Despautério, vocábulo sonoro de sabor antiquado, sempre foi uma das minhas palavras preferidas para designar um disparate, um contra-senso, um despropósito, algo que ofende a razão ou o bom senso. O fato de vivermos num país em que despautérios dão mais que maria-sem-vergonha é um estímulo permanente ao enriquecimento do vocabulário no campo semântico dos absurdos.
Assim, foi com grande prazer que um dia esbarrei por acaso na etimologia de despautério. Tão saborosa quanto aquelas historinhas românticas que tantas vezes passam por verdadeiras, mas são autênticos despautérios, esta é considerada irrepreensível.
Dicionarizada pela primeira vez por Cândido de Figueiredo em 1899, a palavra proveio de Despautère ou Despauterius, conforme se considere a versão afrancesada ou latinizada do nome do gramático flamengo J. van Pauteren, autor de um livro de 1537, Comentarii gramatici, que gozou de grande difusão na Europa entre os séculos 16 e 17, mas era uma obra “confusa e rica de dislates”, segundo o Houaiss. Para a Larousse, citado por Silveira Bueno, o homem era “difuso, obscuro e cheio de declamação”.
Resumindo: Despautério era um gramático enrolado e meio cretino. Apropriado, não?