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Assassinato que chocou o Brasil nos anos 70 vira minissérie da HBO

Produção vai retratar crime brutal que expôs machismo no judiciário com a infame "legítima defesa da honra"

Por Amanda Capuano Atualizado em 28 jun 2024, 17h04 - Publicado em 28 jun 2024, 17h03
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  • A HBO anunciou nesta sexta-feira, 28, que está produzindo uma minissérie ficcionalizada sobre Ângela Diniz, socialite mineira assassinada pelo então namorado, Doca Street, no dia 30 em dezembro de 1976. Batizada de Praia dos Ossos, a produção inspirada no podcast homônimoretratará a jornada de libertação de Ângela, uma mulher que durante os anos 70 ousou viver em seus próprios termos — desde o momento em que declara que quer se separar do seu primeiro marido, até ser assassinada com quatro tiros pelo seu último companheiro que, assim como o primeiro, não aceitou sua decisão”, descreve o comunicado.

    A série ainda não tem previsão de estreia, mas será dividida em seis episódios. Diretor da produção, Andrucha Waddinton disse que o projeto será uma série “sobre a vida de Ângela Diniz, uma mulher que, nos anos 70, no auge do machismo, ousou viver à sua maneira, totalmente sem medo dos preconceitos, julgamentos e opiniões”. A produção — ao contrário do filme de mesma temática lançado recentemente, com Isis Valverde e Gabriel Braga Nunes — deve se debruçar sobre o circo machista que foi o julgamento de Doca. “Será um lembrete incisivo de que só em 2023 o STF aboliu a infame tese da legítima defesa da honra, tantas vezes utilizada em favor de diversos crimes de feminicídio, como o que aconteceu com Ângela, pela oratória do advogado Evandro Lins e Silva na defesa de Doca Street”, afirma o diretor. 

    Como foi o julgamento do assassinato de Ângela Diniz?

    No dia 30 de dezembro de 1976, Ângela foi morta com quatro tiros por Doca, que não demorou a confessar o delito – já que tudo apontava para ele. Na data da morte, Ângela estava com o assassino em sua casa na Praia dos Ossos, no Rio de Janeiro, e, depois de uma briga feia, tentou colocar fim ao relacionamento, permeado por ciúmes e agressões. O então namorado não aceitou, sacou a arma e disparou contra a parceira. O barulho dos tiros levou os empregados da casa até o local, onde encontraram-na sem vida, ao lado da arma abandonada pelo algoz, que saiu em fuga para a casa dos pais.

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    Depois de se entregar, a defesa de Doca desenhou uma estratégia cruel para livrá-lo da cadeia: no tribunal, Ângela — a vítima — foi pintada pelos advogados como uma “mulher-veneno”, que seduziu o pobre homem e depois quebrou seu coração, motivando-o a matá-la como uma forma de “legítima defesa da honra”. Há 40 anos, o argumento colou, e o assassino foi sentenciado a apenas dois anos de prisão, a serem cumpridos em regime aberto. Foi necessária uma grande movimentação popular e ampla campanha do movimento feminista, sob o slogan de “quem ama não mata”, para conquistar um novo julgamento, que resultou em uma sentença de quinze anos de prisão – apenas três cumpridos em regime fechado.

    Ângela Maria Fernandes Diniz foi assassinada por Doca Street aos 32 anos, deixando três filhos — frutos do casamento com o engenheiro Milton Villas Boas. Já Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como Doca Street, morreu aos 86 anos, em 18 de dezembro de 2020, de um ataque cardíaco.

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