Editora chefe de uma das publicações especializadas em moda mais relevantes do planeta; criadora e curadora da exposição anual do Costume Institute, do Metropolitan Museum, em Nova York; anfitriã do mais aguardado tapete vermelho do mundo fashion, o Baile do Met (que abre a mostra); e inspiração para o filme “O Diabo Veste Prada” (2006), com “seu papel” interpretado por ninguém menos que Meryl Streep. Todas essas credenciais, não deixam dúvida: Anna Wintour é, atualmente, a mulher mais poderosa da moda.
No último sábado, 3, ela completou 75 anos. Data que, na verdade, até passou despercebida já que Anna continua a mesma figura misteriosa, escondida atrás de enormes óculos escuros da Chanel (que ela jura usar por prescrição médica) e, há anos, com o mesmíssimo corte de cabelo. Parece que o tempo não passa para ela. Algo que deve achar ótimo, já que envelhecer – mesmo com tantas bandeiras levantadas contra o etarismo – ainda não é visto com tanto glamour.
Glamour, aliás, é algo que Anna tem de sobra. Mas, ao contrário do que parece, não pauta sua vida nisso. Segundo a biografia “Anna”, escrita pela jornalista Amy Odell e lançada em 2022, a prioridade da toda-poderosa é a organização. Acorda às 5h da manhã para ler os jornais The New York Times, The Wall Street Journal e The Guardian, dá uma olhada nos assuntos mais importantes no Instagram – com um perfil fake, é claro, já que sua conta oficial (acredite, não verificada) segue pouquíssimas pessoas – e organiza seus afazeres do dia.
Saia Justa e Tênis
O primeiro deles é o tênis, esporte que não abre mão de praticar e assistir. Foi exatamente por isso, por exemplo, que Anna Wintour criou uma saia justa com Naomi Campbell no Harlem´s Fashion Row – Fashion Show and Style Awards, em setembro. Ela entregaria um prêmio a top model, mas como Naomi ainda não havia chegado, ela disse que era muito pontual e foi embora, para assistir ao torneio de tênis US Open. A Marc Jacobs, ela sugeriu que ele jogasse tênis “como uma excelente alternativa para se livrar das drogas”, na época em que o estilista lutava contra o vício.
Voltando à sua rotina cronometrada, logo após as partidas, ela conta com a ajuda de um maquiador e cabeleireiro para se arrumar para o trabalho. Veste um tailleur da Chanel ou um vestido floral de alguma grife poderosa, os sapatos de salto Manolo Blahnik (a única vez vista de sandálias rasteiras foi após o atentado de 11 de setembro, para o caso de ter que sair correndo da redação) e segue para a redação da Vogue América, onde já deve encontrar seu café latte da Starbucks e um muffin de mirtilo, que geralmente é descartado. (bem semelhante ao filme).
Reuniões, e-mails e Café
O dia da editora chefe transcorre entre muito café – que pede às suas assistentes por email – e reuniões com empresários, estilistas e editores da revista, mas nada que passe de 15 minutos. Metódica, é uma mulher de decisões rápidas e assertivas, comunicadas ao final do dia para toda sua equipe via vídeo chamada. Curiosamente, Anna Wintour não redige seus textos. “Eu não escrevo muito bem”, assumiu em uma entrevista. Mas é dela a decisão final de absolutamente tudo relacionado à publicação, inclusive a aprovação de suas “cartas da editora” redigidas por um ghostwriter.
Ao final do dia, ela costuma ir para a casa. Exceto por algum evento importante, onde procura não se estender muito. No conforto de seu lar, Ann anota todas as pendências em um caderno e em post-its, que manda para seus editores, com sinais de aprovação – A.W.O.K (Anna Wintour OK) – ou desaprovação: “boring” (chato), “no” (não) ou “keep trying” (continue tentando).
Dorme cedo, lá pelas 22hs. Nos finais de semana, salvo raras exceções, segue para sua casa de campo, onde prefere estar com sua família – os filhos Charlie, de 39 anos e Katherine, de 37, além do ator britânico Bill Nighy, sua companhia mais constante nos últimos anos, mas com quem não assume um romance publicamente – prefere dizer “melhor amigo.”
Independentemente de suas excentricidades, porém, é fato que Anna Wintour revolucionou a indústria da moda e, por isso, é uma das maiores autoridades do mundo sobre o assunto, com poder, inclusive, de mudar coleções, construir carreiras e nomear estilistas. Não à toa, muitos profissionais da moda a tem como uma “fada madrinha”. Está mais para um mito. Ou um ícone. Ou as duas coisas.