John Green sofre de transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Em certas fases de sua vida, o distúrbio foi debilitante, impedindo o futuro escritor de trabalhar e até de se alimentar apropriadamente. Depois de muita terapia e com remédios, a doença foi controlada. Embora por vezes Green, hoje com 40 anos, tenha recaídas, ele é um dínamo de produtividade em canais de vídeo destinados a jovens na internet, e seus livros venderam 50 milhões de exemplares no mundo todo. Seu maior sucesso, A Culpa É das Estrelas, tratava, sem sentimentalismo nem condescendência, de adolescentes que padeciam de câncer.
Cinco anos e uma crise de TOC depois, Green, em seu novo romance, trata de uma aflição que conhece mais de perto: embora a expressão “transtorno obsessivo compulsivo” não conste do texto, é claramente desse distúrbio psiquiátrico que sofre a protagonista e narradora, Aza Holmes. Sua imaginação hipocondríaca vê ameaças letais até nos poucos beijos que consegue trocar com o namorado, Davis Pickett. Não, o casal não é tão charmoso quanto o de A Culpa É das Estrelas (vivido por Shailene Woodley e Ansel Elgort no cinema), e o enredo detetivesco envolvendo o pai de Davis, um bilionário que desaparece quando a polícia descobre suas fraudes em obras públicas de Indianápolis, tem mais de uma nota forçada. Mas Tartarugas até Lá Embaixo consegue transportar o leitor para dentro da espiral obsessiva de sua protagonista. Pode ser difícil acompanhar os tormentos mentais de Aza Holmes, mas Green não se intimida com a dificuldade: é um raro escritor que fala com os jovens sem menosprezar a inteligência deles.