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Carlos Alberto de Nóbrega fala de amizade com Bolsonaro e futuro do SBT

À coluna GENTE, humorista faz um balanço da nova fase da emissora sem Silvio Santos, da sua relação com o ex-presidente e ataca a onda politicamente correta

Por Nara Boechat 8 nov 2024, 07h00

Recuperando-se de um acidente doméstico sofrido há cerca de um ano, Carlos Alberto de Nóbrega, 88 anos, evita sair de casa, exceto quando o assunto é trabalho. Após a morte de Silvio Santos (1930-2024), em agosto, o humorista está “intocável” no posto de funcionário mais antigo do SBT e à frente do programa A Praça é Nossa, no ar há quase 40 anos. Em conversa com a coluna GENTE, o filho de Manoel de Nóbrega (1913-1976) descreve a nova fase da emissora sob o comando das herdeiras do fundador, fala sobre a relação com políticos, em especial a amizade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e critica o politicamente correto no humor: “Acho uma coisa ridícula”.

Há boatos de que Silvio Santos teria deixado um documento por escrito afirmando que a última pessoa a ser demitida do SBT deveria ser o senhor. Houve isso? Não. Isso foi falado na casa dele para algumas pessoas. Soube porque saiu no jornal, e um parente dele que estava presente comentou comigo. Falou: ‘você é intocável’. E eu falei: ‘Que bom’. Eu tinha 18 anos e ele 24, começamos juntos, já fazendo programa com o meu pai [Manoel da Nóbrega]. Ficou uma amizade grande. Viajamos muito. Toda semana a gente ia ao cinema, ao teatro, depois ia jantar.

Já recebeu proposta para sair do SBT? Fui convidado pelo Boni há uns 20 anos para fazer A Praça é Nossa, porque estava incomodando a Globo. Boni me chamou, somos amigos até hoje. Mas falei que por dinheiro eu não largaria o Silvio. Se acontecer algo que mexa comigo, me deixe magoado, eu saio. Mas por dinheiro, não.

Aceitaria uma proposta hoje? Estou com 88 anos, 73 de carreira. Você acha que vou me atrever a sair, fazer mais alguma coisa? Não. Já fiz o que eu tinha que fazer. Agora é esperar o dia que tudo acaba, né? Espero que esse dia demore.

Qual será o futuro do SBT sem Silvio? Está sendo difícil, mas houve uma união forte, a gente está vendo a boa vontade que as filhas têm. Principalmente a Daniela [Beyrute], quem comanda a televisão. O que ela pede, a gente está fazendo.

Quem melhor ocupa o lugar dele? A Patrícia [Abravanel], que já comanda o programa. E está indo muito bem, até me surpreendeu, porque só um louco aceitaria ficar no lugar do Silvio. A comparação é enorme. A audiência é a maior da casa. A gente não está habituado a ver mulher comandar. Machismo que existe. O que assusta é o machismo que ainda existe no Brasil, achar que a mulher não pode tocar os programas que os homens tocavam.

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Há machismo dentro do SBT? Não é aquele machismo declarado, mas a gente estranha. Silvio era um trator e elas são mais educadas, gentis, dão atenção. Toda semana, por exemplo, tem reunião com diretores dos programas, que o Silvio não fazia. Era ele que resolvia e ponto final.

Já conversou com as filhas de Silvio nessa nova fase do canal? Sim. Várias vezes, sou privilegiado. Daniela disse que queria conversar na minha sala. A primeira coisa que pensei é que seria mandado embora, que acabariam com a Praça, mas ela começou a falar da minha importância, que agora eu era a referência por ser o mais antigo, o mais ligado ao Silvio.

Como o senhor vê a televisão hoje em dia? O que piorou foi o jornalismo, ficou tendencioso, declaradamente de esquerda. A gente vê notícia dada por outra emissora, e a mesma notícia dada pela Globo é diferente. Tenho um relacionamento muito bom com Bolsonaro. Inclusive, pela homenagem que recebi do Congresso Nacional há dois anos. Ele foi lá e participou, é uma coisa que nunca vou esquecer. 

A ligação do Silvio com o Bolsonaro em 2022 não fez a emissora ser taxada também como parcial? Não. Silvio sempre foi a favor do governo. Ele nunca fez censura. Desde a época do Figueiredo, ele já tinha o programa A Semana do Presidente. E ele como dono de emissora não queria misturar trabalho com política.

