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Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming

Terror ‘A Gruta’, com Carolina Ferraz, é, no mínimo, constrangedor

Produção nacional independente investe em trama clichê com sustos fáceis em uma história de terror adolescente

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 nov 2020, 14h39 - Publicado em 4 nov 2020, 14h12

Em uma cena do filme de terror nacional A Gruta, disponível no Amazon Prime Video, a atormentada freira Helena, interpretada por Carolina Ferraz, desfila de camisola branca em seu quarto no convento. Ela acaba de passar por um dia sinistro e de tensão. Para relaxar, nada melhor que um banho. Em uma atitude absolutamente inexplicável, ela entra na banheira sem tirar a roupa e começa a se ensaboar. Em outra, ela ouve um barulho e, em vez de acender a luz, ela pega uma vela para iluminar o macabro corredor — afinal, a vela é a melhor opção de luz em 2020, não? As cenas risíveis são apenas dois exemplos de vários outros em que o inverossímil encontra o grotesco, resultando em um filme constrangedor, para dizer o mínimo.  

No enredo, Jesus (vivido por Arthur Vinciprova, também diretor do filme) é o único sobrevivente de um grupo de amigos que visitou uma gruta sinistra, local tido como amaldiçoado. A polícia não acredita na história de Jesus e pensa que ele matou a todos. O suspeito diz que só vai contar a verdade para alguém da igreja. É aí que entra Helena, encarregada de fazer Jesus confessar. Aparentemente, a personagem também acaba sendo influenciada pelo mal que escapou da gruta e, para não deixar dúvidas, Jesus repete insistentes vezes a frase: “Você acredita no mal?”. 

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Carolina Ferraz interpreta a freira Helena no filme ‘A Gruta’ (//Divulgação)

Gradualmente vamos descobrindo o que aconteceu dentro da gruta. A história, no entanto, deixa inúmeras pontas soltas. Não sabemos, por exemplo, quem é Helena e porque ela foi chamada para ajudar. Na gruta, as divergências entre os amigos são banais e as atitudes no desenrolar da trama são incompreensíveis. A sensação é a de que o roteiro mirou em filmes de terror e suspense como O Exorcista, mas acertou em pastiches como Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado, em que adolescentes imprudentes se aventuram onde não são chamados. Além disso, há ainda uma cena inicial, ambientada no Brasil colonial, em que uma mulher é capturada por negros e sacrificada, que não recebe nenhuma outra menção durante toda a história. Quem foi essa mulher? Que ritual foi aquele? Ninguém explica. O filme peca ainda por problemas técnicos, como cenas muito escuras dentro da gruta e um som mal captado. Em alguns momentos é impossível entender o que os atores estão dizendo. 

Embora a iniciativa de fazer um filme de terror, um tema pouquíssimo explorando pelo cinema nacional, seja louvável, a narrativa não é minimamente coerente e fica ainda mais prejudicada pelo clichê que se apoia em sustos fáceis, com enquadramentos feitos embaixo da cama, no espelho ou em um corredor escuro, além de cruzes de cabeça para baixo e outras obviedades. Por outro lado, as locações são belíssimas, com excelentes imagens aéreas de locais como Carrancas, em Minas Gerais, e Volta Redonda, no Rio de Janeiro. De Globeleza a atriz da Record, Nayara Justino é outra excelente surpresa na trama. Ela interpreta a namorada de Jesus e a sua convincente atuação é responsável pelas cenas mais assustadoras do filme. 

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Arthur Vinciprova e Nayara Justino em cena do filme ‘A Gruta’ (//Divulgação)

Mesmo com todos esses problemas, os produtores conseguiram fechar a distribuição com a Downtown Filmes, que deveria levar o título às salas de cinema, até que veio a pandemia. Por fim, a história foi comprada pela Amazon, que incluiu o filme com exclusividade em seu catálogo mundial. Aos 35 anos, o diretor Arthur Vinciprova não é nenhum aventureiro. Ele tem em seu currículo duas comédias românticas, Turbulência (2016), com Monique Afradique e Bruno Gissoni, e Rúcula Com Tomate Seco (2017), com Juliana Paiva, Lucas Lucco e Daniel Dantas.

Desta vez, Vinciprova investe no terror sem muito sucesso. No Brasil, quando se fala no gênero, o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, costumava ser a autoridade quase exclusiva do tema. Mas, na cinematografia recente, outros diretores se mostraram bons profissionais nesta seara, como Rodrigo Aragão, com Mangue Negro (2008), e a dupla Marco Dutra e Juliana Rojas, com Quando Eu Era Vivo (2014) e As Boas Maneiras (2017). O fato é que para um filme de terror funcionar não é necessário muito dinheiro nem efeitos especiais (coisas que A Gruta não tem mesmo), a história precisa, no entanto, estar muito bem amarrada para dar um ar de verossimilhança ao enredo fantástico e, isso sim, é muito difícil. 

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