As denúncias de racismo causam sua primeira baixa no mercado da moda nacional desde a criação do perfil do Instagram Moda Racista, que tem reunido acusações por parte de modelos, produtores e stylists a respeito de estilistas e marcas. Uma denúncia anônima citou o renomado publicitário Ralph Choate, dono da agência Big Man. Desde 2009, ele é o responsável por pensar e executar todas as campanhas de TV da Riachuelo, além de negociar os espaços para essa propagandas junto às emissoras de televisão. O denunciante afirmou ao Moda Racista ter escutado de Choate a seguinte frase: “Daqui a pouco vou ter que colocar um anão com vitiligo”, que seria uma referência do publicitário aos critérios de escolha de modelos nos tempos atuais.
Após o site de VEJA publicar uma reportagem sobre as denúncias do Moda Racista, caso que envolve também os nomes de Reinaldo Lourenço e Gloria Coelho, a redação da revista foi procurada por dois funcionários da Riachuelo que deram mais exemplos sobre o comportamento de Choate. Segundo eles, o publicitário só colocava — quando colocava, aliás — negros em campanhas a contragosto. Também se referia a determinadas pessoas como “gorda”, viado” e “preta” de forma pejorativa, sem cerimônia, em diversas reuniões de trabalho. Para ele, o mote das campanhas era não ter “gente com cara de pobre, pois a consumidora não gosta de se ver na TV”. Negros não passariam por esse critério. Em diversos almoços de trabalho, dentro e fora da Riachuelo, piadas de cunho racista e homofóbico eram ditas pelo publicitário, segundo as mesmas denúncias.
Questionada por VEJA sobre o comportamento do diretor de propaganda, a Riachuelo informa ter suspendido nesta quarta-feira, 10, o contrato com Choate e instaurou uma investigação interna sobre as denúncias. “A Riachuelo discorda de eventuais condutas como as relatadas envolvendo a agência Big Man, prestadora de serviço na área de publicidade. A empresa esclarece que este comportamento não representa os valores da Riachuelo, que tem como princípio central o respeito de forma igualitária, valorizando a diversidade, inclusão e a representatividade entre seus funcionários, em suas campanhas e outras iniciativas. A Riachuelo tão logo teve acesso a essa questão instaurou uma averiguação interna e suspendeu o contrato com a Big Man até que a apuração seja finalizada e as medidas sejam devidamente tomadas”, diz o comunicado.
Antes da Riachuelo, Ralph Choate foi o responsável pelas propagandas de TV da C&A, entre elas as realizadas pelo modelo negro Sebastian Fonseca. Procurado por VEJA, Choate refutou as acusações sobre comportamento racista e homofóbico. “Estive por trás da criação e produção de mais de mil filmes publicitários durante este período e eles talvez sejam a maior prova de que a diversidade jamais foi relegada a um segundo plano por mim”, escreveu ele em um comunicado encaminhado à redação da revista. Mas Choate também pede desculpas se ofendeu pessoas com suas palavras. “Todavia, ao longo de 40 anos de profissão, tendo participado de inúmeras reuniões para discutir o elenco de variadas produções, e diante da acusação que me fazem, é possível que, mesmo sem intenção, eu tenha ofendido alguém com minhas palavras. Se o fiz, com a mais profunda sinceridade, peço desculpas e posso garantir que redobrarei minha atenção para que isso jamais se repita”.
Aqui, a carta de Ralph Choate enviada a VEJA:
“Venho através desta carta responder ao seu pedido de manifestação sobre as denúncias de racismo que envolvem meu nome. A publicidade tem sido a minha vida nos últimos 40 anos. Foram 30 anos com a C&A e mais 10 anos com a Riachuelo. Estive por trás da criação e produção de mais de mil filmes publicitários durante este período e eles talvez sejam a maior prova de que a diversidade jamais foi relegada à um segundo plano por mim. Sebastian, o primeiro garoto-propaganda negro da publicidade brasileira é, certamente, o melhor exemplo disso. Ele, um bailarino negro, fez a marca C&A na década de 90, saltar para um patamar nunca antes pensado, tornando-se a maior empresa de moda em todo o Brasil na época. Sebastian conquistou o coração de milhões de pessoas, de todas as idades e classes sociais.
Sempre acreditei em sua força e representatividade. Antes dele, na mesma C&A, fizemos um filme de lingerie com um talentoso elenco, exclusivo de mulheres negras. Não se falava sobre empoderamento feminino e muito menos sobre empoderamento de mulheres negras 35 anos atrás. Na Riachuelo, minha primeira contribuição profissional para dar nova voz à marca, foi através do cantor Seu Jorge, enaltacendo mais uma vez a diversidade brasileira.
Também na Riachuelo, a mais recente campanha – VIVA A MODA – contempla um diversificado elenco, prezando pela representatividade de minorias, como os representantes LGBTQIA+, negros, idosos, mulheres e plus-size do filme. A inclusão e visibilidade destas comunidades é de extrema importância para a história do país que desejo. Todavia, ao longo de 40 anos de profissão, tendo participado de inúmeras reuniões para discutir o elenco de variadas produções, e diante da acusação que me fazem, é possível que, mesmo sem intenção, eu tenha ofendido alguém com minhas palavras. Se o fiz, com a mais profunda sinceridade, peço desculpas e posso garantir que redobrarei minha atenção para que isso jamais se repita.
Repudio qualquer tipo de manifestação preconceituosa. Desejo continuar valorizando as minorias para que tenham cada vez maior destaque na comunicação brasileira”