The Chosen — cuja quarta temporada tem estreia especial nos cinemas e no streaming a partir de quinta-feira 21 — não foi sua primeira vez no papel de Jesus. Como viveu essa saga? Faz mais de dez anos que venho interpretando Jesus. Primeiro, em vídeos e peças de teatro de uma produtora católica. Até que, em 2014, o Dallas Jenkins (criador de The Chosen) me contratou para fazer Jesus em três curtas que foram embriões da série.
Tem alguma história peculiar sobre seus oito anos no papel? Já ouvi pessoas dizerem que, quando oram ou rezam, pensam no meu rosto. Acho bizarro, mas entendo. No México, entrei numa igreja e o rosto de Jesus num quadro era claramente o de Robert Powell (ator conhecido pela série Jesus de Nazaré, de 1977). Já vi imagens de arte de rua no Brasil com meu rosto. Vira e mexe, pessoas passam por mim na rua e, do nada, me falam “obrigado”. Então, creio que é uma reação inevitável do imaginário humano diante da dramatização dessa história tão impactante.
Tem algum ritual antes de entrar no set? Eu rezo antes das gravações. Sou católico, então me confesso, participo da eucaristia, peço a bênção do padre antes de cada temporada, e peço a Deus entendimento sobre o que Ele quer comunicar através de mim.
A série mudou sua relação com a fé? Fui batizado numa igreja ortodoxa, depois cresci como católico. Tenho essas duas raízes em mim. Mas interpretar Jesus me levou mais fundo na minha fé, no misticismo, na inspiração dos que vieram antes de mim e que deram suas vidas pela fé cristã.
Sua família paterna é de origem egípcia e síria. Ainda tem parentes nessa região tão próxima do conflito na Palestina? Sim, tenho familiares naquela região, inclusive em Israel e na Palestina. É uma situação difícil, e eu oro por aqueles que estão sofrendo. Não há uma solução simples para o Oriente Médio, e eu, do outro lado do mundo, só posso pedir a Deus que tenha misericórdia e traga paz.
Se Jesus voltasse nos dias de hoje, como gostaria que Ele fosse? Nossa, difícil. Eu gostaria que Ele fosse misericordioso, talvez ainda mais que da primeira vez que veio à Terra. Estamos lidando com muitas dificuldades no mundo, muita divisão, tensão, raiva, frustração. Gostaria que Ele conseguisse ver além dos nossos preconceitos e fosse compreensivo com as nossas fraquezas, como foi no passado.
Publicado em VEJA de 15 de março de 2024, edição nº 2884