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‘Os Anéis de Poder’: desafios da série bilionária sobre saga de Tolkien

Lançamento é embalado por um orçamento sem precedentes na história da TV — e por uma injeção notável de diversidade na obra monumental do autor

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 set 2022, 10h06 - Publicado em 2 set 2022, 06h00
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  • J.R.R. Tolkien (1892-1973) tinha 24 anos quando pausou seus estudos na Universidade de Oxford para servir no Exército britânico na I Guerra Mundial. No front, em 1916, o autor testemunhou diversas atrocidades. Sua mente, então, encontrou um refúgio peculiar: à luz de velas, nas trincheiras, Tolkien verteu a experiência tenebrosa no rascunho de um mundo habitado por seres fantásticos. O exercício de fuga foi o embrião do que viria a ser o monumental O Senhor dos Anéis, editado em três volumes entre 1954 e 1955. A história sobre um anel que tem a maldade como matéria-prima — e confere poderes sobrenaturais a seu portador — foi lida, ao fim da II Guerra, como uma metáfora sobre o nazismo e o temor de um conflito nuclear. Tolkien negou a alegoria: segundo ele, O Senhor dos Anéis era um alerta a respeito do amor cego pelo poder.

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    ELFOS SUPERPODEROSOS - O alto-rei Gil-galad (Benjamin Walker), a guerreira Galadriel (Morfydd Clark) e o sábio Elrond (Robert Aramayo) são elfos imortais. Eles apareceram na trilogia de Peter Jackson, vividos por outros atores — com destaque para Cate Blanchett e Hugo Weaving na pele dos dois últimos. “Na série, Elrond está no processo de se tornar o líder que vimos nos filmes”, diz Aramayo -
    ELFOS SUPERPODEROSOS – O alto-rei Gil-galad (Benjamin Walker), a guerreira Galadriel (Morfydd Clark) e o sábio Elrond (Robert Aramayo) são elfos imortais. Eles apareceram na trilogia de Peter Jackson, vividos por outros atores — com destaque para Cate Blanchett e Hugo Weaving na pele dos dois últimos. “Na série, Elrond está no processo de se tornar o líder que vimos nos filmes”, diz Aramayo – (Ben Rothstein/Amazon Prime Video/.)

    O Hobbit

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    Quase sete décadas depois, a trilogia — adaptada com louvor por Peter Jackson para o cinema, entre 2001 e 2003 — conserva sua força extraordinária. Uma atemporalidade que será posta à prova na nova e ambiciosa (e bota ambiciosa nisso) aposta do Prime Video, da Amazon: nesta sexta-feira, 2, chegam à plataforma de streaming os dois primeiros episódios de O Senhor dos Anéis: os Anéis de Poder. A superprodução em oito capítulos levou quatro anos para ser filmada e se tornou a série mais cara da história da TV: uma montanha de 1 bilhão de dólares foi investida em duas temporadas. Isso sem contar os 200 milhões de dólares pagos por Jeff Bezos pelos direitos da obra de Tolkien, em 2017.

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    A dinheirama mostra seu valor na tela. Cenários e figurinos exuberantes fazem das cenas quase quadros de cores impressionistas. O clima idílico e hipnótico destoa da crueza brutal de um Game of Thrones — universo que, com a recente estreia de A Casa do Dragão, da HBO, vai disputar espectadores na propalada “guerra da fantasia” com Os Anéis de Poder. Ambas, porém, são propostas tão distintas que podem ser desfrutadas cada uma a seu modo, e por diferentes públicos.

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    DE OUTRO MUNDO - Os vilanescos Orcs: seres feiosos saídos das lendas anglo-saxãs -
    DE OUTRO MUNDO - Os vilanescos Orcs: seres feiosos saídos das lendas anglo-saxãs – (Matt Grace/Amazon Prime Video/.)

    A Sociedade do Anel

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    Gravada na Nova Zelândia, onde Jackson também rodou seus longas de sucesso, a série constitui, em si, um desafio peculiar. Ao contrário da trilogia conhecida e de O Hobbit, livro infantil de 1937 adaptado para o cinema entre 2012 e 2014 também por Jackson, Os Anéis de Poder constrói sua trama não a partir de um livro completo, mas de pistas deixadas por Tolkien no apêndice da trilogia original. Ou seja: há uma boa dose de voo livre dos roteiristas, que se arriscam assim a tocar no intocável: a obra de um autor que concebeu uma mitologia de lógica interna complexa e única. O risco de acusações de heresia por parte dos seguidores mais fanáticos é real e concreto — e a gritaria, claro, começou antes mesmo da estreia.

