Erika Ender pode ser um nome novo no Brasil, mas no restante da América Latina já marcou tamanha presença que entrou até para o Salão da Fama dos Compositores Latinos — grupo composto por figuras da indústria musical da região. Aos 42 anos, a cantora e compositora foi uma das responsáveis pela criação do hit Despacito, que ganhou remix com vocais de Justin Bieber e foi a primeira música em espanhol a chegar ao topo da lista “Hot 100” da Billboard, que avalia as músicas mais vendidas, em vinte anos.
Erika já trabalhou com artistas como Dulce e María e o brasileiro Leonardo, mas jura que não procura o sucesso e se preocupa mesmo é com a mensagem que passa. E a sensual Despacito tem mensagem? Bom, pode não ter lá nenhum conteúdo edificante, mas Erika garante que tem “respeito” pela mulher. A canção narra um flerte entre um casal em formaçã0. Em certo momento, o homem diz, romântico, “Quiero desnudarte a besos / despacito”, verso que virou “Quero te despir com beijos, lentamente” na versão em português.
Filha de uma baiana e de um panamenho, Erika nasceu no Panamá, mas visita o Brasil todos os anos e possui o sotaque único de Salvador. Neste ano, ainda lançou o seu quinto álbum, intitulado de Tatuajes. Além disso, colaborou na tradução da versão em português de Despacito, que será lançada em uma parceria entre o cantor porto-riquenho Luis Fonsi e o sertanejo Israel Novaes.
Confira a entrevista:
Você esperava que Despacito fosse fazer tanto sucesso? Nem eu, nem Fonsi esperávamos tamanho sucesso. Nós nos juntamos na casa dele para fazer uma música com uma proposta diferente para a carreira dele, que é mais conhecido por cantar baladas e pop. Despacito estourou com Fonsi e o rapper Daddy Yankee, também de Porto Rico, chegou a marca de um bilhão de visualizações no YouTube e quando Justin Bieber entrou no meio, cantando em um remix com Fonsi e Yankee, ela foi para o primeiro lugar. Como latina, considero uma grande vitória para a nossa cultura e língua. Além disso, fico feliz de ser a única mulher, até o momento, a chegar ao Hot 10 da Billboard com uma música em espanhol.
A música em espanhol está finalmente ganhando mais espaço no mercado mundial. Como é fazer parte disso? É uma vitória muito grande para o mercado latino. O mercado latino tem muito a oferecer ao mundo, muita poesia, o espanhol oferece uma forma criativa, com respeito e responsabilidade, de falar da sensualidade. Além disso, é um momento muito especial, pois estou comemorando 25 anos de carreira, com mais de 40 singles e músicas gravadas por quase 200 artistas. Por causa disso, estou entrando no Salão da Fama dos compositores Latinos. Acho que esse momento está coroando uma carreira de muito trabalho e muito esforço e estou super agradecida com o universo.
Como foi adaptar Despacito para o português? Você sente que conseguiu manter a veia latina da música? Eu ia adaptar a música do zero, mas me falaram que o Israel ia cantar com o Fonsi, e então me mandaram uma versão que o Israel tinha feito com o irmão dele e eu mexi pouco, para ficar mais próximo do original. Também o ajudei o Fonsi a gravar, para manter a pronúncia mais natural possível.
Sua mãe é brasileira. Você vem bastante ao Brasil? Minha mãe é de Salvador e minha família materna inteira é brasileira. Meus pais se conhecerem na Bahia, enquanto estudavam medicina e ele levou minha mãe para o Panamá. Eu nasci e cresci no Panamá, mas minha mãe sempre cuidou para que nós mantivéssemos a língua e os costumes do Brasil, até para ficarmos próximos da família. Por isso, todo ano eu vou ao Brasil passar o Natal e o Ano Novo.
Você acha que o reggaeton ainda deve ganhar mais espaço no cenário internacional? Eu acho que o reggaeton já ganhou bastante espaço internacional e tudo na música são etapas. Eu gosto muito do ritmo para dançar, curto, não tenho problema com o gênero. A única coisa que eu tenho problema é a mensagem. Se a gente é comprometido com o universo, com a raça humana e com os valores, o gênero não tem importância. Na música Despacito, a gente cuidou que fosse uma coisa sensual, mas com respeito à mulher, dentro da poesia.
Como começou a sua amizade com Luis Fonsi? E como foi o processo para escrever Despacito? A gente começou a ser amigos há 10 anos e já escrevemos músicas até nos discos anteriores dele. Temos muito carinho e respeito um pelo outro. Ele me disse que estava preparando um disco e me chamou para uma sessão de composição. Quando cheguei à casa dele, ele já tinha parte do refrão de Despacito. Ele cantou para mim, “Despacito / Vamos a hacerlo en una playa en Puerto Rico”, e a partir daí nós começamos a estruturar a música.
Despacito está sendo traduzido para vários lugares. Você tem ideia de quantas versões já foram produzidas? Realmente, eu não faço ideia. Já encontrei tantas versões e paródias, em diferentes línguas e ritmos. Mas eu fico muito comovida com isso. Já ri muito, já chorei, porque é realmente incrível como essa música tem se conectado com o mundo todo.
Vi que você ainda não recebeu o valor dos royalties pela música. Já tem uma previsão e está animada com isso? O pessoal me pergunta muito isso, mas não faço ideia. Estou muito contente, especialmente pela música ter se tornado um sucesso global, dessa forma.