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“Não há tempo a perder”, diz Paulo Zulu após luta contra câncer

Sex symbol de uma geração conta como encara a maturidade depois da doença

Por Duda Monteiro de Barros Atualizado em 4 jun 2024, 10h57 - Publicado em 15 abr 2023, 08h00

Descobrir um câncer não estava nos meus planos. Sempre prezei por um estilo de vida saudável e julgava envelhecer sem maiores percalços. Mas essa crença veio abaixo quando passei por uma bateria de exames de rotina. O ultrassom abdominal detectou uma irrigação de sangue anormal na região da bexiga. Ao analisar o resultado, o médico ficou refletindo em silêncio por alguns segundos e, com ar preocupado, ligou para a emergência. Sem rodeios, disse: “Paulo, vou te internar”. Eu não tinha qualquer sintoma de doença, mas descobri um tumor maligno de 2,5 centímetros. Apesar da surpresa indesejada, não me abalei. Fiquei no hospital por uma semana e me submeti a uma raspagem para removê-lo. Felizmente, descobri a doença em estágio inicial e esse tipo de carcinoma não costuma se espalhar como metástase.

No princípio, segui a vida normalmente, como se tudo não passasse de um simples obstáculo. Contudo, dois anos depois tive mais uma péssima surpresa. Comecei a sentir uma tremenda dificuldade para urinar. Ficava até cinco minutos no banheiro, era muito ruim e desconfortável. Pedi para refazer os exames, que inicialmente não haviam indicado qualquer recidiva. Tiro e queda: descobriram um novo tumor, entupindo o canal que liga a bexiga à uretra. Novamente, tive de passar pelo processo de cauterização. Sou um cara muito otimista, mas foi um susto imenso. A nova descoberta acendeu um sinal amarelo de que a doença poderia voltar a qualquer momento. Depois da segunda cirurgia, fiquei um pouco mais sensível, respeitando meu corpo e pegando mais leve até superar essa fase inicial de preocupação. Pouco depois de ter alta hospitalar, decidi passar uma temporada na Indonésia, um dos meus destinos favoritos, e aproveitei para surfar e me conectar com a natureza. Comecei a valorizar mais o que amo e descobri que não há tempo a perder.

Como modelo, vendia uma imagem ligada à juventude. Agora, que completei 60 anos, vejo que tenho mais história para contar do que vida pela frente. É uma constatação incômoda, mas verdadeira. A vitalidade não vai durar para sempre e quero aproveitar meus últimos anos plenamente. O curioso é que me sinto muito mais vigoroso. Tenho três filhos, o mais novo está com apenas 2 anos. Procuro ser um pai presente, que não se preocupa apenas com os bens que vai deixar para os herdeiros. Durante décadas, me dediquei somente ao trabalho para construir um patrimônio e oferecer uma condição financeira confortável para a minha família. Mas não vejo mais sentido em partir sem usufruir de tudo o que conquistei. Não que isso esteja perto de acontecer, pelo contrário, mas, depois de tudo o que passei, entendo que não adianta estar com o bolso cheio de dinheiro, sem experimentar momentos memoráveis.

Depois de toda essa experiência, tenho me dedicado a conscientizar as pessoas sobre a importância de se cuidar. Muitos de meus amigos acham que aproveitar a vida significa comer de tudo, encher a cara de álcool e fazer o que vier à cabeça. Momentaneamente, isso até pode trazer uma felicidade instantânea, mas tem seu preço. E ele é alto demais. A maioria dos homens da minha geração, que agora começa a enfrentar os problemas da velhice, está cheia de preconceitos. Muitos deixam a saúde em segundo lugar, não fazem sequer exame de próstata porque acham que isso afeta a sexualidade masculina. É um pensamento raso, tosco e perigosíssimo. Esperar a corda apertar para procurar ajuda ou mudar de hábitos pode ser tarde demais. Quero usar cada minuto que me resta da melhor forma possível. Não sei como será o futuro, mas, no que depender de mim, serão dias gloriosos.

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Paulo Zulu em depoimento dado a Duda Monteiro de Barros

Publicado em VEJA de 19 de abril de 2023, edição nº 2837

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