Assine VEJA por R$2,00/semana
Sobre Palavras Por Sérgio Rodrigues Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
Continua após publicidade

Uma verdade inconveniente: o trabalho nasceu da tortura

Terminadas as férias do colunista, parece apropriado retomar essa conversa metalinguística – em que palavras são empregadas para falar de… palavras – a partir da significativa história do termo trabalho. Durante muito tempo, os etimologistas tiveram alguma dificuldade para admitir o óbvio, refugiando-se em hipóteses obscuras que envolviam outras matrizes latinas e até vocábulos do […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 10h18 - Publicado em 1 nov 2011, 12h58
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Terminadas as férias do colunista, parece apropriado retomar essa conversa metalinguística – em que palavras são empregadas para falar de… palavras – a partir da significativa história do termo trabalho.

    Publicidade

    Durante muito tempo, os etimologistas tiveram alguma dificuldade para admitir o óbvio, refugiando-se em hipóteses obscuras que envolviam outras matrizes latinas e até vocábulos do gaélico (!) e do címbrico (!!). A verdade pouco palatável é que, como o francês travail, o espanhol trabajo e o italiano travaglio (este, o que mais conserva o tom sombrio do termo original, deixando para lavoro os significados mais amenos), trabalho é um descendente direto da palavra latina tripalium.

    Publicidade

    E o que era o tripalium? Um instrumento composto, como o nome indica, de três paus, mais precisamente três estacas que, fincadas no chão para desenhar os vértices de um triângulo, se encontravam no alto. A essa estrutura se prendiam pessoas para serem martirizadas.

    Isso mesmo: por mais que tal ideia revolte uma sensibilidade moderna, o antepassado daquele que “enobrece e dignifica o homem” era um instrumento de tortura. A punição e o suplício estão intimamente ligados ao trabalho.

    Publicidade

    Quando o verbo trabalhar desembarcou primeiro numa língua românica – no francês do século 12 – as ideias que expressava eram duas: submeter a padecimentos físicos ou morais e sofrer terrivelmente (vem daí a expressão “trabalho de parto”).

    Continua após a publicidade

    Já estavam lá, portanto, as duas linhas de força, a ativa e a passiva, que teriam papéis complementares na evolução semântica da palavra. Trabalhar era padecer, extenuar-se, acabar-se na labuta, como faziam escravos e condenados. Era também exercer uma ação – modificadora e, por metáfora, torturante – sobre a terra, os alimentos, os animais.

    Publicidade

    Para que fossem surgindo gradualmente as acepções modernas, positivas e relativamente indolores ligadas ao exercício de uma profissão, porém, seria preciso esperar alguns séculos. Data de 1600, segundo o Trésor de la Langue Française, o primeiro registro de travail como “atividade profissional cotidiana necessária à subsistência”.

    Não por acaso, a evolução semântica do trabalho caminhou paralelamente à ascensão da visão de mundo burguesa, que o valoriza, e ao declínio dos modelos econômicos baseados na escravidão e na servidão.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.