Charlie (Joe Locke) passou grande parte da vida escolar almoçando na sala de artes, o único lugar seguro em que ele tinha o mínimo de paz. Desde sempre os valentões fizeram de sua vida uma tortura — afinal, ele é o único gay assumido em um colégio só para garotos. Assim como nas tramas clássicas que compõem o filão de romances adolescentes, a vida de Charlie muda completamente quando Nick (Kit Connor), estrela do time de rugby, começa a sentar ao seu lado nas aulas e aos poucos os dois descobrem que se gostam em um patamar acima dos que são meros amigos. Dentre o emaranhando de produções juvenis que surgem aos montes no streaming, Heartstopper, que chegou à Netflix nesta sexta-feira, 22, faz um retrato açucarado sobre o turbilhão de sensações tão característico da adolescência.
Ambientada no Reino Unido, a série é baseada na graphic novel homônima de Alice Oseman, que na produção atua como roteirista e supervisora de detalhes, como figurino e elenco. Responsável por aprovar os atores para cada papel, a autora trouxe uma grata — e potente — surpresa: a presença de Olivia Colman, que interpreta a mãe de Nick. Apesar de sua breve participação, que acontece em momentos pontuais ao longo dos oito episódios, a atriz representa o time de mães carinhosas e compreensivas, que apoiam e são verdadeiras amigas de seus filhos — independente de orientação sexual ou qualquer outra característica.
Apostando na delicadeza, a história foge do estereótipo comum de narrativas LGBTQIA+: o do romance fadado ao fracasso recheado de drama e sofrimento. O romance entre Nick e Charlie floresce em um ambiente crível para garotos do ensino médio. Entre idas ao boliche, cinema e encontros para tomar milkshake, os dois passam a se afeiçoar de maneira natural — indo na contramão de histórias como a ótima Euphoria e a vergonhosa Elite, que observam um recorte da juventude repleto de drama, drogas, sexo e violência.
Além de retratar a descoberta da sexualidade de Nick, que passa a se identificar como bissexual, a produção também transita pelo cotidiano de outros personagens, desde um casal de lésbicas até o típico valentão homofóbico. O vilão, contudo, não estraga o clima leve da trama: apesar dos percalços que a comunidade LGBTQIA+ enfrenta, a série crava que o conceito de “felizes para sempre” é direito de todo tipo de casal.