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A volta por cima de Solange Almeida após depressão e vício em ‘vape’

Em entrevista exclusiva à coluna, cantora com maior número de shows no período junino revela a verdade sobre saída da banda ‘Aviões’

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 jun 2023, 12h00

Aos 48 anos, Solange Almeida é, no período de festas juninas, a artista que mais faz shows no país. Só neste mês, são 41. A impressionante marca em nada lembra os anos tenebrosos pelos quais passou desde que saiu da banda Aviões do Forró, que a alçou, ao lado do então parceiro Xand, como uma das maiores vozes do forró. Em dezembro de 2016 foi comunicada de que a banda acabaria e cada um seguiria seu rumo. Logo descobriu que tudo fazia parte do plano dos empresários para seguirem apenas com Xand. Sentindo-se acuada, concordou em divulgar numa entrevista ao Fantástico que escolheu a carreira solo. Mas o sentimento foi de traição.

Não parou aí. O Ministério Público Federal abriu investigação contra os empresários do Aviões, entre outros crimes, por sonegação de quase 300 milhões de reais em impostos – o que recaiu nos cantores, sócios da empresa. Até o ano passado, Solange estava com os bens bloqueados na Justiça. Ela deve cerca de 9 milhões à Receita Federal, que estão sendo quitados mês a mês. Por toda esta narrativa, desenvolveu crise do pânico, entrou em depressão e se entregou ao vício do cigarro eletrônico (ou “vape”), que quase comprometeu seus pulmões. Passada a fase aguda da crise, Solange deu a volta por cima. Alegre em cima dos palcos e com duas indicações a prêmios internacionais (Grammy Latino e WME Awards 2018), é chamada de “Marília Mendonça do nordeste” – pelos hits que reforçam o empoderamento feminino. Renovada, pensa em ser mãe pela quinta vez. Mas este plano é para o próximo São João.

Que balanço faz desses sete anos de carreira solo? Foi um reinício. Precisei aprender a fazer tudo sozinha, até a escolher as músicas. Fiquei um tempo perdida, sem direção, porque passei a vida inteira com pessoas me conduzindo. Estava acostumada a cantar um estilo, dito romântico, que chamavam de, entre aspas, parte lenta do show. Quis mostrar que não canto só o romântico.

Teve medo? Muito, mas só tive uma opção. Me falaram: ‘Você tem só dois meses para continuar na banda, depois segue tua vida’. Me desesperei.

Na época você declarou que saiu por vontade própria, para seguir carreira solo. Não foi isso? Não. Os dois donos majoritários da banda, Isaías e Carlos Aristides, me disseram que faríamos uma última turnê, onde sairíamos bem remunerados. Depois cada um seguiria sua vida: Xand com a carreira solo dele e eu com a minha. Mas em seguida, vi que não era isso, que eu estava fora. Disseram que a banda ia seguir sem mim, que eu teria só até fevereiro para ficar. No meio disso, os meus bens foram bloqueados.

Como foi isso? Houve uma investigação da Polícia Federal. Não só eu, mas todos do grupo foram envolvidos no processo. Fiquei com tudo bloqueado até o ano passado. Foi muito difícil, nem meu microfone eu trouxe de lá. Saí só com minha poltrona e meu micro-ondas. Foi difícil em todos os sentidos.

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Dispensaram somente você? No dia que me dispensaram, chamaram os músicos e disseram: ‘Tragam a carteira de vocês. A gente vai dar baixa e quem quiser continuar, continua; quem quiser seguir com a Sol, segue’. Quando chegaram lá, mandaram colocar na Justiça, que não iam pagar nada. Os músicos descobriram que já tinha até outra banda montada. Ou seja, foi tudo arquitetado para me tirarem. Só agora estou com coragem de falar disso sem mágoa, é a primeira vez que conto detalhes de como tudo aconteceu.

