“Queda de assinantes não atinge nossa produção”, diz executiva da Netflix
Em entrevista exclusiva a VEJA, Elisabetta Zenatti revelou planos da plataforma para o país e comentou importância do streaming em meio à crise da cultura
A Netflix anunciou nessa quarta-feira, 27, durante o evento de audiovisual Rio 2C – Rio Creative Conference, a produção de uma minissérie inspirada na chacina da Candelária, que chocou o país em 1993 com o assassinato de oito jovens desabrigados no centro do Rio de Janeiro. O projeto faz parte da estratégia da plataforma de expandir o número de produções nacionais em seu catálogo. Outra novidade anunciada no evento foi a renovação de A Sogra que Te Pariu, comédia protagonizada pelo humorista Rodrigo Sant’Anna, que ganhará uma segunda temporada. Ainda neste ano, a plataforma estreia também a série Só se For Por Amor, uma ficção focada em amigos que tentam crescer no mundo sertanejo. Em entrevista exclusiva a VEJA, a vice-presidente de conteúdo da Netflix Brasil, Elisabetta Zenatti, falou sobre os próximos passos da plataforma e a importância do streaming para o audiovisual brasileiro. Confira a seguir:
Você assumiu a chefia de conteúdos nacionais da Netflix em setembro do ano passado. Como tem sido o processo de trazer produções locais para a plataforma? A Netflix começou essa jornada lá em 2016, com 3%. De lá para cá, tem sido uma evolução. Foram várias produções de gêneros diversos e o grande aprendizado é que os brasileiros querem se relacionar com as histórias. A Netflix cresceu muito nos últimos anos e precisamos nos conectar com uma população cada vez maior. Quando pensamos em um projeto, nos preocupamos com as emoções que serão despertadas no público daqui. Essa conexão é o que nós precisamos para nos diferenciar do conteúdo internacional.
Há algum gênero específico em que a plataforma pretenda focar? A ideia é trazer uma grande variedade de gêneros. Teremos drama, comédia, séries juvenis, produções para a família inteira. Vamos entrar em filões que ainda não exploramos. A graça é poder cruzar os gêneros, fazer um drama com uma pitada de comédia, melodrama ou folhetim. Não precisamos colocar as produções dentro de uma gaveta, podemos experimentar e misturar vários gêneros. A ideia é expandir isso, porque temos um público variado, e precisamos atender a todos.
Há algum número de produções que vocês almejam? Não focamos em volume. Isso é importante, mas já temos um catálogo grande na plataforma, e produções nacionais saindo todos os meses. Nesse momento, é mais importante focar na profundidade de cada série e na relevância delas. Estamos levando mais tempo para desenvolver as produções para ter certeza de que cada uma das séries vai fazer alguma diferença.
A Netflix teve nesse primeiro trimestre uma queda inédita de assinantes. Ainda há espaço para crescer no Brasil? A redução dos assinantes foi uma mistura de vários fatores. Mas o Brasil é importantíssimo para a Netflix. É um mercado que cresceu muito e que, com certeza, vai continuar crescendo. Acabamos de sair de uma pandemia, e há um reflexo disso ainda sendo sentido. Mas nós temos todo o apoio e autonomia da Netflix global para desenvolver uma gama de produções cada vez mais relevante para o Brasil. É algo desafiador, e nos desafiaremos cada vez mais. Há séries grandes sendo preparadas para 2023 e 2024 e temos todo suporte para seguir com isso nos próximos anos. Essa queda não nos atinge.
Discute-se muito a diversidade nas telas, mas também há uma demanda cada vez maior por representatividade por trás das produções. Como enxerga isso? É algo importantíssimo e uma das nossas grandes preocupações. A série sobre a chacina da Candelária, que anunciamos hoje, tem um time de criadores, atores e produtores negros para contar uma história que representa crianças negras de todo o Brasil. Sempre tentamos reunir o time mais representativo possível para cada história. Há um departamento de crescimento criativo no qual existem programas para capacitar cada vez mais pessoas, apoiar esses profissionais e fazê-los crescer com a gente. Há programas para jovens acompanharem os profissionais nas nossas produções e aprenderem. É algo que virou natural, faz parte do nosso trabalho encontrar as pessoas certas para cada história.
Falando nisso, estamos em um momento em que o incentivo à cultura tem sido minado. Qual o lugar do streaming num contexto assim? Eu era produtora até o ano passado e acredito que as plataformas de streaming trouxeram um avanço enorme para a indústria. É algo que abriu o mercado e está dando oportunidades muito grandes para todo mundo crescer. Sem dúvida, o streaming ajudou a impulsionar o mercado, ainda mais nesses anos de paralisação de incentivos. Ainda bem que o streaming existe, porque é um momento difícil, e ainda teve a pandemia em cima disso. Acredito que é a oportunidade de a indústria crescer ainda mais, no Brasil e no mundo.