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    ANCESTRAIS DOS HOBBITS - Bem antes de Frodo Bolseiro, havia os pés-peludos, pequenos seres nômades que se esforçavam para não atrair atenção. Nori (Markella Kavenagh, no centro) e Poppy (Megan Richards, à dir.) vão quebrar essa invisibilidade. Com 21 e 23 anos, elas são as mais jovens do elenco. “Descobri o mundo de Tolkien com a série”, conta Megan -
    ANCESTRAIS DOS HOBBITS – Bem antes de Frodo Bolseiro, havia os pés-peludos, pequenos seres nômades que se esforçavam para não atrair atenção. Nori (Markella Kavenagh, no centro) e Poppy (Megan Richards, à dir.) vão quebrar essa invisibilidade. Com 21 e 23 anos, elas são as mais jovens do elenco. “Descobri o mundo de Tolkien com a série”, conta Megan – (Ben Rothstein/Amazon Prime Video/.)

    As Duas Torres

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    Para além da trama, que narra acontecimentos anteriores da Terra Média, continente fictício criado por Tolkien, a megaprodução da Amazon chama atenção por uma ousadia em especial: a trama injeta diversidade racial (e de gênero) em um universo inspirado pelas paixões pessoais do autor, de mitos nórdicos à literatura medieval anglo-saxônica — e uma inabalável fé católica. Com a polarização política, movimentos de extrema direita sequestraram a obra de suposta brancura ariana para si, atendo-se ao histórico conservador de Tolkien. Quando atores negros entraram para a série, não deu outra: manifestações racistas eclodiram nas redes sociais. Um alvo foi o porto-­riquenho Ismael Cruz Córdova, que dá vida ao elfo Arondir. Segundo os críticos, elfos não podem ser negros — argumento amparado na obsoleta premissa de que Tolkien escreveu sobre heróis europeus. “Estou comprometido em ser autêntico, espero representar pessoas como eu, mesmo que isso incomode”, disse o ator a VEJA (leia sobre os personagens ao longo da reportagem).

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    FÃ DE CAPOEIRA - A curandeira Bronwyn (a iraniana Nazanin Boniadi, à esq.) e Arondir (o porto-riquenho Ismael Cruz Córdova, no centro) vão viver um romance proibido — ela é humana e ele, um elfo. Córdova fala português e tem relação curiosa com o Brasil. “Sempre me perguntam se sou baiano”, diz o ator, que luta capoeira em cena -
    FÃ DE CAPOEIRA – A curandeira Bronwyn (a iraniana Nazanin Boniadi, à esq.) e Arondir (o porto-riquenho Ismael Cruz Córdova, no centro) vão viver um romance proibido — ela é humana e ele, um elfo. Córdova fala português e tem relação curiosa com o Brasil. “Sempre me perguntam se sou baiano”, diz o ator, que luta capoeira em cena – (Ben Rothstein/Amazon Prime Video/.)

    O Retorno do Rei

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    A reação reflete o modo como a odisseia de Tolkien transita pelo tempo. Sua mensagem esperançosa caiu bem nos anos pós-guerra, quando os livros saíram. Já os filmes de Jackson viraram um chamado à resistência do bem contra o mal após os atentados de 11 de setembro. A série, agora, depara com a tensão entre discursos autoritários e a luta das minorias por visibilidade. “Tolkien questiona sobre o que você sacrificaria para lutar contra o mal e a intolerância, pergunta que nos diz respeito hoje”, diz o espanhol J.A. Bayona, diretor da série.

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    A “ATLÂNTIDA” DA TERRA MÉDIA - Míriel (Cynthia Addai-Robinson) é a rainha de Númenor, uma ilha de humanos com sangue de elfos que, na era retratada pelos filmes de O Senhor dos Anéis, já havia sumido do mapa — ecoando o mito do reino de Atlântida. A série será a primeira a retratar esse reino — e fará isso com diversidade. “Pude explorar as nuances de ser uma mulher e líder”, diz Cynthia -
    A “ATLÂNTIDA” DA TERRA MÉDIA – Míriel (Cynthia Addai-Robinson) é a rainha de Númenor, uma ilha de humanos com sangue de elfos que, na era retratada pelos filmes de O Senhor dos Anéis, já havia sumido do mapa — ecoando o mito do reino de Atlântida. A série será a primeira a retratar esse reino — e fará isso com diversidade. “Pude explorar as nuances de ser uma mulher e líder”, diz Cynthia – (Ben Rothstein/Amazon Prime Video/.)

    Questões políticas à parte, Os Anéis de Poder explora, de forma envolvente, a gênese dos artefatos mágicos que dão nome à saga. A série volta milênios no passado em relação aos eventos tanto da trilogia quanto de O Hobbit, para mostrar como o vilão Sauron, líder dos terríveis Orcs, criou um anel do mal para chamar de seu. O universo de Tolkien é de uma riqueza imensurável — ainda mais com uma injeção extra de 1 bilhão de dólares.

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    Publicado em VEJA de 7 de setembro de 2022, edição nº 2805

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