Toda ação traz com ela uma reação de igual intensidade, no sentido oposto. Já dizia a terceira lei de Newton que, olha só, pode ser aplicada à vigésima edição do Big Brother Brasil. Enquanto uma onda de conservadorismo tomou o Brasil de Jair Bolsonaro nos dois últimos anos, as redes sociais (não aquelas comandadas por robôs) impulsionaram assuntos rechaçados pelo time do presidente, entre eles o feminismo.
Pela primeira vez o reality iniciado com 20 participantes se aproxima da reta final apenas com um homem no elenco: Babu, um forte candidato ao prêmio, aliás. Seja ele o ganhador ou não, a trajetória da atração e de suas sobreviventes femininas é interessante de ser analisada. Especialmente após o paredão da semana passada, que somou 1,5 bilhão de votos e tirou o briguento arquiteto Felipe Prior: que, agora do lado de fora, encara acusações de assédio e estupro. Prior era o último “chernoboy” de pé no programa, representante do grupo de homens que exemplificou aos que ainda desconheciam o termo da dita masculinidade tóxica. Em um raro momento, o BBB rompeu a barreira da pura estupidez para se tornar caixa de ressonância de discussões relevantes em voga no país.
Independentemente da qualidade do programa, um velho e eficiente elemento do “pão e circo”, ainda mais alienante em tempos de coronavírus, o BBB20 mostra sua força ao ser um dos poucos entretenimentos da TV aberta que sobreviveu à pandemia. E essa força nada mais é que um reflexo das tensões sociais do lado de fora: haja vista edições passadas também bem-sucedidas. Em 2005, por exemplo, Jean Wyllys, que depois ingressou na política, foi o porta-voz da homofobia em escala nacional. Em 2010, seu completo oposto, o vitorioso Marcelo Dourado, mostrou uma reação da masculinidade estereotipada e agressiva.
Na atual edição, o feminismo foi o tema que dominou a primeira metade do programa. A próxima narrativa a ser instaurada, e que deve definir a final do programa, é o racismo. Babu Santana, único homem negro desta edição é favorito ao prêmio. A médica Thelma Assis também segue em sua cola rumo à final. Ambos constantemente dão às remanescentes aulas de “o que é racismo e você não parou para prestar atenção”. Movimentação, aliás, que em breve pode tirar Manu Gavassi, a grande vencedora da briga do feminismo, que agora pode ser derrotada: a jovem cantora teve tuítes antigos recuperados com falas consideradas preconceituosas.
Apesar das evidências, o programa não pode se gabar como um trunfo do feminismo, do racismo, tampouco da defesa dos oprimidos. O que o BBB20 faz é maximizar, com a ajuda do alcance da TV aberta, discussões que têm pipocado nas redes sociais e, nelas, um engajamento muito expressivo. Até figurões como Bruna Marquezine, Neymar, Bruno Gagliasso e Gabigol demonstraram apoio aos últimos emparedados, bem como Fernando Haddad e o deputado Eduardo Bolsonaro. Mais do que iluminar as causas, o resultado é, para o bem ou para o mal, o crescimento exponencial da tal militância “de sofá”.