Não, ninguém tem a menor dúvida sobre o significado de idiota, que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, transformou na palavra da semana em discurso polêmico. “Diz-se de ou pessoa que carece de inteligência, de discernimento; tolo, ignorante, estúpido”, ensina o Houaiss. “Pouco inteligente, estúpido, ignorante, imbecil”, reforça o Aurélio.
A questão é saber a quem – dentro do próprio governo a que pertence, como parece provável – Jobim dirigia palavra tão dura. E no plural.
Nesta coluna, o que interessa é a palavra em si, que importamos do latim no século 15 já com o sentido atual. É curioso observar, porém, que o grego idiotes, onde o idiota tem suas raízes profundas, tinha significado diferente: era o leigo, o plebeu, o “homem privado” (em oposição ao homem público, instruído, socialmente atuante). O que, se não chegava a ser um elogio, tinha carga negativa muito menor do que aquela que o termo acabaria por ganhar no latim.
Esse sentido de “privado, particular, fechado em si” que está contido no grego idiotes é a marca genética do parentesco de idiota com palavras aparentemente muito distantes, como idioma e idiossincrasia. Antes de adquirir a acepção – por provável influência do francês ou do italiano – de “língua falada por um povo”, idioma foi sinônimo de estilo próprio, característica pessoal de expressão. E idiossincrasia, como se sabe, é uma característica peculiar de comportamento.
Resta decidir o que, e por qual idiossincrasia, idiota significa no idioma de Nelson Jobim.