Xuxa se consagra Drag Queen em novo reality: ‘Faço parte deste mundo’
Em 'Caravana das Drags', apresentadora vai de rainha dos baixinhos a "queen dos LGBTQI+" ao lado de Ikaro Kadoshi; confira entrevista de ambas a VEJA
Um palco de estúdio coberto por purpurina, figurinos coloridos, perucas e luzes estroboscópicas sugere que o que se vê poderia ser algum Xou da Xuxa do final da década de 1980. A realidade, por assim dizer, é mais noturna. Produto da extravagância da apresentadora mais famosa do Brasil, Caravana das Drags é o novo reality de competição do Amazon Prime Video, que estreia na seta-feira, 14 de abril. Nele, dez competidoras tão adeptas à fantasia quanto Xuxa disputam o título de “Soberana da Caravana” e o prêmio de 150.000 reais. O diferencial está no nome: ao invés de estarem presas a uma cidade, as drag queens viajam por oito estados do país, do Rio de Janeiro ao Pará, enfrentando desafios pensados a partir das culturas locais.
Afastada da apresentação desde 2019 — quando foi ao ar a última temporada de Dancing Brasil, na Record TV —, Xuxa retorna à função acompanhada de Ikaro Kadoshi, drag paulistana que por quatro temporadas comandou o programa de transformação Drag Me As A Queen no canal E!. Completamente entregue à sua relação com o público LGBTQIA+, Xuxa diz: “As pessoas perguntam ‘o que ela tá fazendo aí?’ Eu estou aqui porque faço parte deste mundo há muito tempo, mesmo que não queiram aceitar.”
Em entrevista à VEJA, ambas as apresentadoras elucidaram as intenções da nova competição televisiva e teceram comentários sobre a posição da arte drag na sociedade brasileira e mundial. Para Xuxa, a Caravana chega após décadas de esforço por um trabalho no universo drag, sentimento que a apresentadora descreve com a expressão “pinto no lixo”. Ikaro diz que realizar o programa é “um sonho de 23 anos de carreira”, realizado em um mundo que “sempre diz: você não pertence a lugar nenhum, a não ser um palco de uma boate”. Procurar evidências disto não é difícil: no mês passado, o estado do Tennessee, nos Estados Unidos, aprovou uma lei que proíbe apresentações de drag em público ou para crianças. Segundo a drag queen, a situação por aqui não é muito diferente: “vivemos num país de repressão sexual e de falta de educação”.
Xuxa, no entanto, se encontra em uma posição única: tanto rainha (dos baixinhos) quanto (drag) queen, ela serve como ponte entre a pedagogia e a promoção do respeito à diversidade sexual, caminho que a ela veio naturalmente: “Vi os meus baixinhos crescerem, se transformarem em jovens e dizerem a mim ‘eu consigo ser eu porque você me fez acreditar que tudo pode ser’. Quando eu vi, eram drags, ou alguma letrinha ‘LGBTQIA+’ na minha frente”. Na Caravana, essa naturalidade busca ser exposta pela leveza do humor e pelos talentos e histórias das competidoras — além, claro, dos cacoetes dramáticos típicos de um reality show, dos barracos às histórias de superação.
Competem à coroa as artistas Chandelly Kidman, DesiRée Beck, Enme, Frimes, Gaia do Brasil, Hellena Borgys, Morgante, Ravena Creole, Robytt Moon e Slovakia, dos mais variados estilos e experiências, todas marcadas pelos filmes, músicas e aparições televisivas de Xuxa. Ela, porém, afasta conexões entre sua influência e as identidades de seus fãs: “Não podem dizer que eu estou estimulando isso ou que a Ikaro está estimulando. Se eu não existisse, a comunidade LGBTQIA+ continuaria no mundo todo.”
Com estreia global marcada para o dia 14, o reality espera uma primeira temporada de sucesso para seguir mostrando o Brasil e seu universo drag ao mundo, diz Xuxa. Enquanto segura os ânimos que antecipam a recepção do público, Kadoshi recupera a expressão “palhaço de luxo”, antigo termo usado para se referir a drag queens contratadas para animar eventos: “A gente nunca deixou de ser de alguma forma ‘palhaça de luxo’, porque o palhaço tem a vocação de transformar o seu choro em riso e de tirar a dor do seu coração, de transformar a sua vida de maneiras que você não conhece. É isso que a drag queen faz e é isso que o Caravana Das Drags vai fazer.”