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Mestre Ivamar relata ‘sofrimento da invisibilidade’ na luta contra racismo

Ator de ‘Amor Perfeito’, da TV Globo, fala da importância do Dia da Consciência Negra

Por Nara Boechat Atualizado em 20 nov 2024, 10h12 - Publicado em 20 nov 2024, 10h00
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  • Mestre Ivamar, 66 anos, ficou conhecido do grande público quando interpretou Popô, na novela das 6 Amor Perfeito (2023), da TV Globo. Mas até chegar às telas, já havia percorrido uma longa trajetória. Ator, pesquisador, griô e ativista do movimento negro, Ivamar nasceu no bairro da Penha, Zona Leste de São Paulo, morou em Angola, na Inglaterra e no Amapá, onde ficou por 20 anos e se apaixonou pela cultura, em especial a dos quilombos e do marabaixo, manifestação cultural de origem africana. As artes cênicas entraram na sua vida nos anos 1970, atreladas à luta antirracista no Brasil. Em conversa com a coluna GENTE, Mestre Ivamar conta como chegou às novelas, fala da importância do feriado de 20 de novembro e reflete sobre a luta contra o racismo.

    TRAJETÓRIA. “Quando voltei do Macapá para São Paulo, criei o Coletivo Amazonizando [grupo que realiza trabalhos de percussão, ancestralidade e empreendedorismo negro na capital amapaense e em São Paulo] e comecei a fazer eventos promovendo a cultura dos tambores, marabaixos e dos quilombos. Numa delas conheci Chico Accioly, que me falou para fazer uma oficina no Projac. No meio da oficina, já estava na novela. Foi linda e um presentão”. 

    AMOR PERFEITO. “Como ativista, senti que tinha uma missão quando entrei no Projac. É um processo difícil atuar na televisão e em novelas. A dramaturgia está tão distante da gente, os papéis são tão ridículos, sempre de sofrimento. Quando passam um papel com relevância, vi que a missão de militante estava presente. Pude levar as caixas de tambores para a novela, tive a liberdade de discutir as questões raciais com os atores, que tiveram sensibilidade muito grande, como Thiago Lacerda, Paulo Betti… Tive momentos ricos com Tony Tornado e [Antonio] Pitanga. Jamais vou me esquecer”. 

    MULHERES PROTAGONISTAS. “É muito importante que a gente tenha mulheres negras na dramaturgia. Temos uma grande referência que é a Zezé Mota, e agora outras Zezé Mota surgindo. Mas também quero ver mais mulheres em outros espaços, como dentro do Senado”.

    O QUE FALTA NA TV. “Tivemos muitos avanços, mas ainda precisamos de alguns, não só na dramaturgia como em outras áreas, como o que fazer com os brancos racistas. Não dá para deixar de pensar o que fazer com eles, porque eles estão vestidos de cordeiros, às vezes, e criam situações muito delicadas. A gente está sempre em alerta, o movimento negro não para”.

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    MOVIMENTO NEGRO. “Costumo dizer que a cada dez anos, o movimento negro tem ações diferenciadas, até porque vivemos uma conjuntura social diferente, e em dez anos os impactos são grandes. As estratégias hoje são diferentes de antes. Estamos em uma década de impacto, um momento difícil é a questão climática. A abrangência hoje é bem maior que nos anos 70, que a gente só podia falar de longe”.

    FERIADO. “É muito importante para que a gente possa entender que esse dia, 20 de novembro, é importante para trabalhar nossa diversidade com respeito. Entender que nós e todos os outros movimentos estamos na mesma luta por justiça, igualdade, por uma relação mais afetiva entre as pessoas”.

    NOVAS LUTAS. “Não é lutar com o retrocesso, estamos lutando com coisas novas. São políticas novas, porque antes, nos anos 1970, racismo era luta radical. Lembro que quando tinha 10 anos, fui tomar banho numa piscina na casa de uns amigos e um menino falou que eu não podia entrar, porque a mãe disse que a piscina ficaria preta. Tinha que ficar ali olhando as crianças. Esse sentimento dói, é o sofrimento da invisibilidade. Hoje, acredito que é difícil viver essa situação. Embora a gente ainda tenha o que fazer com os brancos racistas. Estamos dentro da academia, nos partidos políticos, na música. Foram todas as conquistas do movimento negro, fazendo pressão sobre os governos. Nesse sentido, vejo o processo de consciência negra”.

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    NOVOS PAPÉIS. “São tantos. O sonho do artista não tem fronteiras. Já cortaram o meu cabelo, já me fizeram colocar dread. É um mundo aberto, né? Arte é uma coisa linda. Então, você pergunta para mim, o que eu quero fazer. E eu respondo: ‘posso voar?’”.

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