Os Jogos Olímpicos de Tóquio já começaram, bem como a cobertura especial de VEJA. Daqui até o encerramento do evento em 8 de agosto, para além do noticiário quente com os resultados dos jogos e movimentações do quadro de medalhas, quatro blogs temáticos farão o meio-campo entre esporte, história, cultura, geopolítica, arquitetura e muito mais. O #TBT Olímpico se dedicará a revirar os tesouros dos arquivos de 52 anos de VEJA e estreia nesta quarta-feira, 21, com as trágicas lembranças da primeira capa olímpica da revista: a tragédia de Munique, em 13 de setembro de 1972.
A reportagem escrita pelo secretário de redação Ulysses Alves de Souza, enviado especial à Olimpíada na Alemanha, e Pedro Cavalcanti, correspondente em Paris, deslocado com urgência, narra um dos capítulos mais tristes da história dos Jogos, o atentado cometido por um grupo terrorista palestino contra a delegação de Israel na Vila Olímpica. “A chacina é o espelho fulgurante da situação sociopolítica da humanidade de hoje, dos estranhos humores que percorrem um mundo cada vez mais descrente”, narra a Carta ao Leitor da edição.
Os Jogos de 1972 ficarão para sempre marcados pelo terror provocado pela invasão dos alojamentos da delegação de Israel por terroristas do grupo radical palestino Setembro Negro. O impasse durou dois dias, com longas negociações envolvendo reféns, provocou a interrupção das competições e teve um desfecho catastrófico: o assassinato de onze judeus. O que deveria ser uma festa, a “Olimpíada de abertura” que curaria, enfim, as feridas do povo alemão e mostraria sua nova faceta três décadas depois do fim da Segunda Guerra, se transformou em carnificina e uma nova mancha histórica.
A matéria narra todo o drama em ordem cronológica desde o primeiro aviso de um jornalista israelense que, em uma época pré-celular e internet, havia recebido um telefonema do chefe da delegação do país. “Algo muito grave havia acontecido”, alertou o dirigente ao repórter, que repassou a mensagem aos colegas no centro de imprensa.
“Às duas horas da manhã da madrugada seguinte, quando o drama se encerrou com a morte de nove atletas israelenses, amarrados de pés e mãos dentro de dois helicópteros, a cidade de Munique pareceu acordar novamente. Desta vez, de verdade: o sonho olímpico estava terminado.”, diz um trecho da reportagem. Confira a matéria na íntegra em nosso acervo digital.
Ulysses Alves de Souza relata com brilhantismo a sequência de fatos, que incluiu uma frustrada negociação entre os governos da Alemanha e de Israel, uma enxurrada de fake news, e um sentimento que tomou a Vila Olímpica. “‘Por que nos fizeram isso? Logo a nós?’. A pergunta era martelada sob formas diversas, em todo o país. Se em Munique, para explicar o atentado, um israelense dizia que ‘Israel não é um país como os outros’, não resta dúvida que, ainda à sombra do III Reich, a Alemanha Federal também não é um país como os outros. A chacina de onze israelenses em seu território constitui uma tragédia especial para um povo que conseguiu soterrar algumas lembranças, mas que está longe de tê-las esquecido.”
As contestações ao aparato de segurança alemão davam o tom do “desgosto de ver malograda, ou submetida até a uma infeliz inversão, a esperança de aumentar seu prestígio e fazer esquecer a Olimpíada de 1936”. “As críticas contra eventuais negligências apenas começaram a se propagar. Em telegrama enviado a Golda Meier, o editor alemão Axel Springer sublinhou: ‘Lamento muito que os dispositivos de segurança tenham sido negligentes e que a ausência de uma estratégia eficaz tenha culminado com essa carnificina'”.
O ataque em Munique mudou para a sempre a história do evento. Desde então, a Olimpíada passou a ser sinônimo de obsessão por segurança, com verdadeiras operações de guerra para proteger os atletas. No Japão, com fronteiras fechadas e público vetado, os riscos de atentado diminuem. O inimigo agora é outro, invisível: a pandemia do novo coronavírus, que segue fazendo vítimas em todo o Japão, o que levou a maior parte da população local a ser contra a realização dos Jogos.