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Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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Clarice Falcão, da série ‘Eleita’: ‘A política invadiu nossas vidas’

Criadora e protagonista da atração satírica da Amazon Prime Video, atriz fala a VEJA sobre críticas afiadas do roteiro e posicionamento nas eleições

Por Amanda Capuano Atualizado em 10 out 2022, 11h15 - Publicado em 10 out 2022, 10h18
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  • Fefê é uma jovem endinheirada — e sem responsabilidade — que acaba eleita governadora do Rio de Janeiro por acidente. Ela, então, precisa aprender quais as responsabilidades do cargo, e lidar com uma série de interesseiros na Assembleia legislativa — além do próprio egoísmo e falta de conhecimento. Lançada no Amazon Prime Video na sexta-feira, 7, a série Eleita usa o humor para alfinetar situações caricatas da política brasileira, como o fundamentalismo religioso e a divisão da esquerda. Em entrevista a VEJA, a criadora e protagonista Clarice Falcão falou sobre os desafios e intenções da produção, e opinou sobre a responsabilidade de se posicionar politicamente. Confira:

    Sua personagem é uma influenciadora digital eleita acidentalmente como governadora do Rio de Janeiro. Recentemente, vimos essa mesma premissa ser explorada em outras séries, como Black Mirror. Por que ela é tão atual? A política é tudo hoje em dia. Ela começou a invadir até a nossa vida pessoal. Tem muita gente deixando de falar com familiares, acabando amizades, casamentos. Estamos vendo a política sair do âmbito dos políticos e entrar no dia a dia mesmo. A ideia era colocar essa personagem em um lugar onde ela pudesse ter mais responsabilidade, e então pensamos na política. Mas, ao longo desse período de produção, a política foi tomando um espaço cada vez maior na vida de todo mundo, de uma forma até meio inesperada para nós.

    Existem inspirações específicas para a Fefê? É um conjunto. O que a gente queria fazer era uma personagem apolítica. Ela não é progressista, nem conservadora. Ela faz coisas progressistas, mas também mira para todos os lados. Não é uma zoeira com a esquerda. No segundo episódio, ela quer privatizar uma cidade, o que é a coisa mais de direita do mundo. Ela, na verdade, faz zoeira com todo esse circo de eleger políticos que não são da política e não entendem nada de política.

    A série tem personagens satíricos, como uma pastora que remete ao fundamentalismo, e até cenas que alfinetam a divisão da esquerda. A ideia era desancar todo mundo? Para mim, tem um lado certo na história, e todo mundo sabe qual é. Mas a autocrítica pode ser engraçada também, então faço muito disso na série. A desunião da esquerda é uma forma de fazer um pouco de graça com coisas que a gente sabe que acontecem. A pastora é uma crítica ao extremismo e a esse fundamentalismo, mas também colocamos uma personagem evangélica que é uma pessoa legal, com noção. Justamente pra mostrar que o problema é a pastora Ozana, e não todo evangélico.

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    No cenário político dos últimos anos, sátiras têm sido recebida com violência e até tentativas de censura. Isso a preocupa? Por um lado, sim, mas eu já tenho me posicionando politicamente há muito tempo, e já sofri e vi pessoas próximas sofrerem esse tipo de ataque muitas vezes. Desde a época Dilma e Aécio as pessoas gritam coisas para mim na rua. É algo com que eu tenho que lidar, porque acho importante me posicionar.

    O que você diria para alguém que se sinta atingido pessoalmente? Ah, se a carapuça serviu… não falamos o nome de ninguém. As inspirações são muitas. Se alguém se sentir pessoalmente ofendido talvez seja melhor refletir sobre a razão de estar se identificando com a história contada ali.

    Você se posicionou abertamente nas eleições a favor do Lula. Acha que isso pode influenciar na recepção da série? Acho que sim. Mas uma coisa que eu aprendi é que você não controla como as pessoas recebem o que você faz. Quando você joga alguma coisa no mundo, seja uma música ou uma série, não é mais completamente seu, é também do público que está consumindo. Infelizmente, ou felizmente, não é algo sob o meu controle.

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    Estamos tendo um movimento muito grande artistas se posicionando politicamente por causa das eleições. Isso é uma responsabilidade como figura pública? Eu acho que é uma responsabilidade como cidadão. É importante se inteirar, refletir, entender o que está acontecendo e se posicionar de forma consciente, não porque viu algo no whatsapp. Se você está vendo uma agressão, uma coisa que está ferindo outra pessoa, você tem de denunciar, ainda mais quando se tem uma plataforma. O que está acontecendo agora vai além de se posicionar politicamente, que é algo que eu já fazia porque tenho direito como cidadã. O que está acontecendo hoje é a denúncia de uma violência muito grande, que inclusive já matou pessoas. Se você acha que alguém está sendo violentado, é dever de tentar fazer o que está ao seu alcance para que isso pare.

    A série pode levar a alguma reflexão para o segundo turno? Espero que sim. Mas também espero que as pessoas realmente pesquisem, porque você não pode usar uma série ou um print para decidir o seu voto. Mais que influenciar alguém, espero que a série incentive as pessoas a irem atrás de informação.

     

     

     

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