A tragédia do Rio Grande do Sul revelou um novo governo Lula. A displicência e letargia que marcaram os últimos meses foram substituídas por um governo que mostra real empatia com as vítimas, velocidade na tomada de decisão e um poder de articulação institucional só visto depois da tentativa de golpe de 8 de Janeiro. O drama das centenas de milhares de desabrigados e a destruição de um dos estados mais ricos do país deram ao presidente Lula da Silva um senso de urgência que os brasileiros não viam desde o fim do segundo mandato.
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Momento de grande comoção são eventos raros que podem definir o futuro de governo. A primeira-ministra britânica Margareth Thatcher vivia seu pior momento quando em 1982 liderou a Guerra das Malvinas e pôde permanecer no cargo por mais oito anos. O presidente norte-americano George W. Bush se tornou um pato manco depois de fracassar na ação federal para ajudar as vítimas do furacão Katrina, no estado Mississipi, em 2005. Mais recentemente, a reação à pandemia de covid foi crucial para impedir a reeleição de Jair Bolsonaro e Donald Trump.
Dados da recente pesquisa Genial/Quaest mostra que a inundação no Rio Grande do Sul é considerada “muito grave” por 92% e 94% dos entrevistados se dizem “preocupados” com as possíveis consequências econômicas das enchentes. O governo Lula tem, neste momento, algo bastante raro em tempos de comunicação fragmentada: a atenção e o interesse da população. Isso implica que a responsabilidade do governo Lula agora não é apenas agir para atenuar o sofrimento dos gaúchos, mas liderar o esforço de reconstrução do Estado.
Pelos dados da pesquisa, realizada entre os dias 2 e 6 de maio, o governo Lula está se saindo bem até aqui. Embora não seja visto como o principal responsável pela tragédia, 53% aprovam o trabalho do governo Lula até aqui. Embora os aplausos estejam nos mesmos níveis da aprovação geral do governo (50%), é notável que a parcela da população que critica a ação federal no Rio Grande (23%) é menor que a reprovação sobre a atuação geral do governo Lula (47%). Existe, portanto, uma janela para Lula mostrar serviço para eleitores que, no geral, não gostam dele e do seu governo.
A principal notícia da pesquisa Genial/Quaest foi apontar, pela primeira vez, que a maioria dos brasileiros (49%) considera que o Brasil está indo no rumo errado. A sondagem mostrou ainda que cresceu de 56% para 63% a fatia dos eleitores que considera que Lula não tem conseguido entregar as promessas de campanha.
“Grandes crises”, diz um aforismo atribuído ao britânico Winston Churchill, “são oportunidades que não devem ser desperdiçadas”. Se mantiver o comprometimento com a recuperação dos gaúchos e espalhar esse empenho para outras áreas da gestão, Lula tem a chance de recuperar o favoritismo para a reeleição de 2026. É fato que essa virada só vai acontecer com uma profunda reforma ministerial e uma mudança na mentalidade do ministério, por qualquer comparação o mais apático dos três mandatos de Lula.