Sobre a investigação da Polícia Federal, qual foi o seu grau de envolvimento? Eu não tinha responsabilidade de assinar qualquer contrato, era apenas a cantora, não participava de negociação. Depois soube que falavam de mim pelas costas para outros empresários, que me odiavam. Era pintada como Patinho Feio, a problemática, a chata.

O que falavam? Vários empresários me disseram depois que tinham receio de mim, porque eu reclamaria de tudo. Não peço nada no camarim. Só quero meu cafezinho, meu pãozinho, não tem exigência de nada. Sempre fui simples. Hoje no meu camarim, se você entrar lá, tem arroz com frango, café e queijo coalho com tomate e manjericão. Eu era a culpada de tudo que acontecia de errado na banda, entende? Era a teste de ferro.

Como ficou sua situação com a Receita Federal? Passei 15 anos na banda e saí com uma dívida gigante com a Receita. A culpa não foi minha, meu contador era o contador deles. Tinha que ser contador de lá. Venho pagando a dívida até hoje, que ficou em quase 9 milhões de reais. Pago todo mês.

Você ainda fala com Xand? Saí da banda dia 27 de fevereiro de 2017. O aniversário dele foi dia 24 de março, já não fui convidada. A gente se viu numa reunião com advogados, em maio de 2017, para tratar do caso do processo. Depois nos encontramos no evento do Instituto Neymar, nos corredores. Falei para gente tomar um vinho que eu trouxe de uma viagem. Ficamos de marcar. Acabei tomando o vinho sozinha. Não existe mais amizade. Achei que a nossa relação seria duradoura, tanto que dei minha filha para ele batizar.

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Vocês subiram juntos no palco em 2021. Ali não foi selada a paz? Em dezembro de 2021, recebi convite da Gkay para ir à Farofa. Chegando lá, soube que Xand estava na festa. Fiquei dançando com meu marido, quando me chamaram para cantar. Xand também subiu. Fui de coração aberto. No dia seguinte, acordei com pedidos de programas de todas as emissoras, especulação de que recomeçaríamos uma turnê. Ali foi nosso último encontro. Não teve mais nada. Ainda mandei uma mensagem para ele de aniversário. Mas não me respondeu.

Participaria de um show com ele atualmente? Não me sentiria confortável. Perdoar alguém não é, necessariamente, trazer a pessoa de volta para sua vida. Não sou obrigada.

Ele fala com sua filha, a afilhada dele? Zero contato, cortou completamente os laços.

O salário dele era maior? Era. Porque ele participava das comissões de shows feitos pela empresa. Ele recebia o salário e recebia como sócio por fora.

Xand sabia que você estava sendo expulsa da banda? Com certeza. Soube que foi uma imposição dele, foi o que mais me doeu. Foi quando decidi entrar na Justiça contra a banda (ela pede indenização). Lá atrás briguei por ele, pedi para que cantasse a mesma quantidade de músicas e que ganhasse o mesmo salário que eu. Não sabia que ia levar uma punhalada dessa pelas costas.

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Nunca pensou em sair da banda? Em 2005, recebi convite para ir para outra banda, avisei que ia sair. Foi quando o pai do Carlos Aristides, o Zequinha, me disse: ‘Vamos lhe dar 5%, porque você é mulher. Começa com 5%, daqui a um ano vai para seis, sete, oito, até chegar nos 10 que Xand ganha’. Só que aí a coisa foi ficando difícil. Tinha show que eu ficava uma hora sem cantar. Me deixaram de lado.

Sente que foi vítima de machismo? Sim, é a mulher quem ganha menos, é a que não pode ter voz. Corro o risco de ser mais uma vez escrachada por falar isso. Vão dizer que estou querendo ibope. Quis falar isso na época, mas não me deixaram.

Como te censuraram? Assim que anunciaram que eu sairia da banda, mandaram a equipe do Fantástico até Raimundo Nonato, no Piauí, onde eu estava na véspera do natal de 2016, para me entrevistar. Me colocaram num quarto e disseram para confirmar que eu tinha decidido sair. Com medo, assumi a culpa, me senti acuada. Ficou um segurança na porta e armaram um cenário para a gente dizer: ‘Agora Solange vai seguir sozinha’. Foi muito desconfortável.

