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Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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Discursos do ‘bem’ de ‘Pantanal’ parecem saídos de uma redação do Enem

Ao tentar sintonizar a novela com a correção política atual, Globo mira no discurso militante - mas acaba acertando na vergonha alheia

Por Marcelo Canquerino Atualizado em 19 abr 2022, 16h26 - Publicado em 19 abr 2022, 16h22
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    Guta (Julia Dalavia) em cena da novela Pantanal. (TV Globo/Reprodução)

    Desde que a versão original de Pantanal foi ao ar na já extinta Rede Manchete, em 1990, muitas coisas mudaram — e não foi só o bioma, hoje mais desmatado do que décadas atrás. Para trazer a trama para perto do público, o remake de Bruno Luperi, atualmente dominando o horário nobre da Globo, tem apostado na conjunção de belas imagens e melodrama da melhor cepa. Há também um tanto de discursos politizados – algo que, convenhamos, nunca foi estranho às novelas da Globo. A questão é que a pregação politicamente correta, como de praxe, vira um penduricalho artificial em meio à trama. E isso induz ao humor involuntário: a coisa é tão pueril que certos diálogos parecem ter saído diretamente de uma redação do Enem. Não exatamente daquelas que tiram nota 10.

    No capítulo que foi ao ar nesta segunda-feira, 18, a conversa entre Guta (Julia Dalavia) e Tenório (Murilo Benício), chamou atenção pela didática derramada. Na cena, os dois estavam discutindo por que a jovem ficou indignada com a maneira homofóbica com que o pai se referia a Jove (Jesuíta Barbosa). Em uma tentativa falha de repreendê-lo, após ouvir que ele afogaria um filho gay, Guta lançou o clássico discurso do “e seu eu fosse lésbica?”. Não satisfeita em mostrar sua indignação da forma mais forçada possível, ela ainda discutiu com a mãe por fazer vista grossa a esse tipo de comportamento, e com um vocabulário rebuscado explicou que a naturalização dessas falas em casa faria do Brasil o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo.

    Apesar de irrepreensível em seu conteúdo, a argumentação à lá texto de vestibular conferiu um ar cômico inesperado a um momento que pretendia tratar com gravidade de um assunto relevante. O mesmo aconteceu quando o vegetarianismo foi trazido à discussão. Na sequência em que Jove chega ao Pantanal para conhecer seu pai, José Leôncio (Marcos Palmeira), ele é recebido com um churrasco de boas-vindas. O pecuarista oferece carne da melhor qualidade para o filho, que recusa – e rapidamente a conversa dos dois escala de um “eu não como carne” para “isso fere meus princípios porque não quero contribuir para situações como maus-tratos aos animais”.

    Mesmo com boas intenções, a tentativa de atualizar a trama e trazer debates importantes para o horário nobre da Globo ainda peca pelo excesso de formalidade e, principalmente, pela falta de naturalidade. Com seus discursos prontos, Guta e Jove até teriam chances de passar na faculdade – mas dificilmente vão mudar a cabecinha dura dos personagens preconceituosos do Pantanal. A novela é um merecido êxito, como há tempos o espectador não via no ar. Seu merchandising do bem, por assim dizer, ainda é uma peça destoante nesse todo.

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