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“Chernoboys”: atitudes de integrantes do BBB geram revolta (e audiência)

Com altas doses de assédio e machismo, o programa traz a constatação: a sociedade não permite mais essas atitudes

Por João Batista Jr.
Atualizado em 7 fev 2020, 10h09 - Publicado em 7 fev 2020, 06h00

Ao longo de suas duas dezenas de edições, o Big Brother Brasil apresentou uma espécie de crescendo de grosserias e de arroubos machistas protagonizados por alguns de seus competidores. Na comparação com os participantes dos últimos tempos, Kleber Bambam, o ogro simpático que levou o prêmio da edição de estreia do programa, parece hoje um cavalheiro formado nas melhores e mais tradicionais escolas de costumes britânicas. Em 2007, Diego Alemão ficou com o troféu depois de caprichar no papel de garanhão, formando um triângulo amoroso com Íris Stefanelli e Fani Pacheco. Três anos depois, o participante Elieser Ambrósio enfiou o dedo na cara de Lia Kheireddine (“Você é suja, menina, vai escovar os seus dentes”), e os dois quase chegaram às vias de fato. Em 2012, o modelo Daniel Echaniz acabou sendo expulso da casa depois de ser acusado de estuprar Monique Amin (à polícia, após deixar o confinamento, ela negou o ataque; o caso não deu em nada).

Dentro dessa tradição de baixarias variadas, a edição atual se superou com o advento dos “chernoboys”. O comportamento desse grupo de machos tóxicos que vem causando no programa virou tema de debates infindáveis nas redes sociais, e a derrota de um dos integrantes da trupe foi comemorada pelo público, que acompanhou tudo em clima de final de campeonato. Em bares e restaurantes de várias cidades do país, grupos de amigos se reuniram para ver pela TV o resultado do paredão, como é chamada a eliminação dos participantes do BBB, na última terça (4). Petrix Barbosa, de 27 anos, um dos “chernoboys”, foi defenestrado por 80,27% dos votos.

Antes disso, entre outras grosserias, ele criticou as meninas selecionadas para integrar o programa. “A qualidade poderia ter sido um pouco melhor. Não tem nenhuma gatinha, novinha… Assim de uns 25, 20, 18 anos”, afirmou, afundado dentro de uma Jacuzzi ao lado dos amigos de macholândia Hadson, Lucas e Felipe. Das nove participantes do reality, duas têm mais de 30 anos. Petrix também assediou as participantes Bianca Andrade, a Boca Rosa (alisou seus seios), e Flayslane Raiane (encostou seu órgão genital na cabeça dela), sempre que todos estavam sob o efeito de álcool. A Polícia Civil intimou o brother a prestar depoimento na sexta 7, na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher do Rio de Janeiro, para explicar os dois casos.

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Os “chernoboys” são unidos na grosseria e nas táticas de jogo. Lucas, o loiro à Thor cuja quantidade de músculos é inversamente proporcional à de neurônios, deixou claro em um dos episódios que o negócio era o Clube do Bolinha se unir para tirar as competidoras. “Quanto menos mulher tiver, melhor. Por mim, se fosse só homem estava bom”, afirmou. Dentro dessa lógica neandertal, os sujeitos traçaram o plano de seduzir as mulheres casadas para que elas se queimassem aos olhos dos espectadores. O efeito foi o reverso. No tribunal das redes sociais, o que se pede é o cancelamento de todos eles, em campanhas feitas por celebridades como Bruna Marquezine e Bruno Gagliasso.

OUTROS TEMPOS - Íris, Alemão e Fani na edição de 2007: triângulo amoroso (Divulgação/TV Globo)

A reação imediata dos espectadores para forçar a saída de Petrix mostrou que se espera o respeito a temas caros à sociedade, como feminismo e diversidade. Além disso, o público deixou claros os limites ao que é aceitável ser exibido na TV. “O ruído gerado pelo programa revela a evolução da sociedade e o declínio do patriarcado”, diz a historiadora Mary Del Priore. O aumento de denúncias de agressão e violência doméstica no país segue a mesma lógica: entende-se com clareza que a mulher não é posse do homem. “Isso não é um sinal de ‘coitadismo’, mas, sim, da força de poder denunciar”, completa a especialista.

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O que pesou para a direção do programa na escolha do atual elenco foi a capacidade dos participantes de carregar para dentro da casa seus milhões de seguidores nas redes sociais; por isso foram convidados pela primeira vez influenciadores e famosos de toda sorte — justamente o caso de Petrix Barbosa, um ginasta sem grandes projeções com passagem pelo Flamengo. A estratégia de investir em gente com potencial para fazer barulho no mundo digital deu certo. Com apenas duas semanas no ar, o Big Brother Brasil registrou aumento de 3 pontos de audiência em São Paulo, com média de 23 pontos (10% mais que no mesmo período do ano passado). Já a #RedeBBB acumulou mais de 500 milhões de impactos, um crescimento de 35% em comparação com a edição anterior.

O volume de críticas do público com relação ao machismo respingou até em quem não está no programa. A cantora Manu Gavassi, da edição atual, sem citar nomes, mas sendo clara na mensagem, afirmou em um episódio ter sido traída inúmeras vezes por seu ex-namorado. Trata-se de Chay Suede. Só que Suede coprotagoniza a novela das 9, Amor de Mãe, da Globo. Ele passou a ser massacrado (“boy lixo” foi um dos “elogios” utilizados) e precisou fechar os comentários de seu Instagram. Para a emissora, a malhação pública de seu galã foi um efeito colateral da bomba dos “chernoboys”.

Publicado em VEJA de 12 de fevereiro de 2020, edição nº 2673

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