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O próximo alvo do carnavalesco político na Sapucaí

Depois de Bethânia e Marielle Franco, Leandro Vieira aposta em Lampião neste carnaval. Em entrevista à coluna, também fala de Lula

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Giovanna Fraguito Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 fev 2023, 17h15 - Publicado em 14 fev 2023, 17h00
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  • Desde 2016 na Mangueira, Leandro Vieira, 39 anos, estreia como carnavalesco da Imperatriz Leopoldinense em 2023, onde desenvolve o enredo O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida, inspirado em cordéis sobre o cangaceiro Lampião. Com a verde e rosa, resgatou uma roupagem política aos desfiles – como resultado, dois títulos: em 2016, homenagem a Maria Bethânia; e em 2019, sobre os heróis esquecidos pela história, ressaltando Marielle Franco. Em conversa com a coluna, o carnavalesco fala desse estilo “político”, palpita sobre possível homenagem ao presidente Lula (PT) e conta o que acha de Margareth Menezes em sua antiga escola.

    Você fez muitos desfiles que marcaram um posicionamento político. Na Imperatriz mantém essa identidade? Na verdade, um artista não pode ser rotulado pelos trabalhos que já realizou. Um artista é uma obra aberta que se constrói a partir daquilo que realiza. O que fiz para a Mangueira é uma faceta da minha personalidade artística. O que faço para a Imperatriz é uma possibilidade que também sou.

    Você não respondeu: mantém a mesma pegada? Totalmente! Quando se escolhe um enredo sobre Lampião, está fazendo política. Quando escolhe enredo que trata de um pedaço do Nordeste, está fazendo política. Quando olha para a cultura popular e a valoriza, está fazendo política. É que me associaram como o carnavalesco político muito em função de trabalhos que fiz no calor da discussão partidária. Só que a política é muito mais ampla. A política que eu realizo é a da reafirmação da identidade brasileira.

    Mas você gosta de ser chamado de “carnavalesco político”? Eu “também” (fala com ênfase) sou um carnavalesco político, porque o rótulo para qualquer artista, seja lá em que área da criação, limita, faz com que as pessoas esperem sempre a mesma coisa. Então eu sou também um carnavalesco político. Mas é uma das faces da minha personalidade como artista,

    Em 2019, você trouxe A história que a história não conta, com um samba cantado em várias formalidades do atual governo. O que acha disso? Os sambas das escolas de samba devem realmente ocupar todos os espaços. As pessoas precisam olhar para a produção artística das escolas de samba, não apenas a produção musical, mas a produção estética, a produção corporal, ocupando inclusive os espaços mais solenes.

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    A história do Lula renderia um desfile? A história do Lula é a história de milhares de brasileiros espalhados pelo Brasil. É por isso que o Lula é uma figura tão emblemática da política nacional, ele é mais um Silva, de tantos Silvas, com histórias parecidas. Por isso a história dele rende sim um excelente enredo.

    O que representa uma rainha de bateria da comunidade no seu carnaval? As escolas de samba são lugares para reafirmação do potencial artístico das comunidades. Quanto mais a gente tiver personalidades de comunidades ocupando lugares de destaque, melhor para o carnaval. A gente tem que reafirmar as comunidades, sempre associadas à violência, como espaços de potência.

    Ainda cabem rainhas brancas num espaço de reafirmação da negritude? O carnaval é lugar para reafirmação de identidades periféricas. Nisso é preciso olhar para todas as nuances representadas pela periferia. A periferia é preta, é branca, é nordestina, é múltipla. O que sou contrário não é a questão de a branca ser musa ou rainha, mas a comercialização que retira o protagonismo de mulheres periféricas.

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    Grande parte dos enredos do grupo Especial deste ano remete ao Nordeste, região que deu maioria de votos a Lula. Que leitura faz disso? O carnaval é um espelho do Brasil em diálogo com a cultura popular. É natural que assuma essas pautas sendo suas. É um momento em que o Brasil, depois das trevas, seja na cultura popular ou campo político, precisa reafirmar aquilo que possui de melhor. Não é coincidência, é a luz depois das trevas.

    A ministra Margareth Menezes vai desfilar na sua ex-escola. Deu invejinha? Seria possível uma dobradinha com a Imperatriz? (risos). Sou fã da Margareth! Acho ela maravilhosa. Estamos muito bem representados com ela no Ministério da Cultura, mas Margareth tem mais identidade com aquilo que a Mangueira canta do que com aquilo que a Imperatriz propõe. Vai ser uma alegria tê-la no carnaval carioca, ela merece ser celebrada em qualquer instância.

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