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Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.
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Review: ‘Nixon’s the One’

Entre janeiro e fevereiro, o canal Sky Arts da Inglaterra exibiu a série Nixon’s the One, produção que surgiu a partir de um episódio piloto apresentado em 2012 no Playhouse Presents. Esta é uma sessão de telefilmes que já gerou séries de TV. Além de Nixon’s the One, também saíram de lá A Young Doctor’s Notebook e […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 31 jul 2020, 04h09 - Publicado em 30 mar 2014, 14h57

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Entre janeiro e fevereiro, o canal Sky Arts da Inglaterra exibiu a série Nixon’s the One, produção que surgiu a partir de um episódio piloto apresentado em 2012 no Playhouse Presents. Esta é uma sessão de telefilmes que já gerou séries de TV. Além de Nixon’s the One, também saíram de lá A Young Doctor’s Notebook e o humorístico Psychobitches.

Nixon’s the One é uma série criada pelo ator Harry Shearer, a voz do Sr. Burns em Os Simpsons, e por Stanley Kutler, professor e historiador que, em 1996, entrou com um processo contra o Arquivo Nacional para que este liberasse para o público as mais de 198 horas de gravações realizadas secretamente pelo então Presidente americano Richard Nixon entre 1971 e 1973. As fitas tornaram-se públicas em 2008 pela Nixon Presidential Library. A maioria dos tapes não foi transcrita, existindo apenas o áudio que não tem a mesma qualidade das gravações de hoje em dia.

As gravações eram ativadas pelo som. Por isto, muitas vezes, Nixon se esquecia que suas conversas estavam sendo gravadas, o que o levava a se expressar livremente. Através desse arquivo, foi possível traçar um perfil de algumas das pessoas que formavam os bastidores da administração de Nixon.

Quando Shearer e Kutler desenvolveram o projeto, eles sequer pensaram em oferecê-lo aos canais de TV dos EUA. Isto porque, querendo ser fiéis ao original, eles não estavam dispostos a censurar o conteúdo. Repleta de comentários preconceituosos, as gravações oferecem diálogos que criticam livremente judeus, negros, latinos e homossexuais.

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Embora as produções americanas, em especial aquelas da TV a cabo, busquem situações e diálogos que possam chocar o público, elas ainda exploram temas considerados seguros. Quando não, elas se protegem mergulhando na ficcionalização do tema ou retratando-os em versões animadas. Com algumas exceções, a maioria dos personagens de séries de TV que tratam temas polêmicos são criminosos, policiais corruptos ou pessoas comuns que tomam a decisão errada (propositadamente ou não) e precisam aprender a lidar com isso. Geralmente, quando as produções tentam retratar com mais fidelidade questões polêmicas com fatos verídicos e pessoas reais que representam o poder, elas correm o risco de ser censuradas.

Temos como exemplos recentes a minissérie The Kennedys, que teve sua exibição no History Channel americano censurada pela família, e Hillary, projeto de minissérie da rede NBC que precisou ser descartado para que o canal não sofresse boicote do partido Republicano durante as eleições (eles consideraram a produção uma ferramenta de campanha política). Também poderíamos colocar na lista os projetos de série The Vatican e Possible Side Effects, ambos descartados pelo Showtime. A primeira girava em torno dos bastidores do Vaticano e seu sistema político; a segunda retratava os bastidores da indústria farmacêutica. Sátiras como as britânicas Yes, (Prime) MinisterThe Thick of It não conseguiriam ser produzidas pela TV americana, que atualmente opta em oferecer uma versão mais segura, Veep.

Embora Nixon seja uma figura importante da história dos EUA, seu governo não chegou a ser ‘dissecado’ por uma minissérie ou seriado. O mais próximo que este formato chegou de Nixon é a minissérie Washington: Behind Close Doors, que retrata indiretamente seu governo. Inspirada na obra de John Ehrlichman, ex-assessor de Nixon, a história acompanha o governo do Presidente Richard Monckton (Jason Robards). Este é uma versão ficcional de Nixon que enfrenta uma situação à la Watergate. O próprio governo de Nixon chegou a ser retratado no telefilme The Final Days, no qual Lane Smith interpreta o Presidente, que enfrenta o escândalo Watergate.  Nas séries de TV temos, no máximo, sua presença em episódios ou em referências a alguma situação vivida pelos personagens. Nos EUA, Nixon ainda é um tema tabu.

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Assim, Shearer e Kutter foram atrás da TV britânica, mais precisamente do grupo Sky, que pertence a Ruppert Murdoch, proprietário da Fox nos EUA, onde Shearer tem contrato com a série Os Simpsons. O projeto foi entregue ao Sky Arts, que em 2012 decidiu produzir um especial/piloto para testar a audiência. A boa receptividade crítica levou o canal a encomendar mais cinco episódios, que fazem parte da primeira temporada, exibida este ano.