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Considera o SBT uma emissora conservadora? Claro. Super conservadora, era como Silvio pensava, e a gente seguia as ordens dele. Uma vez, nas eleições de 1989, pedi para levar o [Fernando] Collor no programa para entrevistá-lo, ele ainda era o “Caçador de Marajás”. Mas Silvio disse que a única condição seria levar todos os candidatos. Então levei Mário Covas, Lula e Brizola. Já trabalhei em todas as emissoras do Oeste do Rio a São Paulo, nunca vi um lugar tão bom para se trabalhar. 

Como vê o etarismo na televisão? Não vejo isso. A televisão tem que colocar gente nova. Como é que vai ser a televisão se não tiver gente nova? Na Praça, o mais velho, claro, sou eu. Depois é o Saulo [Laranjeira], que interpreta um deputado, e tem, acho que, 72 anos. O resto é tudo juventude. 

O humor encaretou? O único programa de humor da televisão aberta é a Praça e agora a Globo lançou um programa com a Regina Casé. Não posso dizer se é bom ou ruim, porque nunca vi. Antigamente, tinha Zorra Total, Tapas & Beijos, A Grande Família, por exemplo. O povo sente falta disso. Hoje estão mais preocupados com a bunda da cantora do que com a voz dela. É uma pena.

O politicamente correto está prejudicando o humor? Acho uma coisa ridícula o politicamente correto, é uma bolha que quer mandar na censura e na moral da gente. Não pode falar ‘anão’ porque é pejorativo. Imagine Branca de Neve e os sete homens de pequeno porte. É uma piada, não é? 

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Não há controle de humor na Praça? Não dou a mínima importância. Faço aquilo que acho que tenho que fazer, sem desrespeitar ninguém. A própria Vera Verão [interpretada por Jorge Lafond], por exemplo. Ela levava a melhor. Era uma maneira de fazer piada sem humilhar ninguém. Mas se vai usar o ‘homossexualismo’ (sic) e a raça de alguém para fazer graça, sou contra. Se eu começar a ser tendencioso, se começar a falar do Bolsonaro, o pessoal da esquerda vai ficar com raiva e começa a deixar de ver o programa. E se eu falar do Lula, o pessoal da direita não vai gostar. Para que criar animosidade se meu negócio é fazer rir? Meu programa não tem cor, política, nada. É para você rir. 

Não vê problema em fazer piada com pessoas homossexuais, trans ou pobres? Desde que não ofenda. Essa bolha está ditando o que é certo e o que é errado.Se houvesse Os Trapalhões hoje, não iria para o ar. Os programas do Chico Anysio não iriam ao ar. É politicamente errado fazer aqueles personagens. Isso aí é falta do que fazer, depois que inventaram a rede social, cada um fala o que quer.

Então a seu ver qual é o limite entre a comédia e a ofensa? Vou magoar alguém? Então não faço. O mundo e a moral mudaram muito. Hoje em dia existe mais liberdade de falar palavrão na televisão. Você vê o homossexual se beijando. Isso há 20 anos era uma loucura. Então, se não acompanhar o mundo, você fica pra trás.

Quem é o humorista do momento? [Fábio] Porchat. 

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Citaria também alguma mulher? Tem várias. Gosto muito da Tatá [Werneck] e da Dani Calabresa. Essa eu queria na Praça ontem. Ela tem a cara da Praça. Já falei com ela, mas ela disse que não tinha condições… 

Mulher faz humor igual ao homem? Não. Tem infinitamente mais homens fazendo humor do que mulher. Se tem dez comediantes, vou ter dificuldade de falar quatro. No meu programa coloco quem é bom, seja mulher ou homem. O importante é que tenha audiência. 

Voltou a circular uma notícia de quando o senhor falou do vício do seu filho. Como lida com isso hoje? Ele continua fumando, teve um infarto, sete paradas cardíacas. Ele morreu sete vezes, fiquei revoltado. Só que ele tem 59 anos, já é avô. Com a idade que ele tem, se sabe que o fumo faz mal e quer fumar, o problema é dele. Ele tem cinco filhos e um neto. Duas coisas que falei para ele, mas não ouviu: ‘não fume e não ande de motocicleta’. É um perigo. A cabeça é o teto, as pernas são os paralelos.

E como é ser casado com uma pessoa 40 anos mais nova? Maravilha! Como médica e como mulher. Tenho muito medo de ficar velho. Não quero que a minha cabeça envelheça. Então, ela fala coisas que preciso ouvir. Fora o tratamento, ela é nutróloga.

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