4.500 horas de imagens de 80.000 vídeos, enviados de 192 países, se transformaram em um filme de 90 minutos
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Em julho de 2010, o YouTube lançou em parceria com uma grande marca de eletroeletrônicos o projeto A Vida Em Um Dia, produzido pelos cineastas Ridley Scott (Blade Runner – O Caçador de Andróides) e Tony Scott (O Sequestro do Metrô 123) e dirigido por Kevin Macdonald, que tem no currículo o premiado O Último Rei da Escócia (2006). A ideia era tão simples quanto abrangente: pessoas deveriam filmar as suas atividades no dia 24 de julho daquele ano, se possível responder três perguntas (o que você tem no bolso, o que você ama, do que você tem medo) e remeter as imagens para um canal do site. A imensa colcha de imagens seria, então, costurada em um filme.
Em pouco mais de uma semana os irmãos Scott e o diretor Macdonald receberam 4.500 horas de imagens – o equivalente a 187 dias -, de 80.000 vídeos enviados de 192 países. Escolhidas as melhores filmagens, o projeto virou mesmo um filme e é um dos destaques do 16º Festival É Tudo Verdade. Antes de ser exibido em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde acontece o festival, A Vida Em Um Dia (Life In A Day, Estados Unidos, 2011) compôs a programação do Festival de Sundance, nos Estados Unidos, em janeiro passado, e tem lançamento previsto para julho deste ano.
É de se perguntar: a empreitada deu certo? Sim e não. Basta saber do volume de imagens recebidas para concordar que como uma ação promocional (em último caso é esse o projeto) foi um sucesso. Idem ao reforçar o papel agregador da internet. Milhares de pessoas tiveram acesso a uma informação e foram mobilizadas por ela. Acrescente um pouco de narcisismo (todos os escolhidos são listados como co-diretores) e a conta está fechada.
Ainda assim, é interessante, apesar de óbvio e um tanto piegas, saber que no momento em que uma criança nasce em São Paulo e o pai, emocionado, desmaia na sala de parto, um coreano completa nove anos de volta ao mundo em cima de uma bicicleta, enquanto cruza as Filipinas. Fatos sem conexão, unidos por um fio invisível – no caso, o do êxito. Há também filmagens muito tristes que igualmente são atraídas por outras do mesmo naipe. Mas a grandiosidade do documentário tem dois gumes.
A falta de enredo torna o filme enfadonho em alguns momentos. A sobreposição de imagens tem mais baixos do que altos e o clímax está concentrado em duas ou três histórias que são pouco exploradas. É o preço das limitações óbvias da ideia original. A Vida Em Um Dia ganha força quando aborda a consciência de finitude dos personagens, uma questão universal, colada às imagens do anoitecer daquele 24 de julho.
Resta ao espectador uma teia de sentimentos fragmentados. Curiosidade a respeito das vidas de alguns personagens, tédio em relação a outros, empatia com outro tanto, mas sem conectar à vida de algum deles com profundidade. Um dia é mesmo pouco para tanto.
Assista ao trailer no vídeo abaixo (em inglês)