Não se fala em outra coisa nos conselhos de administração das empresas, nas lives dos executivos do mercado financeiro e nas rodas de uísque dos deputados: é preciso achar um nome alternativo ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou a eleição de 2022 será uma espiral de radicalização tendo como saldo um país ainda mais polarizado a partir de 2023. Este nome alternativo, batizado de Terceira Via, representaria um desejo nacional pela moderação e a rejeição natural dos brasileiros aos extremismos. Desde que Lula recuperou os direitos políticos, este raciocínio simplista virou quase unânime. O problema é que a premissa dele parece ser falsa.
Cruzamento de dados feito pela DataPoder mostrou que apenas uma minoria de 12% dos eleitores rejeita ao mesmo tempo os candidatos Lula e Bolsonaro, índice incapaz de emocionar qualquer eleição. De acordo com a pesquisa, num eventual primeiro turno Lula teria 34% ante 30% de Bolsonaro. Quando esses 12% que rejeitam os dois candidatos são apresentados a uma lista das alternativas possíveis, 28% dizem pretender votar branco ou nulo.
A mesma pesquisa revelou um leitura equivocada de parte da elite sobre o humor do eleitorado. Os candidatos mais rejeitados não são Lula e Bolsonaro, mas duas opções da centro-direita, João Doria e Sergio Moro. De acordo com o levantamento, 40% dos eleitores não votariam em Lula de jeito algum, 53% recusam Bolsonaro, 54% não querem Luciano Huck, 56% repelem Ciro, 60% renegam Moro e 65% repudiam Doria.
Mas as notícias ruins para quem aposta na terceira via que rompa a polarização não param aí. Uma comparação entre três levantamentos do PoderData, os primeiros de julho e agosto de 2018 e o último neste mês de março, mostram que a opinião geral dos pesquisados sobre o presidente e o ex-presidente melhoraram no período. No início da campanha de 2018 – quando Lula estava preso, mas recorria para tentar ser candidato, enquanto Bolsonaro liderava as pesquisas, mas não havia sofrido ataques nas propagandas de TV – , entre 65% e 67% dos eleitores consultados diziam que não votariam em Bolsonaro. Hoje a rejeição caiu a 53%. À época, a rejeição a Lula estava em 60%. Agora, 40%.
Isso não implica, necessariamente, que o primeiro turno da eleição de 2022 está fadado a ser um treino para o confronto final entre Bolsonaro e Lula. Como no aforismo atribuído ora a Magalhães Pinto, ora a Tancredo Neves, política no Brasil é como nuvem: “Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. Se existe uma constante na política brasileira é a inconstância.
Os números, no entanto, mostram que mesmo que a centro-direita e parte da centro-esquerda se unam em torno de um único nome, o que não será simples, esse novo candidato terá um trabalho hercúleo para quebrar a dicotomia. Bolsonaro e Lula são conhecidos por quase 100% dos eleitores e quase todos já tem suas opiniões formadas sobre eles. Não precisam gastar tempo se apresentando ou justificando. Eles são o que são.
Já o terceiro nome – seja Sergio Moro, Luciano Huck, João Doria, Luiz Henrique Mandetta ou Eduardo Leite- terá um longo trajeto para dizer quem é e a que veio. Só que com o país chorando seus mortos por Covid-19 e afundando numa retração econômica, vai ser difícil achar quem preste atenção.
A elite que quer tirar do colete uma terceira via tem duas grandes opções: a primeira é antecipar a escolha do seu nome favorito e torcer para que ele seja competente em atrair para si eleitores menos firmes do presidente e do ex-presidente. Ou se preparar para a realidade de que são essas as opções dadas e abrirem seus canais com Bolsonaro e Lula.