteve grande sucesso no país da Muralha, que deverá ganhar oitenta lojas oficiais da Lego ainda em 2020.

    Continua após a publicidade

    O novo coronavírus forçou a marca a acelerar planos que demorariam de dois a três anos para ser implementados. O número de visitantes do site dobrou para 100 milhões no primeiro semestre. Ao contrário das concorrentes Mattel e Hasbro, que relataram perdas operacionais e puseram a culpa no fechamento de lojas e problemas com distribuição e estoque, a Lego conseguiu garantir as entregas on-­line ao reforçar parcerias no varejo. De acordo com um estudo da consultoria britânica Brand Finance, a pandemia deve reduzir o valor de mercado das empresas do setor de brinquedos em até 20%, um prejuízo calculado em 3 bilhões de dólares. A Lego, no entanto, deve seguir como líder mundial, com queda de apenas 3%.

    O gigante dinamarquês repetiu em 2020 a notável capacidade de se reerguer — e fez isso tijolo por tijolo. No início do século, a empresa, que ainda pertence à família fundadora, quase foi à falência. Sem saber como concorrer com a onipresença de computadores e videogames, acumulou prejuízos de 200 milhões de dólares em 2003. No ano seguinte, com a troca do CEO, iniciou um plano de recuperação extremamente bem-sucedido, baseado na volta às origens: foco nos tijolos. Cortou 30% da mão de obra, reduziu os tipos de peças, eliminando versões semelhantes, e investiu em produtos licenciados como os da linha Star Wars, seu best-seller, além de outros ícones do mundo pop, como Harry Potter e Bob Esponja. Heróis como Batman e Homem-Aranha e modelos de carros como Bugatti e Ferrari também foram contemplados com versões criativas da Lego.

    A estreia do longa-metragem Uma Aventura Lego (2014), que obteve grande sucesso de bilheteria, foi um marco para o renascimento da marca. Hoje em dia, os brinquedos estão presentes em 140 países (desde 1986 no Brasil), e saem das fábricas da Lego 100 bilhões de peças todos os anos. Uma de suas virtudes, a longevidade dos tijolos, se tornou um problema ambiental — eles podem demorar até 1 300 anos para se decompor no mar. A Lego, então, se comprometeu a buscar materiais sustentáveis e já estreou uma linha à base de cana-de-açúcar.

    Continua após a publicidade

    Assim como a Apple, a Lego não atrai apenas clientes, mas fervorosos fãs, especialmente educadores. “A Lego tem a capacidade de unir a família e, sobretudo, estimular a criatividade das crianças”, diz a psicoterapeuta Fernanda Grimber. “Na pandemia, desenvolver a imaginação se tornou essencial para pais e filhos. Eu diria até que a Lego tem uma função terapêutica e ajuda a baixar a ansiedade.” Perto de completar noventa anos, a empresa nascida do sonho de um carpinteiro está cada vez mais ativa.

    Publicado em VEJA de 14 de outubro de 2020, edição nº 2708

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.