O aumento explosivo da demanda por rótulos premium de vinho no Brasil
O consumidor no país está exigente e disposto a gastar cada vez mais
Mesmo quem não é muito conectado ao universo dos vinhos percebeu que a bebida vem ganhando espaço na vida do brasileiro. Supermercados construíram adegas maiores, e-commerces dedicados à bebida surgiram nos últimos anos, clubes de assinatura conquistaram adeptos, cursos para todos os níveis de conhecimento atraíram milhares de fãs. Com o mercado mais maduro, é natural que os consumidores fiquem criteriosos na hora de escolher os rótulos e, no final das contas, busquem as melhores vinícolas. O fenômeno provocou um feito inesperado: pela primeira vez na história, falta vinho bom — e caro — para atender à demanda explosiva dos paladares mais exigentes.

O interesse por rótulos premium é resultado da notável popularização do vinho no Brasil, país conhecido principalmente por seu amor incondicional à cerveja. Dados apurados pela consultoria Wine Intelligence mostram que a quantidade de adultos que bebem vinho mensalmente dobrou desde 2010. Hoje em dia, 36% se dizem consumidores regulares, número semelhante ao dos Estados Unidos, mas ainda distante dos mercados mais sólidos da Europa, como Portugal, Espanha, França e Itália, em que a porcentagem chega a 70%. Há, portanto, espaço para crescer, embora a bebida já esteja devidamente integrada à mesa do brasileiro.
Diversos indicadores confirmam o movimento. De acordo com a consultoria Product Audit, as importações cresceram 4,6% de 2020 para 2021. A procura por rótulos mais caros, contudo, chegou a patamares surpreendentes. Na importadora World Wine, as vendas de garrafas com preço superior a 500 reais avançaram 34% (veja o quadro). Para especialistas, isso é reflexo do conhecimento adquirido pelos brasileiros nos últimos anos. “Nunca se bebeu tanto vinho no mercado nacional”, afirma Vicente Jorge, caçador de vinhos — sim, a atividade não só existe como tem atraído cada vez mais profissionais —, cuja atuação consiste em visitar vinícolas de diversas partes do mundo e selecionar rótulos que serão vendidos mais tarde no Brasil. “Nesse cenário, alguns segmentos tiveram ainda mais destaque. Foi o caso dos espumantes, em especial o champanhe.”
Marcas tradicionais, como a francesa Taittinger, têm demanda tão alta que, não raro, há falta do produto em estoques nacionais. Não é caso único. O chablis, tradicional vinho branco produzido com a uva chardonnay na região de Borgonha, na França, também caiu no gosto do brasileiro. Infelizmente, foi na hora errada. No ano passado, geadas afetaram os vinhedos e prejudicaram a safra. O resultado foi um estoque menor, com preços ainda mais altos. Neste ano, a situação está se repetindo e os produtores, desesperados, estão fazendo de tudo para não ter prejuízo igual. E vale tudo mesmo: de caminhões de ar quente a fogueiras acesas no meio das videiras. O resultado é uma briga mundial para garantir pequenas quantidades do cobiçado vinho. Outros rótulos da Borgonha, assim como os supertoscanos italianos e os malbec argentinos de qualidade superior, estão entre os destaques do momento.
Na outra ponta, a dos vinhos baratos, a situação é inversa: sobram produtos nas prateleiras. A empolgação do mercado fez com que muitas importadoras buscassem alternativas para todos os bolsos, especialmente para quem está entrando no mundo do vinho e ainda não tem vontade de gastar muito em uma única garrafa. Rótulos que na Europa custam 1,50 euro ou 2 euros chegam ao território brasileiro por aproximadamente 50 reais. Há opções ainda mais baratas, vendidas no mercado nacional por 30 reais. “São vinhos sem expressão, que não oferecem nada em termos de conhecimento”, constata Vicente Jorge. Em 2020, as importações desses itens dispararam 30%, mas a resposta do mercado não se deu na velocidade esperada. O resultado foi um estoque imenso, que deverá ser liberado aos poucos com descontos generosos oferecidos aos consumidores. Mesmo estes, muitos iniciantes na arte da apreciação de vinhos, certamente tomarão gosto pela bebida e exigirão cada vez mais rótulos de qualidade. Quando se descobre o que é bom, o caminho costuma ser sem volta.
Publicado em VEJA de 27 de abril de 2022, edição nº 2786
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