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“A escalada da violência contra nós tem crescido com aval do governo”

Laura Castro, atriz e roteirista do filme ‘Aos nossos filhos’ e ativista da causa LGBTQIAPN+, fala a VEJA

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 28 jul 2022, 12h00

Aos nossos filhos, estreia nesta quinta-feira, 28, estrelado por Marieta Severo, José de Abreu e Laura Castro, sob direção de Maria de Medeiros. Conta a história de Vera, mãe dedicada, divorciada após três casamentos e vive numa família que inclui filhos e enteados. Destemida, ela já pegou em armas para lutar contra a ditadura e morou em diversas partes do mundo. Tânia, sua filha, vive um casamento prestes a completar 15 anos com outra mulher, grávida do primeiro filho. Juntas, descobrem a beleza de fazer parte de uma família contemporânea. A roteirista e atriz do longa Laura Castro, 40 anos, ativista da causa LGBTQIAPN+, conversa com a coluna sobre as temáticas que permeiam seu novo projeto e dá pistas de seu segundo longa como roteirista, Tanto Mar, que terá Camila Pitanga como protagonista. Confira a seguir.

O filme Aos nossos filhos é baseado na sua experiência como mãe lésbica, que também passou pelo processo de inseminação? Sempre quis ser mãe. Sempre. Desde criança tinha boneca-filha que andava comigo pra cima e pra baixo. Quando me entendi lésbica nunca achei que isso me impediria e comecei a ler, estudar meios:  da adoção à inseminação, chegando à fertilização. Tive filho por todos esses meios! O que não quer dizer que tenha sido processo simples. No filme fiz questão de escrever a figura de um pai bem presente e bacana (interpretado pelo Zé de Abreu), para que fique claro que a questão não é com a figura do pai, essa não é necessariamente o problema, apenas aquela configuração familiar não inclui essa figura. E tudo bem.

Sua primeira filha foi o segundo registro com o nome de duas mães na certidão de nascimento no Rio de Janeiro. Que lutas precisou travar neste pioneirismo? Então, quando a Rosa nasceu, já conhecíamos a Renata Granha, advogada que ganhou pela primeira vez a adoção unilateral no para que a outra mãe pudesse registrar seu filho. No caso, a outra mãe era ela mesma. Ela e a esposa tiveram outra filha, também em 2010, data do nascimento da Rosa. Ela então passou a representar algumas amigas e Rosa, junto com Julia (filha de Renata e Monica) conseguiram esse registro. O processo levou um ano. Eu tive muito medo, não estava no registro da minha filha e isso pra mim era desesperador.

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O filme parece, mais do que sobre maternidade, sobre conquistas particulares diante de resistências externas de todos os lados (sociais, familiares, políticas etc). É sobre que mundo deixamos aos nossos filhos. E isso junta conquistas pessoais e sociais/políticas. As coisas se misturam. Maria de Medeiros falou outro dia na pré-estreia e concordo plenamente: nossas conquistas individuais são também políticas, como nossas vidas privadas ecoam a sociedade.

Nos últimos anos, a luta da diversidade enfrenta resistência inclusive política. É possível pensar em avanços? Não acho possível falar de avanço, mas de resistência. Tem um caminho sem volta. Meus filhos, por exemplo. Eles têm duas mães de papel passado e não deixarão de existir. Hoje, mais que ontem, existe uma comunidade LGBTQIAPN+ ciente de seus direitos, identidades, possibilidades e lugares. Vai ser difícil apagar todo mundo. Mas, sem dúvida, a escalada da violência contra nós tem crescido com aval do governo. Não quero nem imaginar o que aconteceria na hipótese de uma reeleição.

Você acaba de desenvolver seu segundo longa como roteirista, Tanto Mar. Por que escolheu Camila Pitanga como protagonista? Escrevi em 2020, em plena pandemia. Trata-se de uma saga lusófona em três países e três décadas diferentes, sobre os direitos (falta de direitos) das mulheres em diferentes tempos e lugares mostrando a arbitrariedade disso tudo. É um manifesto pelos direitos das mulheres. Meu encontro com a Camila se deu através da minha mulher, a atriz Cristina Flores, que é amiga dela há bastante tempo. Quando escrevi o roteiro, a Camila estava vivendo um relacionamento com uma mulher e tive a intuição de que entenderia com profundidade o roteiro. Vou dirigir com a cineasta moçambicana Yara Costa.

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Ainda na TV, trabalha em Fé em Deus e Pé na Tábua, sobre mulheres religiosas e progressistas. O que você aprendeu fazendo este projeto? Muita coisa! A ascensão de uma bancada evangélica na política e de um maior fundamentalismo religioso no país dá medo. Política e religião andando juntas é algo temeroso. Os fundamentalismos que condenam e excluem os demais geram extrema violência. É quase natural condenar a religião como um lugar de pessoas retrógradas, conservadoras e até perigosas. Mas não é bem assim. Existem feministas evangélicas, feministas judias, feministas católicas, as feministas do candomblé… E o que é ser feminista? É afirmar o lugar da mulher dentro e fora da religião.

De que forma acredita que a causa LGBTQIA+ ainda precisa avançar no Brasil? A possibilidade de registro para crianças concebidas por duas mães ou dois pais, mas que não utilizam método de reprodução assistida, ou seja, não possuem os documentos médicos que hoje são pedidos para o registro. Mas o principal a se combater neste momento é a LGBTfobia que gera violência crescente. É esse imaginário fomentado pelo atual governo de que é ok e até bem-vindo ser LGBTfóbico. Isso tem gerado consequências devastadoras.

Laura Castro e Marieta Severo em cena -
Laura Castro e Marieta Severo em cena – (./Divulgação)
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