A primeira mulher a presidir o Superior Tribunal Militar fala dos desafios
'Se hoje eu pude ser uma presidente, é porque muita sufragista morreu para eu estar lá', diz Maria Elizabeth Rocha
O livro NÓS… Mulheres do Século Passado, idealizado pela professora e escritora Vilma Piedade, é uma coletânea de histórias escritas por 76 autoras de diferentes origens e trajetórias, cores, orientações sexuais, idades e profissões. São relatos individuais, que, em seu conjunto, compõem um olhar feminino sobre temas abrangentes. A primeira mulher a presidir o Superior Tribunal Militar, Maria Elizabeth Rocha, uma das autoras da obra, conversou com a coluna sobre o cargo e os desafios enfrentados na instituição.
“O desafio é exatamente quebrar os paradigmas e estereótipos patriarcais, que, apesar de a gente já ter virado o milênio, apesar de os costumes terem mudado, eles ainda existem e persistem. Então realmente é difícil para uma mulher, principalmente para uma mulher do século passado, como eu, romper essas barreiras. Eu acredito que as novas gerações serão mais beneficiadas, o que não significa que elas não lutaram. Porque os direitos civis não são dados, eles são conquistados e com muita luta, por vezes até sangrenta, como foi o caso das sufragistas. Se hoje eu pude ser uma presidente do Superior Tribunal Militar, é porque muita sufragista morreu para eu estar lá. Como os negros, como as mulheres, como os indígenas, as minorias ainda precisam lutar muito, em estados que se dizem democráticos de direito. Eu ingressei no tribunal há 16 anos, e eu senti mudanças, mas isso não significa que não existem barreiras e obstáculos, eles existem, mas não há como retroceder. O patriarcalismo, como o racismo, é estrutural. É preciso que haja uma mudança de mentalidades.”