Lobby, aquilo que em última análise derrubou Erenice Guerra da Casa Civil, sempre foi uma palavra cercada de sentidos escusos. Ou melhor, nem sempre: quando se limitava ao campo semântico da arquitetura e queria dizer apenas vestíbulo amplo, salão situado na entrada de um prédio público, o termo inglês lobby era moralmente neutro, além de vetusto – um filho do latim medieval laubia ou lobia, “área coberta diante de um monastério”. Só mais tarde ele ganharia a acepção que o Houaiss registra como “atividade de pressão de um grupo organizado (de interesse, de propaganda etc.) sobre políticos e poderes públicos, que visa exercer sobre estes qualquer influência ao seu alcance, mas sem buscar o controle formal do governo”.
Os dois sentidos de lobby são menos desconectados do que parece. O primeiro deu origem ao segundo por metonímia: já em 1808, era registrada pela primeira vez por um dicionário americano a acepção de atividade exercida por aqueles cidadãos que se aglomeravam no lobby das casas legislativas à espera dos políticos que saíam do plenário, em busca de um corpo a corpo que fizesse avançar na esfera pública a causa de interesses privados. A palavra desembarcou no Brasil em algum momento do século 20 (o Houaiss não sabe precisar qual), mas isso não significa que não existisse antes como prática sem nome.
De lá para cá o lobby cresceu, profissionalizou-se, virou uma indústria. Não à toa, uma das primeiras medidas de Barack Obama ao ser empossado, em janeiro do ano passado, foi impor restrições à forte cultura lobística americana, numa tentativa de criar maior transparência na administração pública. Vale lembrar que lobby não é sinônimo de atividade escusa. No entanto, como uma zona de fronteira não institucionalizada entre a esfera pública e a esfera privada, suas áreas de sombra são terreno fértil para o crescimento de pragas como tráfico de influência, compra e venda de favores, propinas – numa palavra, corrupção.