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5 influências inescapáveis da Semana de 22 na vida do brasileiro

Da arquitetura de Brasília à apresentação de Rebeca Andrade nas Olimpíadas, herança do modernismo passa despercebida em coisas cotidianas

Por Amanda Capuano Atualizado em 11 fev 2022, 17h20 - Publicado em 11 fev 2022, 16h42

Entre 11 e 18 de fevereiro, a Semana de Arte Moderna de 1922, que remodelou a identidade artística brasileira, completa seu centenário. Na prática, a programação do mítico evento não chegou a ter uma semana completa – as atividades aconteceram nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro, período em que o Theatro Municipal de São Paulo abriu as portas do seu saguão para uma exposição de pintura e escultura que exibia obras de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, entre outros. As peças promoviam um então explosivo cruzamento da vanguarda europeia com elementos bem brasileiros. A sociedade ainda provinciana da época se escandalizou com cores e formas que fugiam da representação clássica. O burburinho aumentou durante os festivais, que incluíram apresentações musicais como a de Guiomar Novaes e declamações de poesias críticas ao parnasianismo, caso de Os Sapos, de Manuel Bandeira.

Um século depois, o Brasil passou por transformações intensas e a Semana de Arte Moderna parece uma lembrança distante rememorada pelos livros de história da arte. Seus efeitos, no entanto, estão presentes no dia a dia de forma indelével, ainda que muitas vezes acabem passando despercebidos – mas eles estão ali. A equipe de VEJA selecionou 5 influências da semana de 22 que até hoje marcam a vida dos brasileiros. Confira a seguir: 

Arquitetura

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Brasília, construída com arquitetura modernista (Atlantide Phototravel/Getty Images)

Para além da literatura e das artes plásticas, o espírito modernista é a seiva primordial do projeto da Brasília de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Inaugurada em 1960, a capital federal foi toda planejada seguindo o conceito modernista de brasilidade, com o intuito de passar ao mundo uma imagem de um Brasil desenvolvido, moderno e original. Na época, a cidade do Planalto Central se tornou um contraponto ao Rio de Janeiro, antiga capital, cujas construções, muitas delas remanescentes da corte portuguesa, ainda eram pautadas pela estética europeia. Além de brasília, construções de Niemeyer como o Edifício Copan, em São Paulo, e a Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, são marcos da arquitetura moderna que só surgiram graças ao rompimento com a estética clássica europeia propiciada pelo modernismo. A partir daí, construções comuns passaram a seguir pelo mesmo caminho, até se converterem na arquitetura contemporânea dominante que temos hoje.

Tropicália

Jorge Ben, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Gal Costa, Sergio Dias e Arnaldo Batista na estréia do programa
Jorge Ben, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Gal Costa, Sergio Dias e Arnaldo Batista na estreia do programa “Divino Maravilhoso”, da Rede Tupi (Paulo Salomão/VEJA)

Se você é daqueles que não tiram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão, Gal Costa e Os Mutantes dos seus mais ouvidos no Spotify, convive com as influências do modernismo diariamente nos fones de ouvido. Isso porque a Tropicália bebe das mesmas ideias sincréticas do modernismo brasileiro, em especial do movimento antropofágico lançado por Oswald de Andrade. Assim como a turma de 22, os tropicalistas buscavam desenvolver uma identidade nacional própria, a partir de um torvelinho de referências. Ambos, inclusive, trabalhavam com a ideia de “engolir” a cultura estrangeira e devolvê-la ao mundo reimaginada, como uma versão “genuinamente brasileira.”

Rebeca Andrade

Rebeca Andrade em sua última apresentação em Tóquio
Rebeca Andrade em sua última apresentação em Tóquio (Lionel Bonaventure/AFP)

Pode parecer estranho, mas a ginasta Rebeca Andrade tem tudo a ver com o modernismo. Explica-se: a Semana de Arte Moderna, capitaneada por artistas de elite, tinha como um de seus motes fazer uma arte mais popular, que se aproximasse das questões do povo, como o quadro Os Operários, de Tarsila do Amaral. Assim, o movimento pregava a mistura profana entre o popular e o erudito, o que nortearia, por exemplo, a busca de Villa Lobos pela brasilidade na composição musical. Essa mistura é personificada na apresentação de Rebeca durante as Olimpíadas de 2021, em que a ginasta se apresentou no solo com uma trilha sonora que mescla o clássico de Bach ao funk carioca.

Português como conhecemos hoje

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O poeta Manuel Bandeira, autor de “Os Sapos”, poema crítico ao parnasianismo declamado durante a Semana de Arte Moderna de 1922 (Arquivo/Reprodução)

Em 1922, fazia apenas 33 anos que a República havia sido proclamada no país, e o Brasil ainda era ainda muito ligado à cultura europeia, especialmente portuguesa. Isso se refletia também na linguagem, especialmente na literatura, escrita de maneira propositalmente rebuscada. Com o modernismo, capitaneado inicialmente pelo trio Mário e Oswald de Andrade e Manuel Bandeira, o português escrito passou a se aproximar da linguagem coloquial ouvida nas ruas, como um contraponto ao formal e pomposo parnasianismo. Assim, a literatura modernista acabou por validar o português tipicamente brasileiro, falado nas ruas, além de trazer como tema questões críticas e de natureza nacional. 

Patrimônio Cultural

Roda de Capoeira, organizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na Praça do Valongo, centro do Rio, celebra ao receber, da Unesco, o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade
Roda de Capoeira, organizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na Praça do Valongo, centro do Rio, celebra ao receber, da Unesco, o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade (Wilton Júnior/Estadão Conteúdo)

Em 1936, Mario de Andrade, um dos principais nomes do modernismo, criou o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o embrião do que se tornaria, tempos depois, o Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em seu projeto, Andrade inclui as manifestações da cultura popular como patrimônios que devem ser protegidos, expandido tal zelo não só a monumentos como igrejas e palácios, mas a bens intangíveis, como lendas, música e danças. Assim, hoje em dia, o modo mineiro de fazer queijo, as rodas de capoeira, o Círio de Nazaré, as baianas que fazem acarajé e até o frevo são preservados como patrimônio nacional. 

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