Ministros brigam entre si porque, ao final do dia, disputam um prêmio etéreo, a atenção do presidente. Todo o resto – verbas do orçamento, tuítes malcriados e pretensões eleitorais – são pretexto. O que importa no exercício do poder é o acesso e a influência sobre o presidente. É por isso que os ministros Paulo Guedes (Economia) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) não se falam mais. Foi por isso que na sexta-feira, o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) chamou o seu colega general Luiz Ramos (Secretaria de Governo) de “banana de pijamas” e “Maria Fofoca”. No domingo, 25, Salles afirmou que havia apresentado “suas desculpas pelos excessos” e que o episódio está superando. Você acredita? Nem eu.
Para entender o barraco no governo Bolsonaro é preciso, primeiro, saber que o presidente prepara uma reforma ministerial para 2021. Isso pode significar uma alteração na dinâmica do poder entre as cinco alas hoje representadas no governo: a militância radical, militares, Centrão, evangélicos e mercado financeiro.
Por contingências, hoje a ala militar está super-representada. Nem nos governos da ditadura havia tantos oficiais com cargos de ministro ou em cargos de confiança. Quem conseguiu esse feito foi o ministro general Luiz Ramos. Por isso que ele foi escolhido como alvo da ala radical – ligada aos filhos do presidente e vocalizada pelo youtuber Olavo de Carvalho – e que tem em Ricardo Salles uma de suas marionetes.
Ramos é odiado pelos radicais porque foi diretamente responsável pela entrada no Centrão no governo e pelo fim das ameaças de Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal. É ingenuidade achar que Bolsonaro foi moderado pelo general, mas também é fato que os militares foram hábeis em convencer o presidente que ele (1) não teria apoio para uma intervenção militar, mas (2) tinha espaço para um acordo no velho toma-lá-dá-cá com o Centrão.
Como escreveu a repórter Andreia Sadi, da GloboNews, “o acordo com Centrão foi costurado por diversos ministros, mas só foi para frente pois foi determinado — e avalizado — pelo presidente da República. Mas, nas palavras de um assessor presidencial: “Como eles não podem atacar o presidente, atacam o entorno e sempre alguém paga o pato”” .
No piti pelo Twitter na semana passada, Ricardo Salles teve o apoio inicial de Eduardo Bolsonaro e no domingo do vereador Carlos Bolsonaro. “Eu seria capaz de chutar quem inventou essa historinha de gabinete do ódio e desde então ventilou para a imprensa suas derivações….mas vou ficar quieto! Seguimos!”, escreveu Carlos, considerado o líder da milícia digital bolsonaristas, eixo da campanha vitorioso de 2018 e competente na destruição de reputações de inimigos e ex-aliados.
Desde a semana passada, a milícia bolsonarista ataca sem piedade outro general, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Ele foi chamado de traidor por ter, inicialmente, concordado em comprar as vacinas a serem produzidas pela fármaco chinesa Sinovac e o Instituto Butatan. Sob a ótica bolsonarista, o general cometeu dois crimes: ajudou a campanha presidencial do governador João Doria e submeteu o Brasil aos interesses da China.
Com a reforma ministerial se aproximando, a briga vai piorar. O ministério tem hoje uma vaga, a da Secretario de Governo, que pode ir para o almirante Flavio Rocha, ampliando o número de oficiais no primeiro escalão. Os radicais tiveram duas derrotas nos últimos meses: perderam o Ministério da Educação para os evangélicos quando da queda de Abraham Weintraub, e o controle das verbas publicitárias para o Centrão do deputado Fabio Faria. O Centrão joga ainda para dividir o Ministério da Economia e recuperar para si as pastas de Trabalho e Indústria e Comércio.
O presidente assiste a brigalhada da equipe sem fazer nada, como se não tivesse autoridade para impor. Como dito no início, ministros brigam pela influência sobre o presidente. E brigam mais ainda quando tem um presidente que muda de ideia conforme é influenciado por um ou por outro lado.