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Thiago Pantaleão fala de criação evangélica, ménage e descoberta bissexual

Em entrevista ao programa semanal da coluna GENTE, prestes a se apresentar no Rock in Rio, cantor destrincha álbum ‘Nova Era’ 

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 ago 2024, 15h52 - Publicado em 26 ago 2024, 15h08
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  • De tempos em tempos surge na música brasileira alguém disposto a romper dogmas enraizados no conservadorismo da sociedade, mesmo sabendo do alto preço a se pagar por isso. O “cavaleiro” da vez é Thiago Pantaleão, de 26 anos, que acaba de lançar a segunda parte do álbum Nova Era, em que explora sua bissexualidade atravessando temas tabus. Ao invés da lança em punho, o guerreiro dispara suas composições, nas quais defende ménage, diz que prefere relação aberta e combate a caretice a ponto de mostrar até o derrière no palco. Em entrevista ao programa semanal da coluna Veja GENTE no Youtube e no streaming VEJA+, o cantor destrincha, uma a uma, suas músicas, inspiradas na infância vivida no Jardim Nova Era, bairro de Paracambi, na Baixada Fluminense, quando era levado pelos pais a frequentar a igreja evangélica. No dia 14, ele se apresenta no Rock in Rio. Pela sua disposição, a luta só está começando. Touché! Assista a seguir.

    CRIAÇÃO CONSERVADORA. “Vivi até os 16 anos na igreja evangélica. Abri mão de viver muitas coisas por medo. Mas a vivência na igreja me deu coisas positivas, como o apreço por música mais bem cuidada, o tipo vocal… Onde eu morava, o caminho das drogas e da criminalidade era muito fácil de se acessar. A igreja me deu proteção de lugar social. Mas como indivíduo, só explorei minha sexualidade quando comecei a trabalhar com música. A igreja fez esse processo ser mais lento, isso de desenvolver minha sexualidade. Para quem é LGBTQIAPN+, estar num meio conservador é difícil”.

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    GERAÇÃO DO MÉNAGE. “É uma coisa muito comum, está presente na sociedade, mas entendo que ainda seja um tabu. Falo de maneira natural, porque para mim é. Tento trazer meu ponto de vista para minhas músicas. Tive essa experiência e tive vontade de pôr na música, de maneira divertida. Foi uma ocasião da minha vida que queria colocar no pop. Não sei se a minha geração seja a do ménage, veio de muito antes, o que acontece é que agora estamos falando mais sobre isso”.

    REATIVO. “Quando eu sofria homofobia na escola, num primeiro momento ficava em silêncio, depois comecei a me defender. Sou a última pessoa que vou procurar uma briga, sou amoroso, do diálogo. Mas se com ferro fere, com ferro será ferido. Deixo as coisas às claras, mostro meu limite e que não passam dele. No geral, sou um amorzinho”.

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    BUNDA NO PALCO. “Eu nem cheguei a mostrar (num show da Anitta), só agachei parte da calça. Anitta sempre foi bem humorada. O humor também é minha válvula de escape. Fiquei nervoso por estar ao lado dela. Resolvi fazer uma brincadeirinha, ela ficou chocada, mas amou. Foi a primeira vez que um artista masculino se propõe a estar nesse lugar no Brasil. O pop vende o artista no lugar de desejo, falando mais abertamente de sua vida pessoal. Falo de coisas que passam pela vida de todo mundo. Por ser algo novo no mercado, a galera se assusta e depois se adapta. Foi assim com o funk, por exemplo. No começo era marginalizado em qualquer lugar, era tido como música de bandido”.

    MPB CARETA. “Hoje tem vários artistas jovem que não assim. Não acho a MPB conservadora, não o gênero musical, mas meio em torno disso, o mercado no qual está inserido. Eles viveram a era de ouro da música, dependiam da exposição em novelas e televisão. O acesso era mais difícil, precisava de contatos… O mercado dos anos noventa e 2000 era mais fechado. Só que os grandes nomes contemporâneos da música são artistas LGBTQIAPN+, que contam nossas narrativas”.

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    PRESENTE NA SIGLA. “Eu sou bissexual. Durante um tempo, por ter vindo de um meio conservador, sempre gostei dos dois (gêneros). Lembro que fui jogar bola, e ali percebi que gostava de um jeito diferente dos meninos. Ao invés de correr atrás da bola, ficava olhando a bunda dos moleques e falava: ‘Nossa, que coisa bonita’. Depois olhava pras meninas e também gostava. Mas me taxavam como gay, tanto que só estive em relação homoafetiva na época, porque me colocavam nesse lugar. Era gay ou hétero, ser bi era ser indeciso. Até entender que posso gostar dos dois foi uma autoavaliação interna, um processo junto com a música que me deu a forma mais plena de existir”.

    RELAÇÃO ABERTA. “Não sei se é a forma ideal. Mas para mim sempre foi colocado uma coisa só, fui criado em igreja. Era conhecer um grande amor, casar e passar o resto da vida com a pessoa. No crescimento individual, fui vendo que existem outras formas de amar. O foco pode ser monogamia, mas também pode ser a lealdade no lugar da fidelidade. Pra mim hoje isso é o que conta”.

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