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Shearer e Johnson como Nixon e Ehrlichman

Produzida pela Hat Trick Productions, a série é situada na sala da presidência. Segundo Shearer em entrevistas, os diálogos são reproduções exatas daquilo que foi gravado, sem tirar nem por, incluindo as entonações e pausas. Para compor os episódios, Shearer e Kutler passaram horas selecionando os trechos das gravações que seriam interessantes reproduzir. Tendo em vista a forma como as gravações foram feitas, a diretora Sasha Ransome optou por filmar a série com uma câmera ‘escondida’, em standard (e não HD). Na série, a câmera representa o gravador de áudio.

Shearer, um ex-professor de estudos sociais que trocou a carreira pela de comediante, interpreta Nixon. Para tanto, precisou passar quatro horas diárias na cadeira do maquiador para se transformar no Presidente. Para reproduzir a voz de Nixon, Shearer estudou seu tom de voz e os maneirismos. O resultado é tão parecido com o original que em algumas horas chegamos a nos questionar se o que estamos ouvindo é o ator ou a gravação do Presidente.

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Apesar de Nixon ser lembrado pelo escândalo Watergate e por sua posição na guerra do Vietnã, a série não tem como objetivo discutir as decisões políticas de seu governo, mas a de expor as opiniões que ele e os membros de seu gabinete tinham em relação à sociedade e políticos da época, revelando um pouco da personalidade de cada um.

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Nixon’s the One, título que faz referência à campanha presidencial de 1968, não segue uma narrativa linear. Ela é composta de momentos. Cada bloco traz um tema abordado por Nixon e pelas pessoas que frequentavam o gabinete do Presidente, sendo que cada bloco é introduzido por David Frost, jornalista que ficou mundialmente conhecido quando entrevistou Nixon (situação retratada no filme Frost/Nixon).

Este é o último trabalho de Frost, que faleceu em agosto de 2013. A presença de Frost foi introduzida na série. Ele não aparece no piloto exibido em 2012. Depois de assistir ao episódio, Frost, entusiasmado pelo resultado, entrou em contato com a produção se oferecendo para ajudar no que fosse possível, caso a série fosse produzida. Quando a temporada foi aprovada pelo canal, a produção decidiu incluir Frost, que tinha a responsabilidade de contextualizar o conteúdo que cada segmento trataria.

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A série é toda feita de diálogos. Ela não se apóia na ação ou em situações que promovem reviravoltas para deixar o público na ponta da poltrona se perguntando ‘e agora, o que vai acontecer?’. Como já dito aqui, ela é montada em torno das opiniões de cada personagem em torno de um tema. O único movimento que ocorre na série é a ação dos personagens de andar pelo gabinete (quando isto ocorre, já que na maior parte das vezes eles estão sentados).

A história acompanha as conversas entre Nixon, um homem paranóico e obcecado pelo poder, com uma visão preconceituosa em relação a diversos grupos sociais e étnicos, com Henry Kissinger (Henry Goodman), conselheiro de segurança nacional, Bob Haldeman (Demetri Goritsas), chefe de gabinete, Ehrlichman (Corey Johnson), conselheiro de assuntos domésticos, Rose Mary Woods (Nancy Crane), secretária, Stephen Beekman Bull (Tony Denman), assistente de Nixon, Billy Graham (Andrew Hall), líder evangélico, Oral Roberts (John Gerrasio), evangélico que comandava um programa de TV, entre outros.

Kissinger e Nixon

Goodman e Shearer como Kissinger e Nixon

Ao longo dos episódios vemos a relação entre Nixon e Kissinger, que tem como hábito bajular o ego do Presidente. Embora sinta-se livre para se gabar e discutir suas opiniões com ele, Nixon não confia em Kissinger por este ser judeu, o que leva o Presidente a pedir a Haldeman que grampeie seu telefone. Por outro lado, quando Nixon recebe a visita de pessoas que não fazem parte de sua administração, ele se torna vítima das circunstâncias, assumindo uma postura de submisso ou entediado, não se manifestando,  esperando apenas o tempo passar para que possa voltar à sua rotina. O episódio em que Roberts tenta explicar o poder da televisão à Nixon é um dos destaques da série; um outro é o episódio em que o Presidente questiona se ele pode mandar investigar pessoas e quais as implicações que isso teria sobre sua administração.

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A narrativa é lenta, muitas vezes cansativa, tendo em vista a forma como ela é apresentada, mas vale a pena conferir. Apesar da quantidade de diálogos à disposição, não há expectativa de que a série seja renovada para sua segunda temporada. O próprio Shearer não está contando com a renovação, embora diga não ter coragem de se recusar a interpretar Nixon novamente.

A primeira temporada encerra com os bastidores da renúncia do Presidente. A cena retrata não apenas o discurso de renúncia, mas também os minutos que antecederam a transmissão ao vivo. Esta cena foi possível graças a um engenheiro de som que, no momento em que Nixon entrou na sala, ligou o gravador, registrando os diálogos entre o Presidente e a equipe de TV.

Ainda não há previsão de quando a série será lançada em DVD no mercado internacional, mas até há pouco tempo ela podia ser vista no site de streaming do Sky, disponível para quem mora ou visita o Reino Unido.

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Cliquem nas fotos para ampliar. 

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=kyOsNARaHAM&w=620&h=330%5D

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