Armaram essa entrevista? Fizemos o vídeo sentados no sofá de um quartinho de hotel. Tiraram a cama, colocaram duas poltronas e gravaram para as redes sociais. O Fantástico cobriu meu último show, viajou comigo… E falei que estava saindo porque o ciclo tinha acabado. Não tinha coragem de contar a verdade, que estava sendo saída.

Entrou em depressão? Sim. Faço terapia até hoje, percebi que estava adoecendo com tanta mágoa. Estava me sentindo traída. E não queria aceitar aquilo. Não queria cantar, dava sempre uma desculpa para não ir aos programas de TV. Era difícil sair de casa.

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Hoje você é a cantora com maior número de shows no período junino. Isso é uma resposta a você mesma? Ai meu Deus do céu, tem sido uma colheita tão satisfatória. Existe tempo para colher. As pessoas estão vendo uma Solange mais madura, que hoje sabe o que quer, que se apoderou de uma história que também é dela.

Esse empoderamento fica claro no seu repertório. Sim, comecei a cantar no forró, há 20 anos, o que chamam hoje de sofrência. Tem uma música, Titular e absoluta, que diz: ‘Não nasci pra ser a outra, nasci pra ser a única titular e absoluta do seu coração’.

Por que o cigarro eletrônico quase te fez parar de cantar? Na pandemia fui apresentada a isso, me disseram que não fazia mal, que não tinha nicotina. Comecei a comprar de vários sabores. Cheguei a ter um em cada uma das cinco bolsas que mais uso, dentro do carro, na gaveta da cozinha… E foi me dando dificuldade de respirar, problema nas cordas vocais… Fiz exame e descobri o pulmão prejudicado. Aí minha filha me mostrou uma matéria sobre uma menina internada por uso do cigarro. Naquele dia decidi que não mais usaria. E foi o que fiz desde 2 de outubro de 2021.

Sentiu falta? Muita, comecei a ter crise de ansiedade, de pânico e depressão. Foi terrível. Foi quando tive que ir ao psiquiatra. Comecei a fazer uso de remédios para dormir, para cuidar da ansiedade…

Ainda faz uso dos remédios? Faço para poder manter a serenidade e equilíbrio. Falo isso porque também preciso mostrar que sou suscetível a erros. Posso errar assim como ensinar outras pessoas.

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Nos seus shows, você inclui seu filho Rafael Almeida para cantar. Foi natural o envolvimento com a música? Nunca foi pressão, pelo contrário. Quando ele quis tocar violão, pediu ao pai, aos 13 anos. Aprendeu sozinho. E começou a compor aos 15, quando quis lançar a carreira. Eu disse que não estava pronto. ‘Não quero que você seja chacota das pessoas, que digam que te carrego nas costas’. Ele foi estudar e hoje não me meto na carreira dele. Tem a vida dele.

Seus outros filhos também têm essa veia artística? Ah, meu Deus do céu! Você não acredita. Se te mostrar um vídeo, vai dizer: ‘Tu tá brincando que essas aqui são tuas filhas cantando’. É espetacular.

Quer ser mãe de novo? Quero. Vou fazer 49 anos e quero engravidar. Embora saiba que exista tabu com mães maduras. Me dói ver esses ataques vindo de mulheres. O que a Claudia (Raia) passou me incomodou tanto, me senti na pele dela. Quando digo que quero ser mãe, dizem: ‘Numa idade dessa? Vai curtir sua vida’. Como se nós tivéssemos data de validade. Qual é o direito que as pessoas têm de opinar no meu corpo, nos meus sonhos? É invasivo demais.

Congelou os óvulos? Sim, fiz isso já pensando em ser mãe quando estivesse mais tranquila. E vai dar certo. Pretendo cantar grávida no São João do ano que vem, aos 50 anos, se Deus quiser.

Solange Almeida -
Solange Almeida – (Fred Pontes/Divulgação)
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