Aos 33 anos, Thati Lopes é uma figurinha carimbada em vídeos do Porta dos Fundos, mas não se contenta em atuar apenas em esquetes de menos de 5 minutos ou nos filmes da trupe de comédia. Atualmente, está em cartaz com o longa La Situación, comédia estrelada ao lado de Natália Lage e Júlia Rabello, e em breve estreará no horário nobre da Globo na novela Terra e Paixão, próximo folhetim das 9 de Walcyr Carrasco. Em entrevista a VEJA, Thati fala sobre seus novos projetos, reflete sobre a carreira e dá sua opinião sobre a nova geração de humoristas advinda da internet. Confira:
Você acabou de estrelar o filme La Situación, uma comédia peculiar sobre a jornada de autodescoberta de três mulheres. Como foi encontrar o tom da sua personagem, Yovanka, uma hippie liberal e meio maluca? Foi difícil porque eu sabia que ela era bem livre, espontânea, intensa, mas precisei dosar para não ficar algo exagerado. O que ajudou bastante foi o trabalho de mesa com as outras atrizes, juntas construímos essas três personagens diferentes. A Yovanka é “deixa a vida me levar”, bem fora da caixa, mas eu tentei fazer de um jeito que gerasse identificação também.
Em breve você lançará Viva a Vida, filme com Rodrigo Simas e outro no estilo “road movie” (filme de estrada). Se sente apegada a esse gênero? É engraçado que estou fazendo vários filmes desse estilo, mas isso é só porque surgiram as oportunidades, não fui eu que defini. La Situación tem protagonismo feminino, uma história sobre tomar rédeas da própria vida, ter crescimento pessoal. Enquanto Viva a Vida é uma comédia romântica mesmo.
Falando em comédia romântica, seu longa Esposa de Aluguel, com o Caio Castro na Netflix, chegou a entrar no top mundial. Por que acredita que fez tanto sucesso? Eu acho que ele teve muito marketing boca-a-boca, sabe? Porque muitos filmes são divulgados em outdoors, na TV, na internet, e eu senti que o Esposa de Aluguel não tanto. Foi muito interessante ver que pessoas de outros países assistiram, gringos me mandavam mensagem nas redes sociais, pessoas me pararam em um shopping de Israel, onde eu estava gravando o Viva a Vida, porque me reconheceram.
Como integrante do elenco do Porta dos Fundos e uma das expoentes da comédia atual, acredita que as mulheres já conquistaram o merecido espaço na comédia? Eu acho que cada vez mais as coisas estão melhorando para o nosso lado, caminhando para um lugar que a gente quer, porque ainda tem um pouco do estereótipo da mulher de comédia, que “precisa ser feia” ou “uma bonitona burra” para ser engraçada. Espero que tenhamos muito mais histórias além disso, com mulheres fortes contando suas próprias histórias. O curioso também é que eu não me acho comediante, me considero uma atriz que faz comédia. Quero poder fazer drama e outros gêneros.
Você está no elenco de Terra e Paixão, próxima novela das 9 da Globo de Walcyr Carrasco. O que pode adiantar da personagem? Eu faço a Berenice, entro lá pelo vigésimo capítulo. Uma outra personagem morre, e eu chego para herdar o bar dessa personagem. Como a Berenice é uma herdeira, ela já chega querendo mandar em tudo, ser a dona do pedaço. Ela não é malvada, mas também não é legal.
Um de seus vídeos mais famosos no Porta dos Fundos é aquele com a Xuxa batendo na sua porta — que virou até um meme atemporal do Twitter. Imaginava que perduraria tanto? Aquela fala “o que é essa gente toda aqui?” é um marco. Acho muito legal que até hoje as pessoas me param e perguntam desse vídeo, me chamam pelo nome da personagem, Jéssica. Para mim, o mais importante foi ter gravado com a Xuxa, porque eu fui uma “baixinha” dela, então dividir aquele espaço foi incrível.
Se tornou comum o movimento no qual novos humoristas que fazem vídeos curtos na internet são escalados para novelas, filmes, séries. O que pensa sobre essa nova geração de influenciadores que vira ator tão rapidamente? Olha, eu acho legal ter essa abertura, tem muita gente fazendo vídeo engraçado na internet. Mas só não gosto quando pegam essas pessoas e colocam em lugares que requerem estudo. Existem trabalhos que exigem uma bagagem de ator, e aí essa pessoa que faz vídeos curtos não consegue render em algo maior. Por isso é importante essas pessoas serem testadas, como todos os outros atores normalmente são, e não só ganharem um papel por causa de números na internet. Então, eu não gosto quando pegam essa galera de qualquer jeito e jogam na nossa profissão.
E como enxerga a discussão eterna sobre o humor versus a liberdade de expressão? Eu acho que é preciso tomar muito cuidado. Estamos em um momento de aprendizado constante. Eu erro muito, muita gente erra ao meu redor. Mas a gente tem sempre que apontar os erros, inclusive no trabalho também, né? Hoje temos uma maior percepção do que é errado, e eu acho isso lindo de ver. É preciso olhar tudo com mais carinho, pensando no outro.