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Sobre Palavras Por Sérgio Rodrigues Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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‘Eu tinha chegado’ ou ‘eu tinha chego’?

“Ouço muito essa frase, mas confesso que ela me causa dúvidas: o certo é ‘eu não havia chegado’ ou ‘eu não havia chego’? O termo chegar, nos dois casos, acaba soando estranho, mas um deles estaria correto?” (Luana Teixeira) Sem dúvida, Luana: o correto é “chegado”, o único particípio do verbo chegar que a norma […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 02h25 - Publicado em 25 dez 2014, 10h00
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  • “Ouço muito essa frase, mas confesso que ela me causa dúvidas: o certo é ‘eu não havia chegado’ ou ‘eu não havia chego’? O termo chegar, nos dois casos, acaba soando estranho, mas um deles estaria correto?” (Luana Teixeira)

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    Sem dúvida, Luana: o correto é “chegado”, o único particípio do verbo chegar que a norma culta admite no Brasil e em Portugal. Existem verbos de duplo particípio, chamados abundantes, como aceitar e gastar (leia mais sobre eles aqui), mas chegar não pertence ao clube.

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    O particípio “chego” é uma criação popular documentada por linguistas em diferentes regiões de nosso país, em frases como “Na hora da briga, eu ainda não tinha chego”. Em versão substantivada também tem forte presença na língua oral informal, numa expressão como “dar um chego”, isto é, “dar um pulo, uma passada” em algum lugar. Mesmo assim, “chego” não encontra acolhida entre os gramáticos nem tem tradição de uso pelos ditos “bons autores”.

    Caso semelhante e também condenado na norma culta é o de “trago”, particípio informal de trazer, de uso igualmente corriqueiro em frases como “Perguntei se ela tinha trago (por ‘trazido’) o presente”. Registram-se outras criações populares parecidas, ainda que menos disseminadas, como “perco” (particípio de perder) no Brasil e “caço” (particípio de caçar) em Portugal.

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    Vale notar que existe uma regularidade na formação desses “particípios irregulares” sem pedigree: como ocorre com os (legítimos) “aceito”, “gasto”, “pago” e outros, a forma do particípio popular coincide com a do presente do indicativo da primeira pessoa do singular: eu chego, eu trago, eu perco, eu caço…

    Não é improvável que, com o tempo, algumas dessas formas emergentes acabem encontrando abrigo na língua culta. O mundo dos particípios irregulares sempre conviveu com uma boa dose de instabilidade. “Pego”, particípio irregular do verbo pegar, é aceito pelos gramáticos no Brasil, mas não em Portugal. Pode ser que um dia “chego” siga os passos de “pego”, mas, enquanto isso não ocorrer, Luana deve escrever “Eu não havia chegado” – e fim de papo.

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    Publicado em 8/9/2014.

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