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Por que o ‘Desafio dos 10 anos’ – provavelmente – não é uma cilada

Artigo de escritora levantou suspeita sobre o mais novo viral das redes sociais. Para especialista, alerta é válido, mas a paranoia não se justifica

Por Pietra Carvalho
Atualizado em 16 jan 2019, 22h37 - Publicado em 16 jan 2019, 22h27
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  • As redes sociais estão dominadas pelo Desafio dos 10 anos – ou 10 year challenge, em inglês. A brincadeira é colocar lado a lado uma foto sua de hoje com uma do longínquo ano de 2009. As montagens comparativas ganharam a adesão de celebridades e se espalharam pela internet, divertindo os usuários com um mosaico de mudanças radicais – e outras nem tanto.

    Em suma, um viral inocente, certo? Nem tanto. Depois dos escândalos de vazamento e venda de dados envolvendo redes sociais – como o caso do Facebook e da consultoria Cambridge Analytica –, alguns usuários preferem adotar a cautela e desconfiar de memes do tipo.

    Em um tuíte que depois virou um artigo no site da revista Wired, a escritora especializada em tecnologia Kate O’Neill levantou a suspeita. “Eu há dez anos: provavelmente iria me juntar ao meme do envelhecimento da foto de perfil que está rolando no Facebook e no Instagram. Eu agora: pondero sobre como todos esses dados podem ser refinados para treinar algoritmos de reconhecimento facial sobre progressão de idade e reconhecimento de idade”, escreveu.

    https://twitter.com/kateo/status/1084199700427927553

    Para O’Neill, o viral oferece um enorme e já editado banco de dados de como um rosto humano envelhece ao longo de dez anos – informações valiosas para um eventual algoritmo de reconhecimento de idade e envelhecimento. A escritora especula que um aplicativo do tipo poderia ser usado por empresas para direcionar propagandas a uma determinada faixa etária ou por planos de saúde para recusar ou cobrar mais caro de clientes que pareçam envelhecer “mais rápido” que o normal.

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    “Minha intenção não foi dizer que o meme é inerentemente perigoso. Mas eu sei que o cenário de reconhecimento facial é perfeitamente plausível e indicativo de uma tendência que as pessoas deveriam conhecer”, escreveu a autora.

    Sem paranoia

    Embora reconheça que o alerta levantado pelo artigo é válido, especialista indica que não é necessário ser paranoico quanto à nova brincadeira das redes.

    “O Facebook já tem esse mecanismo de reconhecimento facial há quase dois anos, assim como o Google Fotos e a Apple. Acho que a preocupação é importante para pensarmos melhor a definição de privacidade e a percepção de que nossos dados pessoais podem ser usados de formas que fogem ao nosso controle, não só por empresas, mas por pessoas físicas”, diz Carlos Affonso Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio).

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    Além disso, por mais que gigantes da tecnologia busquem a criação de métodos precisos, Affonso Souza lembra que utilizar imagens que são frequentemente submetidas a filtros não seria de grande ajuda para os programas. Hoje, celulares como o iPhone e alguns aparelhos da Samsung já tem mecanismos de tratamento de imagem embutidos em suas câmeras, que corrigem inclusive imperfeições ligadas ao envelhecimento.

    O diretor do ITS não deixa de alertar para outros perigos do compartilhamento indiscriminado de dados pessoais. Para controlá-los, em 2018 foi aprovada no Brasil a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPDP), que determina como dados de cidadãos podem ser coletados e tratados, determinando punições em caso de desrespeito. As regras entram em vigor a partir de 2020 e pretendem garantir maior controle dos usuários até mesmo sobre a iniciativa privada.

    É importante lembrar que tais regras não se aplicam às informações de domínio público entregues pelos usuários ao concordar com os termos de uso de sites como o Facebook.

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    Prós

    No texto publicado por O’Neill no site Wired, ela também pondera sobre os prós do reconhecimento facial. Em Nova Dehli, na Índia, policiais encontraram 3.000 crianças desaparecidas em apenas quatro dias por meio da tecnologia. Se elas estivessem sumidas há muito tempo, um algoritmo de progressão de idade poderia ter sido muito útil. E Affonso Souza menciona que autoridades cariocas, incluindo o novo governador do estado, Wilson Witzel, também acreditam que equipamentos do tipo podem ajudar na captura de foragidos da polícia. 

    Para o especialista, o que mais mudou nos últimos 10 anos não foram os rostos, e sim a maturidade em relação à internet. Ele recomenda que os usuários aproveitem o desafio para revisitar não apenas uma foto, mas sim todas as suas postagens antigas: “Tem pessoas que vão se surpreender com a quantidade e o alcance de dados que compartilhavam em outra época. Se isso acontecer, a inquietação trazida pelo desafio já vai ter um resultado muito positivo”.

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