Taylor Swift deu início na semana passada a um audacioso projeto jamais feito por qualquer artista. Com o objetivo de “recuperar o controle” de todas as suas canções, Taylor vai gravar novamente seus seis primeiros discos, cujos originais haviam sido comprados pelo magnata da música e desafeto da artista Scooter Braun. A primeira faixa dessas regravações, Love Story, já foi divulgada com o selo “Taylor’s Version”.
A pergunta que fica é: vale a pena? Se você for a Taylor Swift e quiser se vingar de alguém, sim. Mas, mesmo assim, a iniciativa só prosperou porque o mundo entrou em quarentena e os shows ao vivo também pararam, dando a artista tempo livre para retornar ao estúdio para refazer toda a sua obra. Mas Taylor é jovem e está no auge da sua criatividade. Se o mundo estivesse normal, para uma artista como ela, o ideal seria usar o tempo livre entre as longas turnês internacionais para compor e gravar novas músicas e, não, gravar tudo igualzinho outra vez. Acontece que Taylor também gravou materiais novos e inéditos. No ano passado, ela lançou dois novos e elogiadíssimos discos: Folklore e Evermore. E ainda tem mais um no gatilho prontinho para ser lançado quando ela quiser. Ou seja, ela realmente poderia se dar ao luxo de regravar tudo só para se vingar. “Esta é a única maneira de recuperar o orgulho que já tive de ouvir as músicas dos meus primeiros seis álbuns e também de permitir que meus fãs ouçam esses álbuns sem o sentimento de culpa de beneficiarem o Scooter”, disse ela em suas redes sociais.
A vítima de Taylor é Scooter Braun, ex-agente musical de artistas como Justin Bieber, Ariana Grande e Kanye West e que frequentemente criticava Taylor. Em agosto de 2019, ele comprou a empresa Big Machine Label Group, que detinha os direitos dos seis primeiros discos da artista, por estimados 300 milhões de dólares, enfurecendo Taylor. Sem a possibilidade de recuperar o controle daquelas gravações, ela pensou em uma estratégia que não funcionaria para qualquer um, porém seria perfeita para ela, que conversa diretamente com uma imensa e fiel base de fãs: pedir para o público parar de ouvir as gravações antigas (desvalorizando-as) e só ouvirem as novas. A estratégia deu certo em parte. Braun, ciente disso, vendeu o catálogo para um fundo de investimentos, mais uma vez sem consultar Taylor, e embolsou o lucro. Pelo menos, agora, ele não é mais dono das músicas da Taylor, o que não a impediu de dar prosseguimento em sua iniciativa.
Aqui, vale uma explicação sobre essas gravações. No mundo da música, os lucros com uma canção são divididos. Uma coisa é ganhar royalties da composição. Esse direito é inalienável e Taylor sempre ganhou como autora. Outra coisa é ganhar royalties da execução de uma gravação específica. Por exemplo, se um artista faz cover de uma música da Taylor, esse artista vai ganhar um tantinho de dinheiro referente àquela gravação específica, mas Taylor vai continuar ganhando pela composição. O que aconteceu com Taylor é que as suas gravações originais não lhe pertencem, mas nada impede que ela refaça as faixas. Para dar certo, no entanto, os fãs precisam parar de ouvir as faixas antigas nos serviços de streaming e as rádios também têm que parar de tocá-las, dando preferência às novas versões. Aí, entra o poder de convencimento de Taylor. E parece que está dando certo. Até quinta-feira, 18, a nova música já tinha sido executada 1,6 milhão de vezes no YouTube.
Em 2014, Taylor já havia provado seu imenso poder de fogo ao desafiar o Spotify. Na ocasião, ela removeu todas as suas músicas da plataforma indignada com o valor que o serviço de streaming pagava para ela. O Spotify sentiu o baque e passou a remunerar melhor não só Taylor, como todos os outros artistas.
Com o lançamento de Love Story, Taylor efetivamente dá início a sua vingança. Embora a regravação soe exatamente como a original, para os mais puristas, no entanto, é possível perceber que a voz de Taylor agora soa mais firme e assertiva e menos pueril do que na versão original. Para Taylor, ao revisitar seus antigos álbuns, ela faz uma excelente revisão de seus trabalhos anteriores e corrige eventuais falhas que aquelas músicas poderiam ter por terem sido gravadas por uma artista que ainda era imatura e em início da carreira. No final, todos só têm a ganhar.