Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

VEJA Gente Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Valmir Moratelli
Notícias sobre as pessoas mais influentes do mundo do entretenimento, das artes e dos negócios
Continua após publicidade

‘Aquilo que a gente chama de amor tem vínculos com nossas necessidades’

Em conversa com a coluna, Sócrates Nolasco, doutor em psicologia clínica, fala de seu novo livro, ‘Amarás’

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 mar 2023, 07h01

Para o doutor em psicologia clínica e professor associado na Uni-Rio e PUC-Rio Sócrates Nolasco, a humanidade só chegou até aqui porque acreditou no amor. Em seu mais recente livro, Amarás, o autor aborda as transformações desse sentimento nos mais distintos ambientes e classes sociais. Membro titular da Academia Brasileira de Filosofia e consultor na American Psychological Association, Sócrates fará lançamento na Livraria da Travessa, em Ipanema, no Rio, na sexta-feira, 10.

O amor é uma convenção social? Sim, as sociedades europeias dos séculos 17 em diante se organizaram por convenções, seja moral, política ou religiosa. E se acreditou que o amor dito por palavras seria aquilo que uma determinada moral abordou sobre isso. O que mostro no livro é que existe uma história anterior a esta. Há muitas palavras que cada um de nós podemos dizer a respeito dos sentimentos que ainda não foram ditas.

O título tem a força do verbo. Qual era a intenção? O livro atravessa um pedaço da pré-história humana e chega na Era Moderna, nas relações afetivas, na formação de vínculos. A gente encontra pinturas rupestres da pré-história onde um bisão era desenhado com um coração, que era o lugar que os caçadores deveriam acertar suas lanças. Aqueles animais não eram páreo aos homens, era necessário que existisse um grupo em torno do mesmo objetivo, o nome do livro vem daí. Ou seja, aquilo que a gente vai adiante chamar de amor tem relação com a cooperação e vínculos com nossas necessidades.

Você defende que o amor nos salvou da loucura, mas que também fomos ficando incapazes de amar. Caminhamos para uma sociedade-sanatório? A frase que o amor nos salva da loucura vem de um trabalho do Freud. Vejamos: a gente não nasce falando. A linguagem só aparece na vida da criança algum tempo depois. É preciso criar vínculos. Se não tiver ninguém para cuidar, ela morre. Na questão moderna, há cerceamento da liberdade de vinculação, não é qualquer vínculo que vale. A loucura seria decorrência da incapacidade do indivíduo de aportar sentido a suas experiências. Como a gente está numa era extremamente cognitiva, com essas coisas de computador e celular, as demandas de sobrevivência podem estar fadadas a não serem mais conexões profundas e sinceras. E aí certamente a gente corre o risco de ficar incapacitado de se vincular.

Como fica o amor em tempo de redes sociais? Há uma transformação em curso? Não tenho visão pessimista da vida. O amor é uma maneira que a gente tem de conseguir superar determinada limitação que é: ‘não consigo dar conta da minha vida sozinho’. A gente continua numa rede de interdependência, mesmo que o valor afetivo esteja rareando. As redes sociais podem aportar em maior isolamento e formação de guetos. Mas também agora acesso as redes sociais de alguém que vive na Índia, no Senegal, enfim, há facilidade de conexão.

Continua após a publicidade

O amor entendido pelo homem é muito diferente do da mulher? Desde os guerreiros gregos, ou o próprio Sócrates, trazem histórias amorosas entre homens. O que aconteceu é uma distorção das experiências em nome de um sentido que vai sendo dado para a História. Quando a gente chega no século XVII, a masculinidade está remetida para dentro da linguagem. Toda a experiência sensória, a experiência existencial, a necessidade de vinculação, vai sendo colocada fora do uso que a linguagem. As mulheres nunca foram julgadas pelas manifestações de afeto entre elas. Esse olhar é do ‘é homem ou não é homem’. Mais do que fazer julgamento moral, é julgamento funcional. ‘Eu preciso daquele homem num determinado lugar’.

Mas há diminuição dessas definições de amor entre homem e mulher? Os homens pensam ainda pouco sobre isso. Se pensam, é numa ótica sexualizada. O homem, quando fala de uma amizade, é muito superficial. É como se tivesse que pedir desculpas por ser homem, entende?

O amor ainda é atrelado a uma questão etária, não? Só os jovens podem amar. A gente espera hoje o amor de utilidade. Os mais jovens ainda podem ser tragados por vários tipos de discursos, por várias demandas. Pela necessidade de identificação, pela necessidade de pertencimento e pela necessidade de reconhecimento. Uma pessoa mais velha, não. O consumo é bem menor. A experiência de uma pessoa que viveu 80 anos não é de se jogar fora. Sem memória se perde a identidade.

Como superar o amor firmado na fase “que seja eterno enquanto dure”? Num determinado momento, a crença de que era eterno foi uma maneira de não ter que lidar com todos os terremotos que de um relacionamento. Esses caminhos alternativos, dos amantes, das saídas, vêm para preservar um modelo que não tem ferramentas para ser pensado. A gente não sabe como lidar com os conflitos. Sair do eterno, do que não é para sempre, é uma tentativa de encontrar um modelo híbrido. Mas não podemos perder a memória que nos trouxe até aqui, porque essa memória conta muito sobre nós.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.