Circula no YouTube, há um bom par de anos, uma apresentação do Black Sabbath em Paris, no ano de 1970. Ela, obviamente, não traz as firulas e a parafernália que passaram a fazer parte do repertório dos shows da banda, que encerrou suas atividades em fevereiro de 2017. Ozzy Osbourne (vocais), Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria) se vestem em andrajos e atacam o repertório dos dois primeiros discos do quarteto inglês com uma fúria pouco vista e sentida. Uma das pessoas que ficaram impressionadas com a performance foi Christopher Tiger Bartelt, baterista do trio alemão Kadavar, que confessa ter assistido ao vídeo mais de cem vezes. “Eu não consegui acreditar no quão boa era aquela música, o quanto de peso e maldade existem naquelas composições”, confessa. O Kadavar, que inicia nesta semana uma turnê brasileira (02/03 no Célula Showcase, em Florianópolis; 03/03 no Fabrique, em São Paulo, e 04/03 no Hocus Pocus Festival, no Rio), traz em suas performances o mesmo grau de ferocidade. Bartelt, o guitarrista e vocalista Christoph “Lupus” Lindeman e o baixista Simon “Dragon” Bouteloup mostram no palco um apanhado do rock dos anos 60 e 70, devidamente atualizados para o século XXI. “Nós sempre tentamos recriar a vibe daquele período, mas com um pouco da nossa sonoridade”, completa Tiger.
https://www.youtube.com/watch?v=XBHnUdmb7Nc&t=2570s
Surgido em 2010 na cidade alemã de Berlim, o Kadavar costuma ser incluído na categoria de stoner rock – uma vertente mais pesada e vagarosa do heavy metal tradicional. Bartelt diz que o termo não o ofende, embora haja um certo incômodo com a necessidade de rotular a música produzida pelo grupo. “Olha, eu toquei em vários festivais dedicados ao stoner rock. Mas prefiro que nos sejamos definidos como rock e pronto”, comenta. Por mais que o Black Sabbath seja a matriz da música do Kadavar, o grupo tem outras influências que vão além do escopo do heavy metal. Por exemplo, o rock de garagem do MC5 (uma espécie de pai do punk) e o hard rock suingado do Grand Funk, ambos americanos. “MC5 e os Stooges, de Iggy Pop, foram os pais do punk rock. Mas o MC5 está além da música, existe algo espiritual no que eles fazem”, derrete-se. Bartel comprou o disco de estreia do Grand Funk num mercado de pulgas, em Berlim – segundo ele, foi uma experiência inesquecível. “Ele me mostrou como um power trio deveria soar e como deveria compor”.
O lançamento mais recente do Kadavar, Rough Times, chegou às lojas em setembro do ano passado. Ele mantém o nível de crueldade sonora em alta, no entanto faixas como Found the Best in Me são menos pesadas do que o ataque de distorção e pancadaria característicos do Kadavar. “Sei lá, cinco anos atrás eu poderia dizer que essa canção era uma porcaria. Mas de repente a gente quer fazer algo que não soe como uma gravação de 1971”. Mas ao vivo a história é outra. Bartelt, Lindeman e Bouteloup são de uma precisão e ferocidade inigualáveis. Quem sabe daqui a alguns anos surjam bandas de rock pesado inspiradas em imagens capturadas das apresentações do Kadavar.